Até quando abusarão da nossa paciência
Claudio da Costa Oliveira, competente e talentoso economista, Diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), nos brinda, sob codinome de Doroteu Satúrnio, com o livro “A Segunda Privataria Como o Partido dos Trabalhadores - PT iniciou a destruição da Petrobrás” (Altadena Editora, RJ, 2021).
E, na capa do livro, a citação latina “est modus in rebus”, cuja melhor tradução ouvi, há quase 70 anos, na Faculdade Nacional de Direito (FND): devagar com a louça. E me inspirou, para título deste artigo, a conhecidíssima citação do orador romano Marco Túlio Cícero (106 a.C - 43 a.C.): "Quosque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”.
Pois é, até quando neoliberais e liberais que, por quase toda nossa história, governaram o Brasil, continuarão a nos explorar colonizadamente, deixando um mínimo para sobreviverem, aqueles estritamente indispensáveis para manutenção da máquina de transferência da riqueza nacional para o exterior funcionando.
No livro do Claudio Oliveira, fartamente documentado e demonstrado, estão não só as falácias habituais da desacreditada imprensa, que ecoa a pedagogia colonial, sem qualquer pudor nem receio de represália, mas as contraditórias, incompatíveis ações do PT, no palanque, na oposição e quando no governo.
O brilhante doutorando Felipe Quintas levantou a hipótese, muito factível, que as finanças, que ficaram à sombra no golpe de 1964, estariam preparando a “redemocratização”, para irem mais profundamente à conquista do poder, no Brasil.
Realmente, a luta pela democracia parece ser necessária apenas para a mais ampla liberdade das finanças subtraírem tudo o que aqui existe: natural ou construído, cultural ou insciente, transcendente ou material. Pois elas estão nas matas, nas refinarias, na música e na subsistência, nas pentecostais e nos bancos. E apenas elas, as finanças, os gestores de ativos.
Vão muito mais longe do que os poderes constitucionais, como Claudio Oliveira exemplifica com a ação tentacular da Shell, no Brasil. Naqueles tempos da FND, a figura do polvo estava associada a outra das sete irmãs, a Esso, hoje Exxon; já superada pela Shell, no Brasil. Mas uma tanto quanto a outra apenas sugavam nossos patrimônios, fossem qual fossem as origens.
E, acreditem caros leitores, não é um entusiasmo redacional, hoje as finanças estão intimamente envolvidas com os capitais marginais: das drogas, dos contrabandos, de toda sorte de corrupção e outras ações criminosas. Vejam a corrupção da própria lava-jato, muitas vezes superior aos milhões de dólares que levaram meia dúzia de ladrões de galinha à prisão.
“O que é roubar um banco comparado a fundar um?”, na frase do dramaturgo alemão Bertholt Brecht (1898-1956). Avaliem, e Claudio Oliveira vos auxilia nesta faina, o que a lava-jato, direta e indiretamente, levou do patrimônio nacional. Ou teria alguma razão o Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América (EUA) e outros órgãos estadunidenses se imiscuírem tanto e tão profundamente num processo, de uma vara da justiça federal, numa cidade do interior do Brasil?
Neste livro fica patente que todo esforço da equipe altamente qualificada de profissionais e técnicos da Petrobrás, que produzem do pré-sal a US$ 2,50/barril, serve apenas para o lucro das petroleiras estrangeiras e seus grandes acionistas, os fundos gestores: Vanguard, State Street, Fidelity, Wellington, JP Morgan, Franklin, Capital Research etc.
Doroteu Satúrnio demonstra que depois da privataria tucana, veio a privataria petista e nos encontramos, hoje, na privataria bolsonária.
Nem todos enchendo seus próprios bolsos, mas todos, sem exceção, colaborando para a alienação do patrimônio brasileiro, para este imenso assalto que se pratica contra o povo e o Estado brasileiro.
E deixa a mensagem: quem erra e não se arrepende nem Deus perdoa.
Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.
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