Brasil: Levante popular sacode o País. Governantes fogem

No Brasil, levante popular sacode o País e governantes fogem da ira do povo

BRASILIA/BRASIL - No Brasil, um levante popular contra a corrupção nos serviços públicos, o descaso dos políticos e governantes com as necessidades básicas da população e os gastos absurdos e desnecessários com a Copa do Mundo de 2014, mobilizou 2 milhões de pessoas, em 438 cidades, sacudindo o País, de Norte a Sul, no último dia 20. 

Por ANTONIO CARLOS LACERDA

PRAVDA.RU

Descontente com a desordem e desmoralização política, social, ética e moral dominante no País, e clamando por uma reforma radical para impor uma nova ordem pública, o povo brasileiro foi às ruas protestar aos olhos do mundo e deixar clara a sua indignação com a classe dos políticos e governantes.

A corrupção política e o descaso dos governantes para com serviços públicos como saúde, segurança, transportes urbanos, educação, saneamento básico e o desperdício de mais de R$ 2 bilhões com a Copa do Mundo de 2014, que deveriam ser pagos pela FIFA, entidade responsável pela realização do evento, eram os temas mais abordados pelo levante da Nação indignada.

Assustados e temendo serem massacrados pela ira popular, os homens públicos, notadamente os políticos, se refugiaram, principalmente, em seus suntuosos gabinetes, protegidos por forças militares.

Até o maior líder do País, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já foi o rei das ruas, das manifestações populares e das greves sindicais, o metalúrgico que enfrentou as espadas dos generais da ditadura militar, não fez nenhum pronunciamento público nem deu as caras durante as manifestações, que terminaram com bombas, quebra-quebra, depredações, vandalismos, prisões, feridos e mortos, uma verdadeira guerra civil de militares contra o povo brasileiro.

Em Brasília, capital do País, a presidente Dilma Rousseff se encastelou no Palácio do Planalto, totalmente cercado, protegido e inexpugnável pelo Exército. O Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, foi invadido e depredado pela ira popular.

O Congresso Nacional, de onde seu presidente, senador Renan Calheiros, escapou pelos fundos, também por pouco, muito pouco, não foi dominado pela fúria de manifestantes, que chegaram a iniciar a escalação de suas rampas e portões.

Em São Paulo, o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado, por pouco não foi invadido e dominado por populares em fúria, que chegaram a quebrar o portão da entrada principal.

No Rio de Janeiro, o enfrentamento de militares e populares virou guerra de rua. Em Santa Catarina, a capital, a ilha de Florianópolis, ficou sitiada durante cinco horas por manifestantes.

 Em todo País, de Norte a Sul, dos três poderes que constituem a República Federativa do Brasil (Executivo, Legislativo e Judiciário) só houve um homem publico ousou sair de seu gabinete de trabalho e ir ao encontro dos manifestantes. Foi o presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, no Sudeste do País, desembargador Pedro Valls Feu Rosa, que saiu de seu gabinete, desceu a escadaria do tribunal e foi ao encontro de milhares de pessoas para ouvir suas reivindicações.

O desembargador Pedro Valls Feu Rosa disse que o povo clama pela instalação urgente no País de um novo pacto republicano, com uma nova ordem política e social, sendo um sagrado e inalienável dever dos três poderes que constituem a República Brasileira, entre eles o Judiciário, se pactuarem com o povo para essa fase de transição.

No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande acompanhado do seu vice, Givaldo Vieira, e do deputado Vandinho Leite, 'fugiram' para o interior do Estado, sob a justificativa de inaugurar obras e fazer contatos políticos, como se nada estivesse acontecendo de grave em Vitória, a capital, onde 130 mil pessoas tomaram as principais ruas, avenidas e praças da cidade, em uma manifestação que terminou após o encontro do presidente do Tribunal de Justiça do Estado com os manifestantes.

A dimensão e a gravidade do levante popular, que levou para as ruas de 438 cidades dois milhões de brasileiros, desde criança de colo até idosos de 90 anos, assustou dirigentes da FIFA, entidade considerada antro de corrupção oficial do futebol mundial, a cogitar cancelar a Copa do Mundo de 2014 no País, e suspender a Copa das Confederações, que está sendo realizada no País.

O presidente da FIFA, suíço Joseph Blatter, que veio ao Brasil presidir a solenidade de abertura oficial da Copa das Confederações e foi sonoramente vaiado no estádio nacional de Brasília com a presidente Dilma Rousseff, quando sentiu a gravidade das manifestações do povo brasileiro contra os gastos com a Copa do Mundo de 2014 entrou em um avião e foi para a Europa, escapando de ser hostilizado de corpo presente no levante popular do último dia 20.

No dia seguinte ao levante, que muitos imaginavam ficaria limitado apenas aos acontecimentos do último dia 20, as manifestações continuaram nas duas maiores cidades do País, a cosmopolita São Paulo e a Paris das Américas, o Rio de Janeiro, em um sinal claro que a indignação popular com os políticos e governantes do País não está próxima de um final feliz.

No dia seguinte ao levante nacional, visando aplacar a ira popular, espertamente, o governo petista colocou a presidente Dilma Rousseff frente às câmeras de TV, em pronunciamento oficial à Nação enfurecida, prometendo, agora, no apagar das luzes do seu governo, elaborar um Plano Nacional de Mobilidade Urbana que privilegie o transporte público.

A presidente Dilma Rousseff disse em rede nacional de rádio e TV: "Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos. O foco será: primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte coletivo; segundo, a destinação de 100% dos recursos do petróleo para a educação; terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do SUS".

No dia seguinte ao pronunciamento de Dilma Rousseff em rede nacional de Rádio e TV, nas redes sociais da Internet circulavam abaixo-assinados propondo o Impeachement da presidente e convocações de centenas de outras manifestações populares em todo o Brasil, entre elas duas greves gerais nos dias 26 de junho e 1° de julho, que prometem voltar a sacudir o País de Norte a Sul, desta vez com ecos em toda a região tropical do globo terrestre.

Líderes populares disseram que o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff foi mais um expediente para desmotivar as manifestações e desarticular o levante nacional da indignação popular contra políticos e governantes corruptos.

"O governo petista teve 11 anos para sacramentar esse pacto em torno da melhoria dos serviços públicos (oito anos com o ex-presidente Lula e três anos com a presidente Dilma), mas, só agora, que sentiu na pele o descontentamento do povo, é que veio com essas promessas de cunho demagógico, emocional e de apelo popular. Mas nada disso vai tirar o povo brasileiro das ruas nem desarticular seus protestos e indignações", disse um indignado manifestante de ruas.

ANTONIO CARLOS LACERDA é Correspondente Internacional do PRAVDA.

 


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Timothy Bancroft-Hinchey