Domingo, 26 de Setembro, portugueses, açorianos e madeirenses dirigem-se às urnas para eleger os representantes do Estado que mais contacto directo têm com os seus cidadãos. Estas, a par com as Europeias, são as eleições que mais importam!
Flávio Gonçalves, Pravda.ru
Há muito que alerto para a verdade incómoda de que as Legislativas contam cada vez menos para as políticas dos países europeus sendo que todos os limites e directivas de governação nos chegam de um Conselho Europeu que há muito devia ter já transformado a União Europeia numa real federação de Estados, com um governo federal europeu, um Exército europeu, uma política económica comum, um fundo de pensões comum e até um Ordenado Mínimo Europeu que finalmente equiparasse todos os países membros da União Europeia, ou pelo menos os com moeda única.
Assim sendo, alerto sempre que no Parlamento Europeu devemos ter os nossos quadros políticos e técnicos mais bem preparados, pois tudo o que defendemos para Portugal e para a qualidade de vida dos portugueses mais facilmente será ali aprovado do que aqui. As eleições Europeias deviam ser das mais participadas e disputadas, mas como vimos são as que menos dizem ao povo e aos partidos cá do burgo, que boas vezes as aproveitam para mandar lá para fora vozes que cá lhes podem ser incómodas (caso de Ana Gomes no PS e Paulo Rangel no PSD, só para exemplificar).
Outra das eleições a que atribuo uma importância vital para a democracia e bem estar dos nossos cidadãos são as Autárquicas, pois são os autarcas – onde me incluo ainda até dia 26 – aqueles que são o rosto mais humano do Estado português, aqueles que lidam directamente com o povo, aqueles a quem este se dirige facilmente quando tem preocupações que lhe dizem directamente respeito. E Portugal, diga-se já, tem autarcas muito bons. Nem todos, mas a esmagadora maioria.
Durante quatro anos fui autarca do Partido Socialista, com muito orgulho. Conheci em primeira mão as limitações e a falta de reconhecimento que recaem sobre os autarcas deste país e testemunhei em assembleias de freguesia e assembleias municipais o desinteresse da direita por aquilo que considera como pequena política, uma vez que a direita portuguesa – do seu sabor mais liberal, passando pelo centro e acabando na extrema-direita – se julga ungida por Deus para guiar os destinos do país e considera o poder autárquico e a sua participação nele como mero incómodo obrigatório.
A minha ruptura com as direitas culminou em Março de 2014, quando dediquei um elogioso obituário ao estimado conterrâneo José Medeiros Ferreira, meu conhecido pessoal e leitor habitual do extinto blogue “Admirável Mundo Novo” - animado por mim, partilhando ele com Joana Amaral Dias o então popular “Córtex Cerebral”. Nesse obituário fazia uma análise a todos os militantes do Partido Socialista que conhecera ao longo da vida, tanto nos Açores como na minha migração para Lisboa, e como em contraste com quase todos os militantes e activistas das direitas que conheci em primeira mão ao longo de décadas, os socialistas se destacavam pela sua qualidade pessoal. A esmagadora maioria dos que conheci, ainda antes de ingressar eu próprio no PS, eram e são gente genuinamente boa com vontade de ajudar a melhorar a vida do próximo.
Estando o PS com menos um grande açoriano, um dos seus maiores, nesse mesmo ano senti ser meu dever juntar-me oficialmente à luta à sombra do seu legado (progressista e federalista) e em Novembro de 2014 já era eu socialista de cartãozinho, peso embora ter vindo a colaborar estrategicamente com militantes do PS desde 2008, sendo que o extinto Partido Democrático do Atlântico – do qual fui dirigente no território continental – nos seus últimos e efémeros anos se limitou ou a apoiar candidatos do PS ou a colocar nas suas listas ex-deputados do PS caídos em desgraça, casos de Paulo Casaca e Pedro Baptista.
Desde então, tenho testemunhado directamente que a esmagadora maioria dos autarcas e militantes do PS vêm por bem e são gente dedicada e esforçada. A precisar urgentemente de formação política e ideológica é certo, há décadas descurada pelo PS devido ao grave erro do centrismo e da Terceira Via adoptados pelo aparelho repleto de quadros técnicos em vez de quadros políticos, mas mesmo assim com o instinto de querer uma maior dignidade e justiça social para todos os portugueses. Pode ser que com Pedro Nuno Santos... veremos, ainda é cedo.
E digo-vos mais, essa gente merece o vosso voto! Não só na Amadora, onde termino agora o meu mandato como membro do Executivo de uma junta, mas também em Lisboa, Sintra, Santarém, Arruda dos Vinhos, Porto, Loures, Bobadela, etc., com cujos militantes e autarcas tenho caminhado lado a lado, ombro a ombro, numa luta cada vez mais difícil onde a comunicação social do sistema se alinhou definitivamente com a direita mais capitalista, autoritária, déspota e desumana de que há memória.
Vou agora cometer aqui uma heresia, não vou apelar ao voto útil no PS. Dia 26 vou votar no Partido Socialista por achar que é esse o projecto mais viável para o meu município, a Amadora. Tenho a garantia acrescida de conhecer todos os candidatos ao Executivo camarário e me merecerem a maior das confianças, sei que darão o seu melhor e que querem o melhor para os amadorenses, há ali um projecto de futuro. Vivo há 15 anos na Amadora e saltam à vista os melhoramentos constantes, a passo e passo. Desde 2002 vivi em muitos municípios, e creio que só quem nunca tenha saído da Amadora não esteja ciente da qualidade de vida que aqui temos.
Dito isto, repito que não irei apelar ao voto útil no PS. Sendo eu militante do PS, sou também activista, socialista libertário e cúmplice do combate pela plena adopção do socialismo na minha vida pseudo-intelectual, editando livros, revistas, sendo dirigente associativo e activista em várias associações e causas nas quais a esmagadora maioria dos restantes activistas são do PCP, PEV, BE, Livre, MAS ou MRPP, ou não têm sequer partido.
Sou geringoncista de alma e coração, convicto, estou ciente que só as esquerdas unidas poderão travar o mal que aí vem, não vejo nos partidos à esquerda do PS inimigos, vejo concorrentes e futuros aliados com quem se pode conversar e chegar a acordo, pese embora o ocasional excesso de retórica ofensiva tanto da nossa parte (PS) como da deles. Por isso, caso não lhe agrade o programa do PS na sua junta ou câmara, vote à esquerda! Verá que não se arrepende.
Flávio Gonçalves
Exclusivo Pravda.ru
Flávio Gonçalves é cronista, crítico e difusor literário na edição em língua portuguesa do jornal digital Pravda.ru, diretor da revista "Libertária", editor, tradutor, autarca, membro do Conselho Consultivo do Movimento Internacional Lusófono, sócio fundador do Instituto de Altos Estudos em Geopolítica e Ciências Auxiliares, activista do Conselho Português para a Paz e Cooperação e das campanhas internacionais Tirem As Mãos da Venezuela e Hands Off Syria Coalition, é colaborador do Centre for Research on Globalization (Canadá) e do Center for a Stateless Society (EUA), ex-jornalista na revista "Your VIP Partner" e no semanário "O Diabo", pode apoiar o seu trabalho via Patreon.com/LibertariaPt e segui-lo em Twitter.com/Flagoncalv.