Pensei que já ti visto de tudo, e ouvido de tudo. Até domingo passado, quando assisti à Câmara dos Deputados ter tomado a decisão de iniciar o Impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Nunca vi um bando como este de juvenis, tolos, egoístas, idiotas, inúteis e fúteis que, em qualquer outro lugar do mundo, não serviriam nem para limpar o banheiro.
Timothy Bancroft-Hinchey (*)
Pois no último dia 17 a Câmara decidiu, por esmagadora maioria, enviar uma proposta de cassação do mandato presidencial ao Senado brasileiro, acusando a presidenta Dilma de ter manipulado os dados econômicos antes da última eleição. A votação em favor da cassação foi de 367, 137 contra, sete abstenções e duas ausências. O valor mínimo exigido era de 342 votos.
Ao fazê-lo, 367 dos deputados esfaquearam pelas costas a presidenta democraticamente eleita por 54 milhões de cidadãos, e lançaram sombras da Operação Condor aos céus do país. Não há evidência nenhuma de que a presidenta agiu de maneira irresponsável, quanto mais criminosa, enquanto tais fascistas atrasaram o Brasil em muitas décadas na sua postura e posição internacional.
E se Bolsonaro fosse torturado?
Pensei que já tivesse visto ou ouvido falar simplesmente de tudo: até domingo passado, quando assisti o debate e a votação da sessão de dez horas e vi trezentos e sessenta e sete idiotas, patéticos, infantis apresentando um espetáculo da mais completa imbecilidade, dando o voto em favor da cassação com discursos como "em nome do meu filho de quatro anos, voto a favor!". Não é brincadeira este meu relato.
Provavelmente, o tal filho de quatro anos tinha mais a oferecer o Brasil que o pai. Em qualquer outro lugar no planeta Terra, um exemplo tão flagrante de pura imbecilidade traria gargalhadas escarnecedoras, mas no domingo passado não se sabia se se deveria rir ou chorar. Um deles, chamado Jair Bolsonaro, até dedicou seu voto, exaltando o coronel Carlos Alberto Brilhante Ushtra, que torturou Dilma quando ela era prisioneira política nas mãos dos fascistas. Muitos agitavam bandeiras dizendo "Tchau, querida!", mostrando o grau de puro sexismo, desrespeito, de baixo nível, desses inescrupulosos e fúteis. Talvez Bolsonaro sentisse prazer em ser torturado, para depois ver se se dispunha a prestar homenagem ao seu algoz.
O fascismo está de volta
Sim, senhoras e senhores, o fascismo está de volta no Brasil. Estes trezentos e sessenta e sete, entre eles bandidos, esta quadrilha egoísta de fúteis aspirantes a políticos que em qualquer outro Parlamento, em qualquer outra parte do mundo não serviriam sequer para limpar o banheiro, demonstraram por que o Brasil está no estado em que se encontra. Se este é o padrão dos legisladores do país, então não admira que as pessoas estejam sofrendo tanto.
Onde estão esses legisladores, quando estrangeiros tentam desviar recursos do Brasil alegando que a Amazônia não é brasileiro, e interferem na aquisição brasileira, através do Ministério da Defesa, de armas russas - em favor dos EUA, o poleiro destes ilustres 367 imbecis? Eles não estão em lugar nenhum.
Onde estão esses 367 aloprados quando algum maluco, demente pelo crack, mata um turista no Rio de Janeiro? Onde estão esses 367 perfeitos aloprados quando Fortaleza, por exemplo, se converte na cidade mais violenta do Brasil, quando há apenas uma década o Ceará apresentava índices criminais comparados aos de uma cidade europeia provincial? Provavelmente, alguns deles são coniventes com os criminosos.
Onde estão esses 367 fascistas, egoístas, anti-democráticos, quando a Constituição brasileira, estabelecida para ser defendida e não desrespeitada na Câmara, está a ser desprezada e insultada desta forma?? Eles a estão desprezando e insultando.
É fácil fazer uma busca no Google e ver quem são estes 367 deputados. Apliquemos aqui o velho preceito de que só se deve lançar a primeira pedra quem... Vamos investigar esses 367 "meninos" que desprezaram a lei brasileira, insultaram a Câmara e o povo brasileiro que votaram pela presidenta Dilma através de pleito democrático, livre e justo. Vamos, então, apresentar nossos resultados publicamente. Então veremos quem dá a última risada.
O que está por vir?
No início de maio, a decisão vai para o Senado se se deve ou não colocar a presidenta sob julgamento por manuseio irregular das contas públicas, artifício amplamente utilizado no Brasil a nível nacional, estadual e municipal diante do qual ninguém até agora alegou se tratar de prática criminosa. Se o Senado decidir seguir em frente, a presidenta será temporariamente suspensa e substituída pelo vice-presidente Michel Temer.
O julgamento pode durar até 180 dias e, se ela for considerada culpada, será cassada. Ela, então, tem dois processos como recurso.
A questão é que todo este caso se trata de claro oportunismo político. Esta quadrilha de 367 fascistas provam por que o Brasil sempre foi a promessa do amanhã, porque quando um partido e um governo decidem atacar os males do país, neste caso a cruzada de Dilma contra a corrupção, vejam o que acontece.
Enquanto isso, os 200 milhões de cidadãos do Brasil estão reféns de menos de 400 oportunistas e parasitas da pior espécie possível.
* Timothy Bancroft-Hinchey tem trabalhado como correspondente, jornalista, editor-adjunto, editor, editor-chefe, diretor, gerente de projeto, diretor executivo, sócio e proprietário de publicações semanais, mensais e anuais impressos e on-line diárias, emissoras de TV e grupos de mídia impressos, difundidos e distribuídos em Angola, Brasil, Cabo Verde, Timor Leste, Guiné-Bissau, Portugal, Moçambique e São Tomé e Príncipe; tem contribuído para a publicação do Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa, Dialog e tem escrito para o Ministério das Relações Exteriores de Cuba nas Publicações Oficiais.
Passou as últimas duas décadas em projectos humanitários, ligando comunidades, trabalhando para documentar e catalogar línguas, culturas, tradições em vias de desaparecimento, trabalhando para formar redes com as comunidades LGBT, ajudando a criar abrigos para vítimas abusadas ou assustadas e como Media Partner da ONU Mulheres, trabalhando para promover o projeto UN Women para lutar contra a violência de gênero e de lutar por um fim ao sexismo, o racismo e homofobia.
Vegano, é também um Media Partner da Humane Society International, lutando pelos direitos dos animais. Ele é diretor e editor-chefe da versão em Português do Pravda.Ru.