Milhares de pessoas saíram às ruas novamente nesse domingo em muitas capitais brasileiras para dizer que são contra a corrupção.
Em Porto Alegre, eles se reunirão no Parcão, reduto da classe média alta, que se pretende culta e politizada.
Não entendo muita essa gente. Eles são contra a corrupção, mas quem é a favor?
Certamente só os corruptos, mas esses não saem às ruas para se dizerem corruptos. Pelo contrário, eles são discretos, reservados, talvez nem em casa se confessem corruptos.
Eu pensei em aparecer no Parcão com uma faixa que lembrasse aquele pensamento cínico, mas inteligente do Millôr Fernandes: Restaure-se a moralidade, ou nos locupletemos todos.
Na última hora, desisti, porque esse pessoal que participa de passeata verde e amarela não é dado às sutilezas
Alguém me disse que eles não são apenas contra alguma coisa. Eles são também a favor de outras.
Da Lava Jato, por exemplo.
São a favor de que a Justiça continue investigando os corruptos.
Todos, pergunto?
No início foram só os caras do PT. Agora está chegando a vez do PMDB.
Aí, entendi o processo. São os políticos que estão no governo.
Mas e o PSDB? Essa história não começou com eles?
Em princípio, todos os políticos são ladrões.
E os militares? Não governaram por 20 anos? Naquela época não havia corrupção?
Nessa altura, eu já falava sozinho.
Meu interlocutor estava agora num grupo carregando uma faixa pedindo a volta dos militares.
Então, é melhor ficar em casa, fechar portas e janelas porque eles estão voltando.
Pessimista, eu?
Realista, eu diria.
Em 1964, tudo começou assim, com aquelas marchas por "Deus, pela Pátria e pela Família" e não terminou nada bem.
Os mais antigos ou os que tem o hábito ultrapassado de ler livros de História, não esquecem que a República de Weimar terminou porque diziam que seus políticos eram fracos e corruptos e nos seus lugares logo vieram aqueles caras fortes e incorruptíveis, os nazistas.
(Depois que citei o Millôr Fernandes como autor da frase "Restaure-se a moralidade ou nos locupletamos todos", alguém me disse que a frase era do Stanislaw Ponte, pseudônimo com o qual Sérgio Porto escrevia em Última Hora. Os dois, ao lado do Barão de Itararé, não faziam apenas humor, eles mostravam o grau de ridículo a que pode chegar os seres humanos, principalmente quando eles são políticos ou generais. Provavelmente, cada um deles - Millör, Stanislaw ou o Barão - era cínico e inteligente o suficiente para fazer esta frase)
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS