Há alguns anos, cunhamos a expressão “pedagogia colonial” para, simplificadamente, descrever os conjuntos de mensagens, de diferentes origens, que eram absorvidas pelos cérebros das pessoas e condicionavam e conduziam, ao longo de toda existência, de modo inconsciente, suas atitudes, seus pensamentos e comportamentos, de acordo com os interesses das grandes corporações financeiras que, controlando o dinheiro, controlavam a vida material e espiritual das pessoas e dos países.
A pedagogia colonial se altera, conforme o poder que lhe alimenta, e, também, com os avanços tecnológicos. Na Idade Média, sem livros impressos, sem outra divulgação que não fosse o corpo e a fala, a pedagogia colonial, de interesse dos donos de terras, entre os quais estava a igreja, era construída dentro da própria família, pelas palavras, atos, vestes, alimentos, e pela pregação dos padres, dos religiosos. Portanto, a sofisticação das mensagens não passava das construções dos vernáculos e algumas mortes, para recalcitrantes.
Hoje, com a proliferação das mídias, a pedagogia colonial lhes chega até em sonhos, ou pesadelos, que se criam das imagens e fantasmas com que se nos depara a vigília.
Alguém poderia entender a pedagogia colonial como um processo de socialização das pessoas. Mas há um fosso entre esta percepção e a realidade; a pedagogia colonial doutrina, ela impede a formação de um pensamento próprio, ela subjuga o corpo e a alma ao poder como necessário e inevitável. Não há instrução e muito menos paideia, a formação integral do ser humano, como seria de supor pelo substantivo "pedagogia". O que existe é o adestramento, de modo a naturalizar uma dominação exercida contra as nações e contra os demais círculos sociais onde as pessoas formam seu caráter e sua personalidade.
Estamos a um ano das eleições que poderão mudar os executivos e legislativos nacionais e estaduais. Logo, o poder vigente estará ainda mais atento, e seus executores bastante atarefados com as doutrinações que devem oferecer e convencer ou aprofundar aos eleitores.
O poder vigente, desde a última década do século passado, é o financeiro, sua ideologia é a neoliberal, e seu objetivo final é a eliminação de 70 a 75% da humanidade e a máxima concentração de renda. Este poder, embora gostasse de já ter alcançado sua meta, compreende que ela será gradativa e, com muita oposição, poderá ser atingida ou não?
Cuidemos de alguns aspectos que já correm pelas mídias, com os mais audaciosos lacaios propagadores da pedagogia colonial: o fim do Estado Nacional e a invasão do País pelas drogas.
Compreendamos bem os objetivos e como podem ser atingidos.
A eleição do capitão de pijama, absolutamente incapaz de administrar um condomínio, o que dirá o Estado Nacional, não foi um acaso. Estava no projeto de destruição do Estado Brasileiro.
E ele está se desincumbindo a contento, ainda que deixando muitos queixosos pelo caminho. Alguém mais tarimbado, com o cinismo, a ambivalência de Fernando Henrique Cardoso (1931) que, ao tempo que agia para o desmonte e destruição do Estado Nacional Brasileiro, discursava sobre quanto o estava melhorando, dando-lhe mais vigor e efetividade, hoje, nesse momento, de crise profunda e desinteresse dos eleitores, seria ótimo, mas, até agora, ainda não nos foi revelado, não se tirou este coelho da cartola.
Pela nossa limitada informação, ele já está escolhido, só não foi ainda exposto para não se desgastar ao longo dos 365 dias. E deverá ser trabalhado para que surja como fruto da aspiração espontânea da classe média, esta categoria, arrogante e estulta, eternamente colonizada, sempre apoiando, na quase totalidade, os poderes, em especial os mais cruéis, porém nunca os que realmente melhoravam a vida dos mais pobres, construíam a cidadania.
Analisemos por parte. Primeiro o fim do Estado Nacional.
Antigos liberais já estabeleciam a antinomia Estado-indivíduo, repetida ad nauseam e sem reflexão, por todos divulgadores da pedagogia colonial. Colocamos como primeira questão: é o Estado inimigo do cidadão? Veja-se que já introduzimos um novo conceito, não é um indivíduo indefinido, impessoal, quase uma ficção. Tratamos das pessoas que habitam um território, com mesma identidade de todas as demais habitantes do mesmo território. Este circunscrito, definido por conquistas e culturas, aceitas pelos vizinhos e por consenso entre outros Estados.
Na concepção sistêmica há o conceito de autopoiese, que trata exatamente da construção do sistema pelos seus elementos, num processo dialético e contínuo de relacionamento dos componentes. Em outras palavras, o Estado se forma pela relação entre os habitantes e a natureza cujo espaço abriga. Corolários deste entendimento temos a homeostase, a entropia, o ruído e um conjunto de códigos. Ou seja, desenvolvemos e encontramos as ferramentas construtoras e reformadoras do Estado.
Em simples e única conclusão: cidadãos e Estado se formam e se completam, interagem. Não se opõe. O Estado, sendo a representação institucional da sociedade, é a própria forma política da Nação, assim como os governos e a administração pública, instrumentos, por excelência, da ação coletiva, são os meios pelos quais a cidadania ganha substância, seja por meio dos serviços públicos, seja pela orientação geral dos rumos sociais.
Também não cairemos na falsa identidade do organismo social com o organismo biológico. A fisiologia nacional é diferente da biológica, pois, enquanto o corpo biológico é composto de células e órgãos, a Nação é composta por cidadãos, por pessoas, imbuídas, ou ao menos assim deveria ser, de autonomia moral. São falácias que a pedagogia colonial, tomando partes pelo todo, muitas vezes colocam como argumento para plateias menos preparadas.
Qual uma consequência imediata deste entendimento? Que todo Estado é Nacional. Não há um Estado Global, Mundial, mas, no máximo, uma organização de Estados Nacionais para análise de questões que podem afetar todo Planeta. E esta organização será tão mais forte e eficaz quanto mais soberanos forem os Estados, e estes mais representativos de seus cidadãos. Daí tratarmos do nosso Estado Nacional Brasileiro, único, distinto de todos demais.
Acaso o leitor lê, vê, ouve, pelas mídias, compreensão semelhante? Claro que não, pois toda pedagogia colonial é dogmática. Não podendo ser confrontada, não tendo argumentos para se impor, só lhe resta a força do dogmatismo e, falhando este, da repressão. Podemos concluir, nesta primeira consideração, que a pedagogia colonial é inimiga da própria humanidade; deste homem “indeterminado e indefinido” que finge defender e proteger.
Uma dramaticidade dos neoliberais no poder é não terem como cumprir suas promessas, não pela falta de competência para tocar seus projetos, mas pelo caráter utópico e irrealizável deles, calcados na abstração do "livre-mercado", que, ignorando a complexidade social e existencial, entendendo a sociedade como um agregado apolítico de indivíduos meramente utilitaristas, jamais pode ser plenamente alcançado, por mais que se envidem esforços para tanto.
Por isso, a busca por culpados passou a ser verdadeiro projeto de governo. Do capitão ao estafeta, todos precisam exibir culpados: para a proposital condenação a morte, aproveitando a epidemia, o culpado é o vírus chinês e aquele país. O governo Bolsonaro, seguidor fanático do dogma não intervencionista da ultraliberal Escola Austríaca - jamais aplicada na Áustria e nem em qualquer outro país com patamares dignos de organização nacional -, torna-se, em consequência de sua ideologia, um não-governo, pois um governo que se nega a exercer capacidade executiva para proteger e promover seu país não pode ser considerado, de fato, um governo.
Para o projeto de alienação da energia para o povo e para desenvolvimento nacional, são a Petrobrás (que se “deseja” sepultar), o câmbio e os gastos, não se sabe quem neste desemprego e subemprego pode viajar e consumir para inflá-los, e, quando fica muito difícil encontrar a vítima, têm os eternos culpados: o comunismo, o populismo, a corrupção, como se as finanças, em alguma época, jamais tivessem sido probas e éticas.
Jean-Marc Daniel (1954), francês, professor de economia, em “Oito Lições de História Econômica”, narra a construção das pirâmides, para que os faraós dispusessem de magníficos túmulos e, “keynesianamente”, gerassem trabalho para a população cada vez mais numerosa. Mas a consequência foi o “golpe nas finanças públicas” que ficaram reféns do capital financeiro, prestamista, que as chantageava com a dívida. Vê-se, portanto, caro leitor, que a finança sempre aproveitou a necessidade, objetiva e vital ou idealizada e ostentatória para dominar, assumir o controle, o poder.
A falácia do fim do petróleo objetiva se desfazer mais rapidamente da Petrobrás. “E se daqui a 10 ou 20 anos, o mundo inteiro migra para hidrogênio e energia nuclear, abandonando o combustível fóssil. A Petrobras vai valer zero daqui a 30 anos” (Paulo Guedes, O Estado de S. Paulo, 25/10/2021).
O engenheiro químico Felipe Coutinho, ex-presidente e atual vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), cunhou a expressão “energias potencialmente renováveis” para as obtidas da biomassa, dos ventos, da luz solar pois todas elas só se produzem com a ajuda do petróleo, da energia fóssil.
Analisemos este fim do petróleo com dados, não com dogmas, ao modo neoliberal. Há o indicador R/P, que todos que trabalham com petróleo conhecem, que significa o tempo de esgotamento da reserva de petróleo. Ele divide o volume existente nos reservatórios de petróleo na subsuperfície pelo consumo de um ano: reserva (R) dividida pelo consumo anual (P). Em 2019 este indicador mostrava 50 anos de vida do petróleo.
Mas há outras questões técnicas relevantes para esta análise. A primeira diz respeito à quantidade de petróleo que se obtém de um reservatório. O petróleo impregna as rochas do reservatório que tem porosidades, permeabilidades distintas e o próprio óleo fluidez variável. O fator de recuperação (FR) vai indicar que percentagem do petróleo existente no reservatório, com a tecnologia de produção disponível, se pode extrair. Este fator, pelos anos 1970, variava em torno dos 35%. Já no entorno de 2000 está em 70%. Portanto, apenas com novas tecnologias para extração, dobrou-se a quantidade de petróleo disponível; como se descobertos tantos reservatórios quanto os existentes há 30 anos.
Mesmo que o progresso tecnológico neste setor não tenha o mesmo ritmo de sucesso, não é difícil calcular que nos próximos 30 anos, portanto antes do fim previsto pelo R/P, ele aumente 10 a 12%. Ou seja, os 50 anos podem passar a 60 sem qualquer descoberta. Mas estas também continuarão, como o pré-sal no Brasil. E atingindo bacias que, até hoje, não se mostraram produtoras pela falta de informações. E os avanços da sísmica, da petrofísica, novas interpretações geológicas, poderão revelar reservatórios no paleozoico amazônico, nas estepes siberianas e outras áreas até então pouco avaliadas, como as águas ultraprofundas só agora possíveis, graças ao nível tecnológico atingido exatamente por quem estes governantes querem destruir: a Petrobrás.
Arriscaríamos com muita convicção afirmar que por um século o petróleo continuará se impondo na matriz energética mundial, onde hoje representa 31,5%, e somado ao gás natural atingem 54,3%, ou seja, o petróleo sob a forma líquida ou gasosa é maior fonte de suprimento de energia do Planeta. Isso não se acaba do dia para noite, nem há interesse econômico e político que ocorra. Só nos dogmáticos neoliberais, movidos pelo interesse de subjugar totalmente o poder produtivo.
Voltemos, então, para o Estado Nacional Brasileiro, vítima dos neoliberais que ocupam o poder no Brasil desde 1990.
Com as desregulações no Reino Unido e nos EUA, ao longo dos anos 1980, quem melhor se aproveitou foram os capitais marginais.
Denominamos capitais marginais àqueles oriundos de atos criminosos ou contrários à humanidade, tais como, das drogas, do tráfico de pessoas de todos os sexos e idades, de órgãos humanos obtidos criminosamente, da prostituição, do contrabando de armas e produtos proibidos, por razões sanitárias e culturais em diversas partes do mundo, e da corrupção, onde o neoliberalismo, com cinismo, é quem mais pratica. Ou nosso leitor ainda se ilude com a Lava Jato, um projeto de poder e de golpe, planejado, financiado e aplicado a partir do Departamento de Justiça dos EUA, com auxílio da Agência Central de Informações (CIA) daquele país.
Pois as drogas estão hoje no poder, com os neoliberais. Pelas igrejas neopentecostais, que realizam a lavagem de dinheiro, pelos contrabandos nas fronteiras e nos aeroportos, com a corrupção dos agentes que deveriam reprimir o tráfico, e pelas próprias autoridades policiais e militares, que longe de reprimir auxiliam na proliferação de consumidores. Ou ainda acham que foram casos isolados a presença de drogas em aviões militares, inclusive num destinado à Presidência da República?
Portanto, somando à propagação e às mais de 610 mil mortes pelo covid, ao decréscimo da produção industrial, ao desemprego, especialmente para as ocupações de maior exigência e habilitação profissional, à miséria que se alastra pelo país, ao descaso com a educação, ao aumento dos sem teto, e todo este rol de desgraças inimagináveis em um País tão rico em recursos naturais quanto o Brasil, temos como cereja no bolo o aniquilamento, o desfazimento do Estado Nacional Brasileiro.
E tudo isso estará posto a sua decisão em outubro de 2022, especialmente na renovação dos legislativos que as mídias procurarão ocultar, fazer afundar, deixar intocável. Não aceitem dogmas, de espécie alguma, mas explicações detalhadas, consistentes com fatos, ou vocês estarão se fechando numa bolha plena de “besteiras de dar com pau, asneiras de duas arrobas”, como se referia Emília, Marquesa de Rabicó, imortal criação do genial Monteiro Lobato (um comunista?).
Felipe Maruf Quintas, doutorando em ciência política, e Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.