DIA 20 DE MAIO
"TIMOR HO LARAN TOMAK" (I)
Continuação
Ao terminar a nossa primeira redação do presente tema, "com Timor no coração" escrevíamos "E, porque os tendo no coração, sempre procuramos estar atento aos acontecimentos após o 25 de Abril de 74," voltaremos no próximo artigo para falar sobre os mesmos e, a nossa participação solidária com a luta pela sua Autodeterminação.
Os acontecimentos após o 25 de Abril da 1974 (a guerra civil, o genocídio fratricida do período entre forças políticas antagónicas) a invasão de Timor pela Indonésia com assassinato em massa de crianças, mulheres e idosos, foi como um espinho cravado no nosso coração.
O acompanhamento e a procura de notícias eram uma necessidade que íamos sustentando através dos poucos órgãos de comunicação social que falavam do assunto e de organizações existentes em Lisboa como "A Paz é possível em Timor Leste" e a "Comissão para os Direitos do Povo Maubere".
Que fazer por Timor e pelos timorenses? Como e quando fazê-lo? Era uma questão que se nos ponha e que precisávamos de responder.
7 de Dezembro de 1990 - "TIMOR QUINZE ANOS DE DOR"
É o mote. É a ocasião. É a primeira acção pública promovida por nós apoiado logisticamente pelo PDA - Partido Democrático do Atlântico de cuja comissão política então fazíamos parte.
Nasce o embrião da ASSOCIAÇÂO DE AMIZADE AÇORES -TIMOR.
Daquela altura à data oficial da sua independência e, para além da mesma, foram várias as actividades dentro do espírito que nos norteava e ainda nos norteia: «o nosso desenvolvimento cultural e a prossecução de acções humanitárias de amizade e solidariedade em relação ao Povo de Timor Leste, independentes de quaisquer credos, raças, ou convicções político-partidárias».
Associando o símbolo do CRT - Comunidade dos Refugiados de Timor (que pode ser visto na "Mensagem da Comunidade Timorense em Portugal ao Povo Irmão Açoriano" que nos foi então enviada pela altura da nossa primeira acção em Dezembro de 1990) com o Açor e as Nove Estrelas que simbolizam os Açores, resulta o conjunto que adoptamos para nosso Emblema e Bandeira: «a Ilha de Timor a duas cores, verde e branco encimada por ondas do mar em azul e de um sol nascente em dourado, sobre os quais existe um Açor de cor natural, segurando em suas garras a Cruz de Cristo e, circundado por nove estrelas também douradas»
Como acima dissemos, a partir de 6 de Dezembro de 1990, não deixamos de estar presentes com a organização de diversas acções pró Timor. Fossem manifestações públicas, palestras e exposições ou outras iniciativas, nomeadamente junto de várias escolas e a pedido dos seus conselhos directivos. Onde a figura presente e constante eramos nós que, servindo-nos de diversa documentação recolhida, artesanato de nossa propriedade e imaginação, transmitia a todos o entusiasmo por Timor e o despertar de consciências para a solidariedade necessária para com aquele território e o seu martirizado Povo.
Difícil documentar aqui toda a acção desenvolvida e resultados obtidos, podendo apenas remeter os nossos leitores para a leitura dos jornais locais que tiveram através dos seus jornalistas uma função extraordinária na mensagem e grito de revolta de solidariedade dos Açores para o seu Povo irmão de Timor. Aqui e hoje voltamos a agradecer todo o apoio que tivemos da nossa comunicação social escrita, falada e televisionada. Bem hajam
Conforme atrás referimos, o período entre os dias 6 e 8 de Dezembro foi escolhido para a primeira manifestação pública de repúdio pela situação que os nossos irmãos timorenses passavam e pela demonstração de solidariedade merecida pelos mesmos. Uma onda de gente, repito de "gente" respondeu e disse presente ao nosso grito de revolta e exigência de liberdade e democracia.
Passamos por alguns dissabores, incompreensões e de alguma hipocrisia que embora querendo esquecer, não o podemos fazer. Ameaça de morte por telemóvel? Sim! impossível acreditar. Mas valeu a pena na partilha das lágrimas umas vezes de dor e tristezas e outras de alegria e de emoção.
Vamos fazer mais uma pausa pois os sentimentos exigem uma pausa e, até ao próximo....
Ribeira seca da RG
2018-05-25
"Aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria"
(Khalil Gibran)
José Ventura
Por opção o autor escreve pela antiga grafia.