Quem é a bolha? Quem é a crise?

Nelson Rodrigues, com o sarcasmo que comentava a sociedade de sua época, escreve que a granfina, chegando ao Estádio do Maracanã, pergunta "quem é a bola?".

Os pretensos analistas financeiros e econômicos que ocupam as páginas de jornais e revistas do Rio de Janeiro e São Paulo, assim como os comentaristas das redes de televisão, me sugeriram o título deste artigo, modesta homenagem à granfina das narinas de cadáver.

Pedro Augusti Pinho*

Desde os anos 1980, com crescente quantidade e densidade, o mundo tem conhecido "crises" fabricadas pelo sistema financeiro internacional - a banca. Elas foram importantes para o crescimento, fortalecimento e empoderamento da banca.

A partir de 2008 a condução da economia, em quase todos os países e com maior ou menos ortodoxia, tem sido realizada pela banca. Isto vem destruindo instituições, construções de cidadania e mesmo o modelo democrático, apesar das aparências formais.

Hesitaria em qualificar os governos militares brasileiros como ditaduras pois também tivemos eleições para os poderes executivo e legislativo naqueles anos? Se os eleitos não agradavam havia o recurso da cassação. Hoje este se dá previamente. Ao candidato inconveniente faltarão recursos financeiros e a comunicação de massa totalitária o desconstruirá, sendo cassado mesmo antes mesmo de ser eleito.

A eleição para Prefeito do Município de São Paulo foi uma clara e insofismável prova da ditadura midiática e financeira, o que vimos também em outros municípios nesta eleição de 2016. E as instituições, já corroídas pelas anteriores ações da banca, onde destaco apenas a espionagem com recursos norteamericanos, nem se moviam, mesmo em sua paquidérmica velocidade, como da tradição e feitio.

Quem é a bolha? Quem é a crise?

O presidente do Conselho de Desenvolvimento Global (foto), nomeado por Barack Obama, economista, doutor por Oxford, novaiorquino Mohamed El-Erian, que por quinze anos serviu ao Fundo Monetário Internacional (FMI), no livro recém editado "A Única Solução", nos traz as seguintes apreciações:

1 - o mundo pós 2008 tem sido governado pelos Bancos Centrais;

2 - as tensões e contradições desta gestão são crescentes e se estendem para além da economia e chegam ao terreno da política; e

3 - dentro de três anos haverá a ruptura deste "sistema" e a saída dependerá das decisões políticas que sejam adotadas ainda em 2016.

Pelo pouco que me é dado conhecer das situações internas de outros países, apenas a Bolívia, na América do Sul, está se aparelhando para sobreviver a esta crise. Não quero afirmar, pois desconheço, estarem outros países nas Américas e outros continentes sem capacidade de adotar e manter decisões que os fariam superar as nefastas consequências desta crise, que avalio se dará mais cedo. Talvez a Federação Russa, mas nenhum outro europeu.

O Brasil poderia, pelos recursos efetivos já disponíveis e pelos potenciais, ter condição saudável para enfrentar este caos anunciado. Infelizmente, a sujeição dos governantes à geopolítica norteamericana e o domínio das instituições da República pelo poder dos financistas, ruralistas e corruptos e corrompidos de diversas ordens, além da desinformação do povo pela ditadura da mídia não nos deixam esperançosos.

Esta eleição de outubro sepultou o pouco que restava. Assim como as decisões judiciárias, em todos os níveis, subordinando o direito social ao individual, casuisticamente.

 

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

 


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Timothy Bancroft-Hinchey