Não ao oportunismo, à polarização, ao sectarismo: defender justiça social e direitos humanos no Brasil não é nem nunca foi sinônimo de apoiar Luiz Inácio, nem o PT - muito pelo contrário! Nos porões do poder, riem de nossa cara: quem se lembra?
Diante das grandes crises, nenhuma novidade, as sociedades mais vulneráveis (i.e., deseducadas) tendem a se polarizar facilmente. E isso significa perder a lucidez, o equilíbrio, a autonomia reflexiva e serem levadas por toda a sorte de oportunistas, demagogos, vigaristas os quais, no caso particular do Brasil, sempre abundaram e, atualmente, evidenciando-se ou, no português mais popular, saindo grotescamente do armário.
Quando dei início à compra de diploma na faculdade de Jornalismo de péssimo nível na Universidade Metodista de São Paulo, uma das tantas merdadejantes do chapeuzinho com as famosas orelhas dos iguais, da estupidez e da ignorância, a tal de "esquerda" tupiniquim gozava dos privilégios do poder na pessoa de Luiz Inácio.
À época, tratava-se de grave palavrão toda e qualquer crítica á sociedade brasileira. Doce ironia do destino: as mesmas que fazem enxurradas hoje, especialmente na mídia dita "alternativa" deste País falido, excessivamente cínico.
Porém, este autor nunca abriu mão de suas opiniões de acordo com a ocasião: o que diz hoje para a alegria da "esquerda", dizia à época causando horror até aos "professores" nas apresentações de trabalhinhos universitários. Certas vezes, quando dizia que o Brasil vivia guerra civil inclusive em uma dessas apresentações, olhares pareciam considerar-me terrorista ou um débil-mental. Vale ressaltar: de lá para cá, o quadro tenebroso não mudou muita coisa, a não ser que naquele tempo não tão distante o número de mortes violentas no País do Imponderável era de 45 mil por ano, hoje ultrapassando os 60 mil: só isso! Uma diferença de "apenas" 15 mil cabeças majoritariamente negras, homossexuais e pobres.
Um amigo brasileiro, proeminente historiador e escritor que participou ativa e importantemente dos governos Lula, em conversa particular comigo na semana passada compactuou de minhas amarguras: "Tenho me refugiado como escritor, neste momento estranho que o Brasil atravessa". Ele se referia, sobretudo, à tal de "esquerda" tupinica, e tal comentário era uma resposta à carência de entusiasmo deste que agora escreve em dissertar para brasileiros em geral, há muito tempo.
"A esquerda brasileira precisa se unir [em torno a mim] neste momento [2016-17, investigado sob risco de ser preso] de perseguição", tem dito oportunisticamente Luiz Inácio, buscando desesperadamente por aqueles que, em um passado nada remoto, patrulhou e até desmoralizou, publicamente.
É indiscutível e senso mundial o tendencionismo contra Luiz Inácio e o próprio PT da "Justiça" tupiniquim (uma das maiores gozações da Pátria, dos maiores emblemas do falacioso Estado de direito que vivemos a qual, determinado setor, tive o prazer de, recentemente, tachar de safado questionando se não tem nada mais a fazer da vida senão fofocar ao telefone: como pouca desgraça na vida de pobre é sempre uma grande bobagem no Patropi de tantos carnavais, e o pobre nunca tem nada a perder, que vá!).
Por parte da sociedade brasileira em geral, altamente discriminadora em todos os segmentos (mesmo entre as classes menos favorecidas, especialmente no Sul-Sudeste mais branco), é igualmente evidente o preconceito regional contra o ex-presidente, e de sexo em relação à Dilma Rousseff.
Outro estigma que deve ser quebrado é que Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e outras migalhas (pela quantidade e qualidade) petistas quebraram o País: investimentos sociais apenas enriquecem qualquer nação, e isto é fato. No caso particular dos governos petistas que iniciaram, sim, a derrocada brasileira levada às últimas consequências por Michel Temer, recorde-se:
"A economia brasileira é uma grande bolha, prestes a estourar; e quando isso ocorrer, o estrago será bem maior do que muitos podem prever", escreveu este autor em seu Blog no artigo Oito Anos e Meio de PT e Seis por Meia Dúzia no Brasil: Até Quando?, alguns meses depois de Dilma ter tomado posse.
A grande bolha se devia ao fato de que as migalhas que transformavam milhões de pobres em consumidores e não em cidadãos: não apenas pela falta de investimentos em educação, mas também por áreas como saúde e saneamento básico terem estado abandonadas como sempre, tornando efêmeros programas - de baixo valor - como o Bolsa Família.
E mais, o Brasil do PT não investia em industrialização, mas apostava na financeirização da economia e a evasão de divisas conforme justificaria, mais tarde este autor no Observatório da Imprensa, a bolha econômica vivida:
"Financeirização da Economia - A presidente Dilma cortou R$ 50 bilhões em investimentos sociais enquanto seguimos campeões mundiais em taxas de juros, estamos entre os 14 países com maior carga tributária, atrás apenas de países europeus, tendo o país crescido quatro posições de 2008 para 2009 segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), de dezembro de 2010 - ano em que tal carga atingiu 35,04% do PIB; os oito anos e meio do governo do PT geraram superávit de 4% do PIB, transferindo mais R$ 1,5 trilhão ao setor financeiro, para pagamento de juros da dívida pública estando o Brasil entre os três mais desiguais do planeta segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), com economia cada vez mais de joelhos ao capital especulativo (dados a seguir publicados pelo jornal A Nova Democracia):
"O lucro líquido do banco Bradesco chegou, no primeiro trimestre desse ano, a R$ 2,7 bilhões, montante 28% maior do que apurado no mesmo período de 2010. O banco Santander, por sua vez, obteve um lucro de R$ 2,071 bilhões, 17,5% maior que no primeiro trimestre de 2010. Já o Itaú/Unibanco registrou o lucro líquido de R$ 3,53 bilhões no primeiro trimestre desse ano, o que corresponde a um crescimento de 9,15% comparando com o ano anterior.
"O lucro líquido dos três maiores bancos privados em atividade em nosso país, quando somados ao lucro líquido do Banco do Brasil, que foi de R$ 2,93 bilhões, ultrapassaram os R$ 10 bilhões, marca nunca antes atingida em um período tão curto."
"Remessas de Lucro ao Exterior - No mesmo artigo, outros dados apresentados por A Nova Democracia, sobre bilionárias remessas de lucro ao exterior: "As matrizes das indústrias automobilísticas instaladas no Brasil receberam remessas superiores a US$ 2,2 bilhões no primeiro quadrimestre de 2011. Esse valor representa um aumento de 238% comparando com o mesmo período de 2010.
"Segundo dados do Banco Central, o valor enviado pelas empresas automobilísticas corresponde a mais de um quarto, ou seja, 26,2%, de todas as remessas de US$ 8,5 bilhões feitas por empresas estrangeiras instaladas no Brasil nesse período.
"Apesar dessas altas cifras remetidas para as matrizes estrangeiras, o grosso dos investimentos anunciados pelo setor é bancado por recursos nacionais, como os US$ 8,7 bilhões de dólares (aproximadamente, 16,3 bilhões de reais) concedidos pelo BNDES a estas montadoras no período 2008-2010."
"Ainda sobre juros da dívida pública, nos últimos 12 meses custou R$ 213,9 bilhões ao Brasil, para o que o Estado cortou gastos e reservou R$ 119,6 bilhões do total da receita de impostos. O valor não pago, R$ 94,3 bilhões, foi acrescido ao saldo da dívida, que não para de aumentar. O programa Bolsa Família, que beneficia 53 bilhões de brasileiros com média de R$ 155,00 por família, custando ao Estado R$ 17 bilhões, poderia ser multiplicado por 12 vezes e meia e acrescido a R$ 1.400,00 por família com o montante do juro da dívida pública pago nesses 12 meses (fonte: Carta Maior).
"Vale observar ainda ainda que o governo federal sob Lula e agora, durante o mandato de Dilma Rousseff, tem sido completamente nulo no que diz respeito à reforma agrária e ao fortalecimento dos movimentos sociais, contrariando o programa de governo do partido, bem como toda suas propostas histórias, hoje jogadas à retórica quase que por completo."
Tampouco era preciso ter comprado diploma de Cientista Político nem ser profeta para saber que isto ocorreria, segundo este autor n Observatório da Imprensa nos idos de 2012, quando a então presidente Dilma gozava de altos índices de popularidade:
"O PMDB trata de tentar aturar o PT hoje por conveniência - e, nenhuma descoberta no campo da ciência política, na primeira oportunidade arrematarão o pé nos fundilhos do PT, e se estiverem de muito bom humor sem dar tiros a todos os lados, o que é improvável que aconteça. Isso deve acontecer na eleição de 2014, mas pode ser adiado de acordo com as costuras partidárias que se deem até lá."
Naquela mesma época, o Brasil era mais uma vez reprovado pelos órgãos internacionais de direitos humanos: em seu Informe Anual' 2012, a Anistia Internacional havia condenado diversas questões em que o Estado brasileiro feria os direitos humanos, inclusive as medidas da presidente Dilma Rousseff que favoreciam o extermínio contra os indígenas. A política de cotas nas universidades, perante esta cruel realidade, era mais uma grande hipocrisia governamental.
Diversos telegramas secretos enviados da "Embaixada" (centro de espionagem) norte-americana em Brasília liberados por WikiLeaks revelam encontros nunca trazidos ás claras por petistas em território norte-americano na capital federal brasileira, especialmente de José Dirceu com o pires na mão a fim de, obedientemente, prestar contas aos oficiais dos Estados Unidos, assegurando que seus interesses estavam e continuariam sendo garantidos em solo tupiniquim. Certamente, Che Guevara percebeu seu sangue, no minimo, futilizado através dos delivery de Zé Dirceu em território estadunidense em Brasília. Bom, como eles mesmos se denominam: são os da "esquerda moderada", moderna, não é? Pois é...
Acima de todas as controvérsias que se possa criar sobre teorias políticas (o que nossa "esquerda" mais sabe fazer, discutir trancafiada teorias), Luiz Inácio que hoje busca se safar da armadilha oligárquica que outrora o deslumbrou em cima de rótulos, não poupou estigmas jocosos à essa mesma "esquerda" brasileira.
Sobre a grande mídia que agora Luiz Inácio e sua ala demonizam (com toda a razão), vale recordar a emotiva frase do mesmo: "Aí se vai [Roberto Marinho] um grande brasileiro, merecedor de três dias de luto oficial". Pois tanto Luiz Inácio quanto Dilma sempre evidenciaram, em espécie, seu apreço pelo "doutor" Roberto Marinho:
O patrocínio petista à mesma mídia contra quem oportunisticamente esperneia hoje, a revista Carta Capital relatou em Publicidade Federal: Globo Recebeu R$ 6,2 Bilhões dos Governos Lula e Dilma, que "entre os jornais, O Globo foi o que mais recebeu verbas; a revista Veja recebeu mais de R$ 700 milhões no período. (...) Lula e Dilma investiram um total de R$ 13,9 bilhões para fazer propaganda em todas as TVs do país".
E pontuou ainda: "A parte destinada somente às emissoras da Rede Globo representa quase metade desse total. Apesar disso, a porcentagem destinada à Globo tem sido reduzida. Ao final do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2002, as emissoras globais detinham 49% das verbas estatais destinadas à propagada em TV aberta, chegaram a 59% durante o governo Lula e, no ano passado, a Globo ainda liderava com R$ 453,5 milhões investidos, mas do total, o valor representa 36%".
É também de Luiz Inácio esta filosofada nada progressista, igualmente bem distante do discurso de hoje:"Passado é passado [esqueçamos tudo]", sobre ditadura militar e revogação da Lei de Anistia. Não nos faz lembrar a velha frase do feitiço que se vira contra o feiticeiro, ou provando do próprio veneno?
Em campanha presidencial, julho de 2006, o então presidente e candidato à reeleição proferia este veredito:
"Nunca fui de esquerda."
Mas a célebre frase viria mesmo durante a ressaca da vitória eleitoral, em dezembro daquele ano. Para os apreciadores de teorias políticas, aqui vai:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) arrancou, na noite desta segunda-feira, risos e aplausos de uma platéia formada por empresários e intelectuais ao, de certa forma, desmerecer a esquerda brasileira. Segundo ele, trata-se de uma ideologia típica da juventude.
"Se você conhece uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque está com problema" [risos e aplausos]. "Se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, é porque também está com problema", afirmou o presidente depois de receber o prêmio "Brasileiro do Ano" da revista "IstoÉ".
Lula explicou que, em sua opinião, as pessoas responsáveis tendem a, conforme amadurecem, abrir mão de suas convicções radicais para alcançar uma confluência. Tal fenômeno ele classificou de "evolução da espécie humana".
"Quem é mais de direita vai ficando mais de centro, e quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata, menos à esquerda. As coisas vão confluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos, e de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito".
Esta pergunta dirige-se a cidadãos que, como este autor, contam moedas para pagar as contas no final do mês, cujos filhos padecem do sistema público de saúde neste País falido: venderemos ao capeta do sectarismo politiqueiro mais baixo nossa consciência, nossa dignidade, nossa alma?
Não! Ser adepto de políticas sociais e de direitos humanos não significa nem jamais significou apoiar Luiz Inácio nem o PT! E quem declara isso não está favorecendo os setores reacionários que foram bajulados por este, quando gozava dos privilégios do poder. Cidadão brasileiro, não entre nesse engodo - o recente abraço fraterna no golpista e entregusita Michel Temer em pleno velório de dona Marisa Letícia com um "conte comigo", em consonância com as alianças petistas com peemedebistas Brasil afora, são o mais recente sinal de que seremos, de novo, os otários da vez se o PT retornar ao poder.
O Brasil carece de uma alternativa autenticamente progressista, chegue ela ao poder, ou não. O projeto do PT, aliás, nada mais é que chegar ao poder, evidenciado nas próprias entrevistas de Luiz Inácio e Dilma: outro sinal de que nada mudou. E se o brasileiro não despertar mas seguir vítima de retóricas vazias, será novamente vítima do velho seis por meia dúzia, caçoado sem piedade nos encontros dos velhos oligarcas com seus neocapachos.