O Presidente do Brasil faz um novo apelo extremista
Iraci del Nero da Costa *
O presidente Jair Bolsonaro, conhecido por seu extremismo de direita, voltou a efetuar um apelo de caráter golpista. Desta vez, discursando no Estado de Roraima, em escala de sua viagem aos EUA, ele chamou seus apoiadores a que se dirijam para as ruas comparecendo no ato de protesto programado por entidades de direita que o prestigiam.
Ora, o objetivo central de tal mobilização é, na verdade, o de estabelecer uma dura crítica aos poderes Judiciário e Legislativo propondo, inclusive, a supressão destes dois componentes básicos da democracia. Como observado por jornalistas: "As manifestações são organizadas por ativistas conservadores e têm bandeiras como a defesa do governo e das Forças Armadas, além de fortes críticas ao Congresso. Nas redes, há algumas convocações de caráter autoritário, pedindo o fim do Legislativo e do STF (Supremo Tribunal Federal). "(1) Tal movimento, como lembrado por outro jornalista, "tem sido mais evidente entre youtubers pró-Bolsonaro, com referências ao fechamento do Congresso e do Supremo e à intervenção das Forças Armadas. ... Dono do Canal Universo, Roberto Boni é um dos mais explícitos na defesa de um golpe sem meias palavras. 'Chega, presidente Bolsonaro. Não aceite mais isso. O sr. não deve atender a essa gente [Congresso]. O sr. é o chefe das Forças Armadas, pode muito bem resolver essa parada de vez, porque a nação está com o sr., cobrou, em vídeo de 25 de fevereiro. Boni... diz que o povo não quer apenas o fechamento do Congresso e do STF. Quer a sua 'inexistência'"(2)
Ao comportar-se como descrito acima o presidente coloca-se ao lado de seus partidários que propõem um golpe de Estado visando a eliminar o Congresso e o STF de maneira a tornar efetivo o estabelecimento, no Brasil, de uma ditadura de direita.
A nosso ver tal postura do presidente não objetiva, tão somente, a conclamar seus adeptos, pois vai mais longe do que um mero chamamento; sua pretensão, na realidade, é a de provocar os dois poderes nacionais de sorte a fazê-los dirigir-lhe duras críticas ameaçando-o com medidas severas. Caso isso viesse a acontecer os atos programados por seus partidários, imagina o presidente, não só alcançariam um maior número de participantes mas também os próprios poderes atacados sofreriam uma generalizada ojeriza e repulsão por parte da grande maioria da população brasileira, pois estaria evidenciado que tanto o Congresso como o STF estariam a tentar obstaculizar as ações do Executivo posto sob o comando do presidente Bolsonaro.
Esta nossa opinião vê-se corroborada pela atitude dos mandatários do Legislativo e do Judiciário os quais já deixaram claro que não virão a se pronunciar de modo a utilizarem termos demasiadamente severos; tal assertiva viu-se consignada pelos jornalistas já citados: "... as frases de Bolsonaro ... irritaram os comandos do Legislativo e do Judiciário. ... Avaliam, porém, que não se pode cair na 'pilha' do presidente e responder à atitude do mandatário incisivamente. ... Iniciar um bate-boca com o presidente agora em virtude da convocação, avalia a cúpula do Congresso, poderia apenas instigar mais ainda a população contra o próprio Congresso e aumentar a mobilização. ... No STF, ministros avaliam que o ideal é não alimentar o que consideraram uma provocação de Bolsonaro."(3)
* Professor Livre-docente aposentado.
NOTAS
1. CARVALHO, Daniel, CHAIB, Julia & CARAM, Bernardo. Bolsonaro faz convocação para ato e gera indignação de Congresso e Supremo. São Paulo, Caderno Poder da Folha de S.Paulo, 8 de março de 2020, p. A4.
2. ZANINI, Fábio. Protesto estimula youtubers de direita a pedir ação militar. São Paulo, Caderno Poder da Folha de S.Paulo, 8 de março de 2020, p. A4.
3. CARVALHO, Daniel, CHAIB, Julia & CARAM, Bernardo. Op. cit. p. A4.