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Povos indígenas realizam grande mobilização nacional contra municipalização da saúde

Povos indígenas realizam grande mobilização nacional contra municipalização da saúde

Povos indígenas realizam grande mobilização nacional contra municipalização da saúde

Protestos condenam extinção de Secretaria Especial de Saúde Indígena e desassistência em várias regiões do país

Reportagem atualizada às 23:10, de 27/03/2019

Os povos indígenas realizaram, hoje (27), ao longo de todo o dia, uma grande mobilização, em várias regiões do país, contra a proposta do governo Jair Bolsonaro de municipalizar ou estadualizar a saúde indígena. Até o início da tarde, já tinham sido registrados pelo menos em torno de 30 pontos diferentes com passeatas, atos, ocupações e bloqueios de rodovias. Foram realizados protestos em Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Boa Vista, Rio Branco, Manaus, Governador Valadares (MG) e Santarém (PA), entre outras cidades. As BRs 373 e 277, no Paraná; 428, 232 e 110, em Pernambuco; e 116, em Minas Gerais, foram bloqueadas. As manifestações acontecem desde segunda e devem prosseguir até o fim da semana.

Na capital paulista, um grupo de 50 indígenas Guarani, da aldeia Jaraguá, ocupou a Prefeitura em protesto contra o corte no pagamento de funcionários que prestam serviços de Saúde nas aldeias, além de cortes em convênios, falta de medicamentos, transportes e vacinas.

Pela manhã, o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, esteve na Comissão de Assuntos Sociais do Senado e reafirmou que o ministério estuda a possibilidade de transferir a responsabilidade pelo atendimento aos indígenas a municípios e Estados. Ele ressalvou que, no Norte do país, onde há comunidades em locais remotos e de difícil acesso, o governo federal seguiria gerenciando a política. Mandetta criou um grupo de trabalho para discutir o assunto.

Após a sessão da comissão, o ministro confirmou que resolveu fundir a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) à Secretaria de Atenção Primária e que agora o atendimento às aldeias e comunidades indígenas será tratado por uma diretoria. A criação da Sesai sempre foi considerada uma conquista histórica e sua extinção é vista pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) como o primeiro passo para o desmantelamento do subsistema de saúde indígena. A Apib publicou uma nota criticando a medida.

"Estamos protestando em todo o país hoje para reafirmar que não vamos aceitar a municipalização ou estadualização da saúde indígena. Nem vamos aceitar que a Sesai seja transformada em um departamento dentro de uma secretaria de atenção primária", disse Sônia Guajajara, da coordenação da Apib. Ela e outras lideranças estiveram na audiência de hoje no Senado e pediram ao ministro para ser ouvidos (veja vídeo abaixo). A expectativa é de que um grupo de indígenas seja recebido por Mandetta amanhã.

"Em locais como Rio de Janeiro e São Paulo, talvez os indígenas se beneficiem muito mais do sistema de saúde dos brancos", afirmou o ministro. Ele voltou a citar genericamente, sem detalhar casos, indícios de irregularidades, como contratação de funcionários fantasmas e superfaturamento de serviços como o aluguel de aviões, como uma das justificativas para as mudanças no modelo de atendimento. "O sistema tem problema de gestão forte. É culpa do sistema. Não se preocupou em dar transparência. A maioria dos indígenas nem sabe quais os recursos que chegam para o atendimento", questionou.

Lideranças indígenas, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR), a primeira indígena eleita parlamentar do Congresso, retrucaram que concordam com as investigações e a punição dos responsáveis por irregularidades, mas que isso não pode ser usado como desculpa para interromper o atendimento ou desmontar a política de assistência às comunidades. "É preciso separar a bandalheira da questão do tendimento", ressaltou Rodrigues.

O ministro confirmou também que os repasses de verbas para as organizações terceirizadas que realizam o atendimento serão retomados. O ministério havia suspendido, desde janeiro, os pagamentos para pelos menos cinco das oito instituições conveniadas, afetando os atendimentos, sobretudo nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul. A desassistência de várias comunidades - com a falta de pagamento de trabalhadores e de medicamentos, entre outros problemas - é uma das motivações aos protestos de hoje. Henrique Mandetta pediu uma auditoria nos contratos e disse que notificou o Ministério Público Federal (MPF) dos problemas encontrados para que não seja responsabilizado por eventuais irregularidades.

ISA

https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/povos-indigenas-realizam-grande-mobilizacao-nacional-contra-municipalizacao-da-saude

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey