Povos do Xingu se unem para promover a gestão e proteção integrada de seus territórios

2º Encontro Xingu+ reúne lideranças indígenas e de populações tradicionais do corredor de diversidade socioambiental da Bacia do Xingu, em Altamira (PA), para debater estratégias de proteção e buscar soluções frente aos seus desafios

Entre 22 e 24 de outubro, a cidade de Altamira (PA) recebeu cerca de 70 lideranças indígenas e extrativistas no 2º Encontro Xingu + Diversidade Socioambiental no coração do Brasil. O encontro reuniu 21 instituições indígenas e ribeirinhas do corredor do Xingu e seis organizações de apoio (veja quadro no final do texto com organizações que fizeram parte do evento). Teve como objetivo compartilhar informações e experiências para promover a valorização, gestão e a proteção integrada do corredor do Xingu de diversidade socioambiental. Trata-se de um mosaico de Terras Indígenas e Unidades de Conservação que abarca 27 milhões de hectares (54% da superfície total da Bacia) e comporta 10 UCs e 20 TIs, morada de centenas de famílias de ribeirinhos e 26 povos indígenas.

A pergunta “o que nos une?” foi o ponto de partida e os participantes foram convidados a refletir sobre os pontos comuns da Bacia do Xingu, área de 51 milhões de hectares incidentes em 40 municípios do Mato Grosso e Pará. (Veja o mapa).

“Nós somos diferentes, mas a gente luta pelos mesmos objetivos, que é a busca de soluções para as ameaças ao nosso território”, afirmou Itamir Bernaldino, da Reserva Extrativista (Resex) Rio Xingu. Itamir também reiterou a importância de valorizar as diferenças entre os povos, cada um com sua cultura, seu patrimônio, seus produtos obtidos com o uso sustentável da floresta, como forma de união e criação de uma identidade do corredor do Xingu.

Encarar o território de forma integrada favorece a consolidação de estratégias de proteção dessas Terras Indígenas e Unidades de Conservação e a valorização dos produtos agroextrativistas que advém desse mesmo território. A união dos povos é importante para frear as ameaças que pressionam os limites do corredor: desmatamento, queimadas, grileiros, madeireiros, grandes obras de infraestrutura e pesca ilegal, além de inúmeras propostas em curso no Congresso Nacional que tem como objetivo restringir direitos de indígenas e populações tradicionais, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/00.

Ribeirinhos e indígenas foram protagonistas

A voz das populações ribeirinhas e indígenas da Bacia do Xingu foi protagonista do encontro. Por meio de espaços de conversa temáticos (Economia-Produção e Comercialização; Proteção Territorial; Políticas Públicas; Patrimônio Cultural e Gestão das Associações) os participantes puderam trocar experiências e debater estratégias de atuação articuladas para a Bacia.

“A Bacia do Xingu é o coração e nós somos as veias e artérias que conectam o território”, exemplificou Herculano Costa, presidente da Associação de Moradores da Resex Rio Xingu (Amomex). “O que afeta a cabeceira do rio afeta quem está no baixo, por isso temos que nos unir”. Ainda que a maioria das UCs da Terra do Meio, região entre os rios Xingu e Iriri, tenha sido decretada no início dos anos 2000, a proteção do território continua sendo um dos principias desafios. A publicação Rotas do Saque, recém lançada pelo ISA, identificou 41 pontos de pressão no território, entre estradas clandestinas, pastos ilegais recém-queimados, desmatamento e degradação (leia a publicação).

“Não podemos deixar de ser quem somos, apesar da pressão e violência não podemos deixar de valorizar a nossa cultura que define quem nós somos. A cultura é a vida”, afirma o professor Korotowi Ikpeng. O reconhecimento dos ribeirinhos e indígenas enquanto povos do Xingu passa pela valorização da cultura dos povos que ali vivem, tema de grupos de discussão e conversas durante o encontro. Sobre isso, Korotowi lembrou da previsão feita pelo antropólogo Darcy Ribeiro, de que até a década de 1990 todos os índios seriam brancos e também da época da ditadura militar (1964-1985), que coibia que os índios se reconhecessem, como povo indígena: “Mas foi o contrário! Antes os índios tinham medo de falar que eram índios. E hoje não mais, a gente não tem mais medo”.

Foram levantados alguns pontos para fortalecer a manutenção do patrimônio cultural no corredor do Xingu, como intercâmbios entre povos para promover a troca de conhecimentos, experiências, a formação de um banco de dados para o acesso de toda a população da Bacia, expedições aos lugares sagrados, como forma de reforçar a necessidade da troca de saberes entre as gerações. “Uma nação que não preserva sua cultura, morre a cada geração. Quando você não repassa a sua cultura, ela acaba”, alerta Oreme Otumaka Ikpeng, jovem da aldeia Moygu (PIX).

Isabel Harari

ISA

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Timothy Bancroft-Hinchey