Lula na guilhotina, Dilma de tricoteuse

A Agência Fapesp, uma agência de notícia eletrônica, totalmente gratuita (segundo o seu "Quem Somos"), uma espécie de PressAA metida a besta, publicou resenha do livro "Virtuosas e perigosas: as mulheres na Revolução Francesa", de Tania Machado Morin, a ser lançado em janeiro de 2014.


Fernando Soares Campos


Com a pulga atrás da nossa orelha, resolvemos reproduzir o texto aqui nesta nossa Agência Assaz Atroz. Mas gostaríamos de fazer algumas observações.
 
O título do livro informa que a pesquisadora identificou distintas personalidades femininas: "Virtuosas e perigosas"; enquanto o título da resenha interroga: "Virtuosas ou perigosas?". Em ambos os casos faz-se uma distinção, certamente baseada em informação da pesquisadora:
 
Constituiu-se, assim, no imaginário da época, a dicotomia "virtuosas versus perigosas". Como Morin explica em seu livro, "virtuosas" eram as mulheres idealizadas pelos líderes da Revolução: as "mães republicanas" que, por meio do parto, do aleitamento e da educação dos filhos, preparavam a futura geração de patriotas. "Perigosas" eram "as militantes, às vezes armadas, que denunciavam a incompetência e a corrupção dos governantes e exigiam a punição dos 'traidores do povo'".


Até aí morreu Neves, o machismo da época pode explicar o fato, portanto até que dá pra engolir essa tese. Porém, mais adiante o resenhista diz por sua própria interpretação:
 
É sintomático que essa visão negativa acerca das mulheres militantes tenha sido endossada, em momentos diversos, por diferentes facções em luta no processo revolucionário. Não apenas pela contrapropaganda monarquista, como seria de esperar, mas também pelos girondinos (representantes principalmente da alta burguesia moderada), jacobinos (representantes principalmente da pequena burguesia radical) e outros agrupamentos políticos. Apenas as facções revolucionárias mais radicais, como a dos chamados enragés ("enraivecidos"), sustentaram até o final a militância feminina.


Sei não! Sei não! Mas tem angu nesse caroço (ou seria o contrário?!).
 
Quem chamava essas facções radicais mais profundas, os radicais dos radicais, de "enragés" (enraivecidos)? Por que, definidamente, somente esses sustentavam a militância feminina? Veja que, nesse caso, separa-se uma suposta "minoria" de "enraivecidos" que apoiavam toda a militância feminina. É o que se deduz. Portanto, coloca-se, assim, toda a militância feminina num saco de "tricotadeiras", mulheres frias, inclementes, monstruosamente insensíveis. Enquanto os homens são tipificados em monarquista, burguesia moderada (girondinos), pequena burguesia radical (jacobinos) e outros agrupamentos políticos.
 
Porém, a experiência vivida me diz que pessoas enraivecidas, iradas, brutalizadas, inclementes, intolerantes, cruéis, atrozes são geralmente misóginas e, em muitos casos, usam capa, ou toga, de moralista, jamais revelando suas aversões às mulheres. O disfarce pode ser sob a forma de falso sedutor-libertino e/ou homofóbico.
 
As tricoteuses, por exemplo, não podem ser consideradas as principais representantes das mulheres revolucionárias, pois eram escolhidas entre as raivosas mal-amadas, ou ingênuas muito sofridas, para se sentar em frente ao patíbulo, fazer a claque aos gritos, a fim de minimizar o sentimento de culpa dos carrascos e dos homens taciturnos da plateia; muitos deles eram, na verdade, "revolucionários de última hora", ex-agentes da repressão, colaboradores da monarquia, traidores de seus pares. Estes eram os agenciadores de "tricoteuses", eles instigavam algumas mães, dizendo que o condenado teria sido aquele que torturou, estuprou e assassinou sua filha, filho ou marido.
 
O problema de as mulheres revolucionárias (as principais responsáveis pela Revolução Francesa) terem sido desmobilizadas foi o fato de não contarem com um liderança feminina expressiva. Depois de usá-las, os homens as descartaram, mandaram de volta pra cozinha, o tanque de lavar e a cama.
 
É basicamente o que acontece hoje com os movimentos "acéfalos", convocados pela internet, supostamente sem lideranças. Também foi o que aconteceu com o impeachment de Collor, os caras-pintadas não passaram de bucha de canhão. Tempos depois, a "liderança" fabricada para aquele momento, sentiu-se usada e foi reaproveitada pelo PT.
 
Quanto ao título da resenha, ou mesmo do livro, essa coisa de qualificar as mulheres em "virtuosas e/ou perigosas" não tem sentido, quando se trata de mulheres revolucionárias, pois, para mim, por mau exemplo, a virtude mais nobre seria o fato de serem perigosas.
 
Gostaria de continuar tratando dessa resenha, mas acho melhor esperar o lançamento do livro.
 
Porém, como a pulga está insistindo, vou opinar sobre o mecenato.
 
A Agência FAPESP é um serviço da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e tem como presidente do Conselho Superior ninguém menos inferior que Celso Lafer, que foi chanceler de Fernando Henrique Cardoso. Sim, é ele mesmo, aquele que tirou os sapatos no aeroporto de Miami, em 31 de janeiro de 2002, em simbólico ato de submissão do governo brasileiro ao império do terror.
 
O resenhista, José Tadeu Arantes, o Kabir, é um guru discípulo do grande mestre Babaji Nagaraj, nasceu em São Paulo, em 11 de fevereiro de 1951. Atua profissionalmente como jornalista, escritor e professor. Com atividade na mídia desde 1976, trabalha atualmente na Gerência de Comunicação da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), e dá aulas no curso de Extensão em Jornalismo da PUC de São Paulo. Em outubro de 2011, rodeado pelas majestosas montanhas do Himalaia, recebeu de seu instrutor, Govindan Satchidananda, o nome espiritual de Kabir, em homenagem ao grande poeta místico do século XV, e como lembrança da meta que deve buscar na vida.
 
Deve ser um desses gurus que, quando seus seguidores o veem, erguem as mãos aos céus e dizem: "Salve, ó Deus!", e ele responde "Salvá-lo-ei".
 
Não sei por quê, só sei que essa pulga petista está incomodando pra caramba! Ela quer dizer que podem reeditar a ficha falsa de terrorista da presidenta Dilma. Ou, se já saíram com um "Lula X-9", nada melhor pra jogar um contra o outro: Lula vira Robespierre e Dilma incorpora o espírito de Maria Antonieta, no papel de Viúva Capeto, a vingança.


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey