Exportações: EUA são o foco

SÃO PAULO - Os Estados Unidos já representaram o principal destino das exportações brasileiras, mas, desde 2003, quando o governo brasileiro entendeu de reduzir uma suposta dependência econômica e passou a trabalhar para o fracasso das negociações para a criação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), o Brasil só perdeu espaço naquele mercado, o maior do planeta.

Mauro Lourenço Dias (*)

Basta ver que, no primeiro bimestre deste ano, as vendas para os Estados Unidos somaram US$ 3,7 bilhões, o que equivale a apenas 14,6% do total.  Ou seja: a participação norte-americana nas exportações brasileiras ficou atrás da Ásia (27,8%), América Latina e Caribe (20,8%) e União Europeia (20,1%).

Cenário difícil

Com o cenário difícil que se contempla nos dias de hoje e o processo de desindustrialização que ameaça o parque fabril nacional, o próprio governo brasileiro, herdeiro daquele que se iniciou em 2003, hoje reconhece implicitamente a insensatez daquela política exterior. E, desde o dia 1º de janeiro de 2015, passou a apostar no mercado norte-americano com a esperança de que a balança comercial brasileira seja menos dependente de economias de regiões com baixo crescimento econômico.

 Ainda bem que a economia norte-americana dá sinais de recuperação neste ano, o que poderá fazer com que a demanda por produtos manufaturados produzidos no Brasil aumente, diminuindo os prejuízos que se prevêem em função da retração que se vê especialmente na Argentina. Mas isso não significa que o mercado norte-americano irá se abrir de um dia para o outro. Como se sabe, a conquista de mercados é um processo paulatino que passa pela retomada da confiança perdida junto ao cliente. Até porque, se um produto perde espaço, é imediatamente substituído por outro, de outro país. E não é fácil recuperar o terreno perdido.

Preço de produtos ao nível mais baixo

Para piorar, um levantamento da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) revela que os preços dos produtos vendidos pelo Brasil estão no nível mais baixo desde novembro de 2009, o que tem contribuído para o registro de seguidos déficits na balança comercial. Até fevereiro, a balança acumulava um déficit de US$ 6 bilhões, especialmente em função de queda nas cotações das commodities, o que se deu pela desaceleração da economia chinesa, grande importadora de produtos básicos. Por isso, a desvalorização do câmbio - tão esperada pelos exportadores - ainda não vem compensando a queda de preço e o aumento de custo.

Seja como for, a desvalorização do real deve beneficiar especialmente a exportação dos produtos manufaturados, o que já se pôde notar em março. Mas, para que esse crescimento seja seguro e gradual, é preciso que haja maior abertura no mercado norte-americano, já que a América Latina, um dos principais destinos dos manufaturados, passa hoje por uma fase de desaceleração econômica.  O que se espera, portanto, é que o Memorando Bilateral sobre Facilitação de Comércio, que Estados Unidos e Brasil acabaram de assinar em Washington, produza logo seus efeitos.

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(*) Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br

 


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Timothy Bancroft-Hinchey