Prenderam Dirceu, para prender Lula e golpear Dilma

"Mais uma vez tenta-se prender Gregório Fortunato para derrubar Getúlio, ninguém de verdade preocupado com o crime", Frédi Vasconcelos, revista Fórum, julho de 2005.

Fernando Soares Campos

 Em julho de 2005, no calor da deflagração do escândalo do "mensalão" (sim, continuo usando aspas), escrevi artigo intitulado "Cabo Anselmo e os neogolpistas", publicado no diário ibero-americano La Insignia, editado em Madri.

No artigo, trato da intenção que os golpistas tinham (têm) de assassinar a reputação do presidente Lula e demolir a sua imagem de "populista", substituindo-a por alguma coisa próxima aos mais degradantemente mal-afamados corruptos, como, por exemplo, Jean-Claude Duvalier, o "Baby Doc" do Haiti. Daí para baixo...

Continuo acreditando que, caso perpetrem o golpe de estado (o que hoje pretendem não tem outro nome), com o consequente retorno das forças retrógradas ao poder, provavelmente agirão conforme tratei neste trecho do artigo, em julho de 2005:

"O presidente João Belchior Marques Goulart era muito mais pressionado pela classe trabalhadora do que Luiz Inácio Lula da Silva, portanto aquele esteve mais vulnerável a agitações populares que resultassem em desestabilização de seu governo do que este. Goulart é tratado por muitos historiadores (e nem tanto) como um "fraco de caráter". Chegam a dizer que o seu governo "não foi derrubado", apenas "caiu de poder". Escrevem "histórias" contando que o golpe de 64 não fora o resultado de planejamentos conspiratórios delineados com muita antecedência, mas sim um movimento improvisado, oportunista. Hoje a imprensa já está se antecipando à História: antes mesmo da possível derrubada de Lula, já lhe conferem características desse tipo. Falam dele como um "acuado". Dizem até que tomou decisões atendendo exigências de Roberto Jefferson, quando do depoimento deste na CPI dos Correios e nas suas declarações à imprensa. No artigo "É só Jefferson mandar...", revista Época, assinado por Raquel Ulhôa, a autora apresenta a matéria com a seguinte epígrafe: "Depois de Dirceu, Lula demite três diretores acusados pelo deputado [Roberto Jefferson] de desviar dinheiro de Furnas e, acuado, se prepara para mudar o ministério". No contexto, encontram-se declarações atribuídas ao senador Álvaro Dias (PSDB): "Parece que só o senhor [Roberto Jefferson] demite neste governo. Pediu a demissão de José Dirceu e ele saiu da Casa Civil. Provocou a demissão das diretorias dos Correios e do Instituto de Resseguros do Brasil. Agora, com uma frase, derrubou a direção de Furnas". Cita-se ainda certo (não dá nome) ministro que teria dito: "O que vai acontecer se na próxima entrevista Jefferson atacar mais gente do governo? Todo mundo que ele disser que é ladrão vai ser demitido na hora? Esse poder seria maior que o do próprio Lula". Pode não ser, mas parece que estão pintando propositadamente uma imagem de Lula de tal forma que, depois de ser banido do Planalto, seria colocado na galeria dos "fracos de caráter", como fazem com João Goulart."

Mais adiante:

"E finalmente gostaria de destacar um trecho do artigo "Um novo agosto com outros fortunatos", de Frédi Vasconcelos, na revista Fórum:

"Depois da morte do PT o país será melhor. Toda a corrupção acabará e nosso servilismo à pátria mãe América voltará a ser com dantes, na terra de FHC Abrantes... Todos dormirão em paz no país mais injusto no mundo. Esse grito não terá efeito. Os donos do poder já decidiram e contaram com a ajuda de diversos idiotas e corruptos no PT e no governo. Mas mais uma vez tenta-se prender Gregório Fortunato para derrubar Getúlio, ninguém de verdade preocupado com o crime."

E agora prenderam Dirceu, para prender Lula e golpear Dilma.

Hoje, em meio às pesquisas que costumo fazer na internet, encontrei essa matéria de Carta Maior:

"Vinte anos nas capas da 'Veja'"

 Gilberto Maringoni - 20/09/2011

O presidente Lula sofreu impeachment em agosto de 2005. Quase ninguém se lembra dele. Era um trapalhão barrigudo, chefe de quadrilha e ignorante.


A história seria assim, se o mundo virtual da revista Veja fosse real. Selecionamos 123 capas da revista, de 1993 a 2010. Elas formam uma narrativa surpreendente, quase uma história em quadrinhos da história política do período. FHC é o presidente dos sonhos da publicação. Sério, compenetrado e trabalhador, fez uma gestão exemplar. O ex-metalúrgico, por sua vez, é um demagogo que merece apenas um chute no traseiro.

A visão de Veja é a visão da extrema direita brasileira. Tem uma tiragem de um milhão de exemplares e é lida por muita gente. Entre seus apreciadores está, surpreendentemente, o governo brasileiro. Este não se cansa de pagar caríssimas páginas de publicidade para uma publicação que o achincalha com

um preconceito de classe raras vezes visto na imprensa.

Freud deve explicar. Clique no link abaixo para ver a sequência. Vale a pena.

As capas de Veja (http://www.cartamaior.com/capas_veja/ )

 

Confira: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Vinte-anos-nas-capas-da-Veja-/4/17590

 

Eu diria: clique, leia cada comentário, não se paga "pena" alguma, pelo contrário, trata-se de excelente trabalho jornalístico, realizado por bons profissionais do ramo e que proporciona boa informação com deleite...

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey