Tarso x Moro

A rigor não houve um debate Tarso x Moro, ao estilo dos famosos debates entre Kennedy e Nixon, Lula e Collor ou até mesmo entre Fost e Nixon, que transmitidos pela televisão, tiveram importantes conseqüências históricas e políticas.

Tarso Genro foi arrolado como testemunha de defesa de Lula num processo do Lava Jato e respondeu por via conferência as perguntas, inicialmente dos advogados de defesa e de acusação por quase uma hora e apenas no final, foi interrogado pelo juiz Moro.

Além disso, a televisão não transmitiu o evento e o que os brasileiros puderam ver foram as imagens e o som que veio de Curitiba através do precário sistema de gravação do tribunal, disponível no youtube.

Certamente, o que ocorreu em Curitiba não vai mudar a opinião das pessoas sobre os dois personagens, mas deveria, como foi nos casos de Kennedy, Nixon, Lula e Collor.

Depois de ter sido considerado vencedor nos debates pelo rádio, Richard Nixon fez o último debate nas eleições presidenciais norte-americanas de 1960, contra John Kennedy, em Chicago, no dia 26 de setembro,numa transmissão feita pela televisão, na época em preto e branco e assistida por 60 milhões de expectadores.

Segundo os analistas políticos da época, um Nixon inseguro e com a barba por fazer, o que lhe deu um aspecto doentio, foi amplamente batido por um Kennedy, bronzeado e agressivo nos debates. O resultado se espelharia nas urnas, com a vitória do democrata com uma vantagem de 0,1% na votação popular.

Nixon, depois da sua renúncia à Presidência, seria protagonista de um outro debate célebre, em 1977, quando para receber um cachê de 600 mil dólares, concordou em ser entrevistado em três programas pelo jornalista inglês David Frost.

Durante essa série, que ficou conhecida no mundo inteiro pela sua versão cinematográfica, Nixon, instigado pelo repórter, acabou confessando que sabia antecipadamente do caso Watergate, que até então negara conhecer.

Na televisão brasileira, o caso mais famoso ficou sendo o debate entre Lula e Collor na Rede Globo, em 13 de dezembro de 1989, não tanto pelo debate em si, mas pela manipulação  que a Globo fez no dia seguinte, vésperas das eleições, no Jornal Nacional,  quando mostrou uma montagem que só apresentava os melhores momentos  de Collor e os piores de Lula.

Sem a mesma importância desses debates, o diálogo entre Tarso e Moro serviu para desmistificar a figura do juiz paranaense, não apenas sob o ponto de vista político, mas também em termos de apresentação pessoal.

Realmente, como Nixon em 1960 e Collor em 89, falta a Moro "le fisique de role" para desempenhar o papel do grande justiceiro que a mídia e parte da população atribui a ele.

Titubeante, nunca olhando para a câmera, falando com uma voz quase sumida, realmente está longe da figura majestática que lhe atribuem.

Tudo isso não seria importante, se suprisse essas deficiências com uma demonstração de lucidez, inteligência e respeito aos procedimentos jurídicos.

Não foi o que aconteceu.

Ainda que alertado pelos advogados, que a testemunha, Tarso Genro, lá estava para responder sobre as acusações contra Lula no processo da Lava Jato, de se beneficiar com a corrupção na Petrobrás, insistiu em perguntas alheias ao processo, sobre procedimentos internos no PT, durante o período que Tarso exerceu a presidência do partido.

Mesmo podendo se negar a responder essas perguntas, Tarso as respondeu de uma maneira civilizada, clara e objetiva.

Seu depoimento foi uma verdadeira aula de como deve ser um procedimento ético na vida política, e uma dura crítica ao atual modelo eleitoral brasileiro.

Pena que seu discurso tenha caído nos ouvidos moucos de Moro.

Marino Boeira é jornalista, formado em História.

 


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Timothy Bancroft-Hinchey