A prisão perpétua de Lula
Quando Lula estava sendo preso no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, se tivesse a chance de lhe dizer uma palavra, eu lhe teria dito: "se você quiser viver e lutar politicamente pelo Brasil, vai para uma embaixada ou outro país e peça asilo político.
Roberto Malvezzi (Gogó)
Quando Lula estava sendo preso no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, se tivesse a chance de lhe dizer uma palavra, eu lhe teria dito: "se você quiser viver e lutar politicamente pelo Brasil, vai para uma embaixada ou outro país e peça asilo político. Se você optar em ir para a cadeia, será um gesto de suprema magnanimidade de sua parte, você se tornará um ícone definitivo para os descartados desse país e do mundo, mas você só vai sair de lá o dia que morrer".
Condenado sem provas por Moro, será condenado também sem provas pelo sítio de Atibaia. Mas, se for necessário para morrer na cadeia, Lula será condenado uma terceira, quarta, quantas vezes forem necessárias para que sua prisão seja perpétua. É um golpe de Estado, é uma justiça política. E agora, o General Villas Bôas afirma claramente que Lula é um preso político do Exército Brasileiro.
O primeiro grupo social a contestar o governo Lula fomos nós aqui no São Francisco, quando sua popularidade estava no auge, em função da transposição de águas do rio São Francisco. Tínhamos outros projetos nas mãos para solucionar de vez o problema da sede humana e animal no Semiárido. Lula, por imposição da aliança com Ciro, optou pela grande obra, que hoje funciona precariamente apenas no Eixo Leste, levando pouco mais de 3 m3 de água por segundo para a Paraíba, como se fosse um canhão para matar um mosquito.
Nas longas conversas com o pessoal do governo sempre dizíamos: "não somos nós os inimigos, nós apenas estamos alertando para um rumo de obra e de governo que um dia mostrará sua insustentabilidade. Os inimigos comem no mesmo prato com vocês".
Porém, aprendemos a valorizar as políticas públicas e sociais que tanto fizeram melhorar a condição de vida do nosso povo no Semiárido, apesar da obra problemática da transposição. E o sertão mudou muito e foi para melhor. O povo reconheceu esses avanços votando massivamente em Haddad.
As circunstâncias históricas mudam, quero estar enganado, mas tudo indica que essa injustiça cruel de sua prisão prosseguirá até que tudo seja consumado.
Assim como Paulo Freire, nem no túmulo Lula terá sossego e será continuamente atacado por seus inimigos. Mas, desses fantasmas a elite brasileira jamais conseguirá se livrar, simplesmente porque se tornaram ícones mundiais da educação e da superação da miséria.
Roberto Malvezzi (Gogó) é bacharel em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. É assessor de Movimentos e Pastorais Sociais.