Uma tentativa de entender as limitações do ex-presidente Luiz Inácio da Silva
Luiz Inácio da Silva, um abnegado e carismático líder sindical tornou-se, ao empolgar o poder político da Nação, um populista no sentido pejorativo da palavra e entregou-se - juntamente com uma numerosa parcela das demais lideranças do PT -, sem o menor escrúpulo, ao imperante presidencialismo de coalizão, a acordos com políticos que há décadas encarnam o que há de mais sórdido em nossa vida política - José Sarney e Paulo Maluf bastam como exemplos - e às nefastas e largas práticas de corrupção. Dando sequência a este seu rebaixamento legou-nos dois postes absolutamente ineficientes tanto política como administrativamente, quais sejam: Dilma Rousseff e Fernando Haddad.
Iraci del Nero da Costa *
O desatino político esteve vinculado ao seu aviltamento moral, fatos estes que contribuíram decisivamente para o conduzirem à condenação pela Operação Lava Jato.
A nosso juízo o ex-presidente demonstrou não alinhar-se irrestritamente à verdade e à ética. Talvez, ainda que parcialmente, tal evidência possa dever-se à sua formação como líder sindicalista. Como sabido, tais lideranças colocam os interesses de seus representados acima de toda e qualquer outra questão, mesmo que se trate da submissão absoluta à verdade; não fosse assim, poderiam estar limitadas suas lutas pelos interesses e reivindicações dos trabalhadores. Transformar pequenas falhas em graves problemas trabalhistas que exigem soluções de grande porte seria apenas um exemplo desta experiência vivenciada pelos aludidos líderes.
Destarte, a própria formação intelectual do ex-presidente pode ter-lhe imposto o efetivo afastamento da verdade entendida em termos globais e inquestionáveis.
Em artigo no qual tratei de problema paralelo afirmei que na figura do sindicalista Luiz Inácio da Silva vi "encarnada não só a luta do proletariado, mas o conjunto todo das reformas necessárias para elevar o Brasil a um patamar de justiça social digno e paradigmático. Emprestei a esse sagaz sindicalista a dimensão de um político ideologicamente comprometido com objetivos situados muito além da mera luta sindical limitada aos marcos do modo de produção capitalista. Só tardiamente, quando seu primeiro mandato presidencial alcançava mais de cem dias, percebi suas imensas precariedades políticas. Não só não trazia consigo o desejo de superação do capitalismo, mas se comportava de modo condenável e demonstrava pretender, apenas, ocupar o poder pelo poder, aparelhando o Estado com seus apaniguados e disposto aos mais reles acordos com forças políticas de qualquer cor ou estrato, inclusive as que havia condenado duramente no passado. Verifiquei, então, tratar-se apenas de um dirigente sindical, capaz, é verdade, de lutar pelos interesses de filiados a um sindicato, porém inteiramente inapto enquanto líder político ideologicamente preparado para implementar mudanças substantivas na situação econômica e política em que nos encontramos submersos de há tanto." (Delegando ideais e anseios políticos. Também publicado na versão em português do Pravda.ru online, 17 de abril de 2016).
Enfim, a aliança entre a visão sindicalista e a frouxidão moral de Luiz Inácio da Silva seriam os dois fatores mais relevantes situados na raiz de seu condenável comportamento político e na ausência de uma postura ideológica que o caracterizasse como autêntico defensor dos interesses nacionais.
Professor Universitário aposentado.