Embora periodicamente se acuse a esquerda de não agir de acordo com as normas democráticas, a história mostra que foi sempre a direita que recorreu a métodos de violência quando seus interesses são ameaçados.
Mais do que isso, os agrupamentos que representam a direita (a professora Céli Pinto, citando Norberto Bobbio em recente artigo para o Sul 21, mostra como essa segmentação entre esquerda e direita é quase sempre visível nas disputas eleitorais) tendem a radicalizar suas posições, chegando quase às práticas fascistas, quando os métodos tradicionais são insuficientes para impor sua vontade.
No caso do segundo turno das eleições municipais de Porto Alegre, esse processo pôde ser visualizado, primeiro, na agressividade dos discursos dos dois candidatos que representam a direita e depois nos acontecimentos policiais que envolveram os representantes do PSDB e PMDB.
Embora representem os dois partidos que se uniram no processo golpista que levou ao impeachment da Presidenta Dilma, eles são integrados como grupos com interesses diversos na disputa do botim que representa o comando de instituições públicas, da Prefeitura de Porto Alegre à Presidência da República.
A História está cheia de exemplos de como defensores da mesma causa, acabam entrando em conflito, quase sempre resolvidos pela violência.
No advento do nazismo na Alemanha, alguns dos seus principais artífices como Ernest Rohn, o criador da S.A., grupo paramilitar que apoiou Hitler no início da sua ascensão política e Gregor Strasser, teórico do nazismo, foram eliminados fisicamente, durante o processo de chegada de Hitler ao poder, para agradar aos generais da Wehrmacht.
Stalin, depois de levar a morte antigos aliados como Kamenev e Zinoviev, não descansou enquanto não conseguiu eliminar Trotsky, no seu exílio no México.
No golpe de 64, os generais vencedores cassaram os mandatos e suspenderam os direitos políticos de dois dos principais líderes do movimento, os governadores Carlos Lacerda e Adhemar de Barros.
Recentemente, o deputado Eduardo Cunha, usado para iniciar o movimento golpista que levou Temer à Presidência, foi abandonado pelos seus aliados e entregue aos inquisidores de Curitiba.
Em todos esses casos, não havia divergências de princípios, mas sim interesses pessoais ou de grupos, contrariados.
Os acontecimentos políticos têm uma dinâmica própria e não devem ser analisados sempre da mesma forma.
É tarefa dos pensadores que se filiam a uma visão histórica de defesa dos interesses do povo, propor sempre uma estratégia de luta adequada ao momento em que os fatos estão ocorrendo.
Anular o seu voto - o que no passado poderia representar uma descrença nesse importante instrumento democrático - hoje é a forma mais autêntica de manifestar o repúdio ao golpismo instalado no país e aos seus defensores, principalmente os veículos da grande mídia.
Em Porto Alegre, onde a RBS se engajou numa ampla campanha midiática em defesa do voto útil em favor de qualquer um dos candidatos que chegaram ao segundo turno, votar nulo será a melhor resposta que a parte mais lúcida do eleitorado poderá dar a esta pretendida lavagem cerebral.
Como disse a Professora Céli Pinto,"o voto nulo é uma opção democrática. Cada eleitor pode votar em quem quiser, segundo suas posições políticas ideológicas, seus interesses corporativos, suas simpatias pessoais. Os candidatos podem e devem lutar contra o voto nulo, este é o papel deles. O que não pode acontecer é a desqualificação mal intencionada ou mal informada do voto nulo"
Portanto, democraticamente, no dia 30 de outubro, vamos anular nosso voto, votando em Ninguém.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS