Movimento Paga por Hostilidades a Ciro Gomes: De Onde Vem o Dinheiro?
A mídia oligárquica não tem se deu ao trabalho de investigar a origem dos "líderes" desses movimentos e de seus fundos, e nada indica que mudará a posição omissa (por questões óbvias). Mas um fato é inegável: não se trata de movimentos espontâneos e nem de líderes movidos pelo amor à democracia e ao povo brasileiro
Edu Montesanti (*)
"O Ciro Gomes foi visto agora no restaurante Due Cuochi, [bairro] do Itaim [na cidade de São Paulo], tomando um [vinho] Barolo de centenas de reais a garrafa. Se alguém estiver perto, hostilize o cara. Mas ele é esquentadinho, filmem. O MEB [Movimento Endireita Brasil] paga R$ 1000 pelo vídeo".
Esta mensagem foi postada na página no Fez-se buque do Movimento Endireita Brasil, pró-cassação da presidente Dilma Rousseff, nesta sexta-feira (1). Ou seja, os ferrenhos defensores do que chamam de "democracia" estavam propondo incitar reação em um cidadão, Ciro Gomes, na hora do jantar, para filmar e incriminá-lo. Se não bastasse, e como nem poderia ser diferente no país da Lei de Gérson onde impera o "mundo é dos espertos", o dever-se "levar vantagem em tudo" e do "achado não é roubado", com direito à generosa propina: esta não poderia faltar para completar o sambódromo politiqueiro por que atravessa o Brasil hoje, onde desfila a despolitização e a excessiva truculência. E, em meio a práticas repugnantes como essa, indignam-se quando são seus atos são caracterizados como golpistas.
Porém, o que a mensagem do MEB postada na rede social traz (a qual não tem sido exceção desde as chamadas "Jornadas de Junho de 2013") é mais uma importante peça a fim de montarmos o enigmático quebra-cabeça envolvendo a atual onda de manifestações populares, e políticas por parte da oligarquia congressista com profundo aspecto de artificialidade. Tentou-se fazer isso, parcialmente dada a complexidade do fato, em Onda de Protestos no Brasil: Primavera ou Massa de Manobra?, (http://port.pravda.ru/sociedade/curiosas/19-03-2016/40606-brasil_manobra-0/#sthash.dvCeVtGA.dpuf) aqui no Jornal Pravda.
A "Primavera" brasileira segue, fielmente, as mesmas tendências daquelas que, no início, pareceram democráticas, porém com o passar do tempo acabaram mostrando sua verdadeira face. Repita-se: Síria, Egito, Líbia, Ucrânia, Venezuela com tentativas também de ser efetuada em Cuba, onde uma vez mais os promotores de agitações sociais com essência anti-democrática se depararam com uma inteligência forte, e uma sociedade altamente politizada, unida em prol da Revolução Socialista.
A assessoria do ex-ministro Ciro Gomes diz que ele estava no restaurante, mas que tomou uma Gin Tônica. Porém, isso não é o mais importante aqui.
De Onde Sai Esse Dinheiro?
O que vem ao realmente caso é que 1000 reais não são uma soma nada baixa em dinheiro, convenhamos. Especialmente em um pais que, já miserável, atravessa a pior crise econômica desde 1930.
Diante disso, não pode deixar de ser feita esta pergunta: de onde sai o dinheiro para casos como este, gerar reação em um político a fim de filmá-lo? E será mesmo tão meramente movido pelo senso patriótico, com certa ingenuidade que os "bons moços" da ultra-direita tupiniquim, indivíduos tão civilizados e éticos, defensores da democracia, da família e da moral têm há quase três anos distribuído altas somas em dinheiro à semelhança de Silvio Santos? E além do mais, não são esses mesmos indivíduos que reclamam raivosamente da crise econômica? Sim, contraditoriamente são eles mesmos.
Ricardo Salles, fundador e líder do MEB, foi secretario particular do governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB): até dezembro de 2014, cuidava de toda a agenda do governador. Salles é crítico ferrenho da Comissão da Verdade, e defensor do golpe militar de 1964. Refere-se à presidente Dilma como "terrorista".
Envolvendo os grupos opositores ao governo, pró-cassação que saem em protesto constantemente às ruas, vale mencionar o parecer do acadêmico de Direito português, Boaventura Santos: "Os financiamentos que hoje circulam abundantemente no Brasil provêm de uma multiplicidade de fundos (a nova natureza de um imperialismo mais difuso), desde as tradicionais organizações vinculadas à CIA até aos irmãos Koch, que nos EUA financiam a política mais conservadora e que têm interesses sobretudo no setor do petróleo, e às organizações evangélicas norte-americanas".
Tais afirmações de um dos mais respeitados legistas do mundo, não são feitas de maneira meramente intuitiva.
Agitos Sociais com Máscara Cidadã
O Movimento Brasil Livre (MBL), principal convocador dos protestos, émencionado (https://www.atlasnetwork.org/news/article/students-for-liberty-plays-strong-role-in-free-brazil-movement) pela norte-americana Atlas Network (nome fantasia da Atlas Economic Research Foundation desde 2013):
"Muito membros do Movimento Brasil Livre have têm passado pelo programa de treinamento da Atlas Network, a Academia de Liderança da Atlas (Atlas Leadership Academy), e estão agora colocando em prática [no Brasil] o que aprenderam no local onde viveram [Estados Unidos] e trabalharam."
A Atlas Network, cujo proprietário é David Koch, magnata do petróleo estadunidense, é uma think tank especializada em fomentar a criação de outras organizações de ultradireita no mundo, com recursos obtidos com fundações parceiras nos Estados Unidos e/ou canalizados dos think tanks empresariais locais para a formação de jovens líderes, principalmente na América Latina e na Europa oriental. Koch, por sua vez, é bem conhecido em seu país pelo caráter inescrupuloso quando se trata de fazer negócios.
Segundo a jornalista Marina Amaral:
"De acordo com o formulário 990, que todas as organizações filantrópicas tem de entregar ao IRS (Receita nos EUA), a receita da Atlas em 2013 foi de US$ 11,459 milhões. Os recursos destinados para atividades fora dos Estados Unidos foram de US$ 6,1 milhões: dos quais US$ 2,8 milhões para a América Central e US$ 595 mil para a América do Sul."
Juliano Torres, diretor executivo do Estudantes pela Liberdade (EPL), explica a relação entre o EPL e o MBL, nome criado pelo EPL a fim de e engajar nas manifestações de rua sem comprometer as organizações norte-americanas, impedidas de doar recursos para ativistas políticos segundo a lei vigente nos Estados Unidos.
"Quando teve os protestos em 2013 pelo Passe Livre, vários membros do Estudantes pela Liberdade queriam participar, só que, como a gente recebe recursos de organizações como a Atlas e a Students for Liberty, por uma questão de imposto de renda lá, eles não podem desenvolver atividades políticas. Então a gente falou: 'Os membros do EPL podem participar como pessoas físicas, mas não como organização para evitar problemas. Aí a gente resolveu criar uma marca, não era uma organização, era só uma marca para a gente se vender nas manifestações como Movimento Brasil Livre."
Não sem motivo, afirma Kim Kataguri, membro da EPL: "A gente quer privatizar a Petrobras. A gente quer o Estado mínimo".
Já o Movimento Vem prá Rua (VPR) aparece vinculado à Stratfor, uma empresa norte-americana privada de inteligência que é conhecida como uma segunda CIA, em um dos milhares de telegramas secretos emitidos pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, liberados por WikiLeaks.
Segundo diversos cabos (http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/06/documentos-vazados-pelo-wikileaks-revelam-que-eua-treinam-oposicionistas-pelo-mundo.html) liberados pela organização de Julian Assange, é exatamente a Stratfor a principal organização dos Estados Unidos no treinamento de líderes oposicionistas, do Egito ao Brasil, passando por Síria, Líbia, Bolívia e Venezuela.
E Rogério Chequer, líder do VPR, era sócio da empresa Atlas Capital Management, até 2011, que geria fundos de investimentos em sociedade com David Chon e com Harry Kretsk. Um deles, o Discover Atlas Fund com US$ 115 milhões em ativos segundo o sítioInstitutional Investitor (http://www.institutionalinvestor.com/Article/1394481/ALTERNATIVES-Rethinking-the-ABCs-of-GDPs.html).
Em 2012, Chequer, que reponde processos na Justiça norte-americana, foi admitido na empresa por onde hoje se apresenta, a Soap Comunicações, especializada apresentações de negócios. O que faz no Brasil diante disso, e por que se tornou figura proeminente a partir das ruas, é a pergunta que se coloca bem como de onde vem o dinheiro da VPR. Tudo indica, segundo os documentos secretos, que o líder da VPR seja um dos informantes brasileiros à empresa de espionagem Stratfor.
A mídia oligárquica, brasileira e internacional, não tem se deu ao trabalho, há três anos do início dos protestos, de investigar a origem dos "líderes" desses movimentos e de seus fundos, e nada indica que mudará a posição omissa (por questões óbvias). Mas um fato é inegável: não se trata de movimentos espontâneos e nem de líderes movidos pelo exercício da cidadania, pelo amor à democracia e muito meno ao sofrido povo brasileiro.
Luta Anti-Corrupção ou Golpe à Democracia?
"(...) O Estado de S. Paulo e O Globo, além da revista Veja podem se dedicar a informar sobre os riscos que podem advir de se punir quem difame religiões, sobretudo entre a elite do país. Esta Embaixada tem obtido significativo sucesso em implantar entrevistas encomendadas
a jornalistas, com altos funcionários do governo dos EUA e intelectuais respeitados. Visitas ao Brasil, de altos funcionários do governo
dos EUA seriam uma excelente oportunidade para pautar a questão para a imprensa brasileira (...)"
(Telegrama confidencial enviado da Embaixada dos EUA em Brasília, em 2009, liberada porWikiLeaks, revelando a subserviência literalmente comprada da mídia elitista tupiniquim. Grifos nossos)
Por fim, altamente sintomático também é o fato que a Casa Branca, que em determinados casos se manifesta veementemente a favor de democracias nacionais, não se manifesta sobre os métodos golpistas do Judiciário e do Congresso brasileiro, sustentados pelo monopólio midiático (no Brasil, controlado pelas mesmas cinco famílias promotoras do golpe militar de 1964), tudo isso obviamente reverberado nas reacionárias e agressivas ruas brasileiras hoje, através de clamor por retorno à ditadura militar.
Conforme escreveu o jornalista norte-americano residente no Brasil, (https://theintercept.com/2016/03/18/o-brasil-esta-sendo-engolido-pela-corrupcao-da-classe-dominante-e-por-uma-perigosa-subversao-da-democracia/) Glenn Greenwald: "Em uma democracia, governos são eleitos pelo voto, não por demonstrações de oposição na rua - particularmente quando os manifestantes vêm de um segmento social relativamente limitado [elite e classe média]. (...) Não há dúvidas de que o PT é repleto de corrupção. Existem sérios indícios envolvendo o Lula que merecem ser investigados de maneira imparcial e justa. E o impeachment é um processo legítimo em uma democracia quando provado que o suspeito é culpado de vários crimes e a lei deve ser seguida claramente quando o impeachment é efetuado. Mas (...) o esforço para remover Dilma e seu partido do poder lembram mais uma clara luta anti-democrática por poder do que um movimento genuíno contra a corrupção. Em outras palavras, tudo isso parece historicamente familiar, particularmente para a América Latina onde governos de esquerda democraticamente eleitos tem sido repetidamente removidos do poder, por meios não legais ou democráticos".
Mas a mentalidade elitista impregnada na maior parte destes segmentos societários brasileiros, fechados em seus fortes preconceitos de classe e de cor, não lhes permite compreender (e aceitar) que derrotas fazem parte do Estado de direito - o que muitos nem sequer sabem o que significa: nada mais que a democracia que elegeu Dilma Rousseff com 54 milhões de votos.