Lula pirou de vez
Vou fazer um nariz de cera (uma abertura barroca) neste texto para depois entrar de supetão. É que não me sinto confortável em criticar o ex-presidente Lula nem o seu partido, mas às vezes é necessário para poder colocar o trem nos devidos trilhos.
Jolivaldo Freitas
Vou fazer um nariz de cera (uma abertura barroca) neste texto para depois entrar de supetão. É que não me sinto confortável em criticar o ex-presidente Lula nem o seu partido, mas às vezes é necessário para poder colocar o trem nos devidos trilhos. Lembro que nos anos de chumbo eu defendia suas posições políticas nos jornais. Na primeira vez que ele concorreu à presidência da República, em 1989, quando perdeu para o sinistro Fernando Collor eu era Diretor de Criação da Norton Publicidade na Bahia. Foi quando o PT criou o slogan oPTei.
Levado pela emoção do momento criei slogans para a campanha aproveitando aquilo que caracterizava o fim de uma mensagem num telegrama (existente ainda à época). Toda mensagem terminava com pt. Que significava "ponto". Me apropriei e mandei imprimir duas mil camisetas com a marca do partido em vermelho no peito. Escrito: PT - Ponto Final (insinuando que era coisa certa, sacramentado, era a vez do Partido dos Trabalhadores e fim de papo).
Mas, hoje vejo Lula preso, perdido. Vejo o PT num estertor e acabo de ler um artigo publicado por Lula nos jornais (escrito por um ghost writer e assinado por ele) garantindo que a crise econômica atual do Brasil é consequência do péssimo governo de Michel Temer e só dele. Em seu texto diz que o país vive um ciclo diferente daquilo que foi deixado pelos governos petistas, principalmente o desemprego, aumento nos custos de energia, comida, insumos e falta de investimentos.
Lula enfatiza que o Brasil foi um país promissor que hoje vive um ciclo diferente daquilo que o lulopetismo fez. Ele tem razão em certa parte, mas escamoteia o fato de que ainda no governo do PT a crise já estava instalada. Pior: o ex-presidente se faz de esquecido para seguir em frente com a falácia. Ele finge não lembrar - em política não existe memória nem fato consumado - que no dia 5 de setembro do ano passado, uma terça-feira, justamente no último discurso que fez na cidade de São Luiz, no Maranhão, na sua peregrinação pelo Nordeste, afirmou com todas as letras e em altos brados que a crise econômica que toma o Brasil teve início no governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Ela sua protegida política, e sucessora. Claro que tendo como vice-presidente Michel Temer e o avalista do governo do PT o PMDB.
Luiz Inácio garantiu à época e agora tenta manipular os fatos, que a crise econômica já no período Dilma era consequente dos excessos da política de subsídios e gastos estatais do governo. Disse textualmente que houve um "erro de dosagem" na política econômica do PT. O jornal Folha de São Paulo imprimiu sua fala à época": "Acho que nós erramos na dosagem. Porque se você tem uma torneira aberta entrando água e uma torneira aberta saindo água, e está entrando menos do que está saindo, uma hora a caixa seca".
Lula como sempre jogou primeiro a culpa em sua afilhada Dilma e depois do impeachment dela, como não se bate em cachorro morto, passou a culpar Michel Temer (deixando claro que este é também corresponsável pela porcaria que se instalou no país). Lula nunca faz um mea culpa. É claro que a gestão de Dilma com Temer vice não pode ser dissociada da sua. Dilma é sua cria, fez parte intimamente do seu governo. O que Lula conseguiu elegendo sua parceira política foi apenas adiar a face do problema econômico. Mascarou. Mas o dragão mostrou sua face. Os 14 milhões de desempregados que o Brasil tem hoje são vítimas. Juntou Lula, Dilma e Temer e o brasileiro se lascou.
Escritor e jornalista: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br