Como se explica a derrota que ACM Neto impôs ao time de Dilma e Wagner

Por Raul Monteiro

Deve-se dar o desconto à mágoa que leva o deputado federal Nelson Pelegrino (PT) a maldizer a fatia do eleitorado que deu a cadeira de prefeito a seu adversário ACM Neto (DEM) em Salvador. A voz embargada e a fisionomia de desamparo exibidas pelo petista nessa segunda-feira (29/10) eram o retrato fiel da dor que a derrota lhe provocou e merece sincero respeito. Mas Pelegrino é vítima de si próprio ou da sua incapacidade de montar um discurso substancial e articulado para a cidade nesta campanha.

Achar que a tese do alinhamento (aos governos estadual e federal) seria suficiente para guindá-lo à chefia do Thomé de Souza só demonstrou a ingenuidade ou o despreparo do candidato e de todo um partido e seus mentores. Primeiro, porque trata-se de uma concepção obsoleta e datada, construída habilmente num dado período histórico com objetivos eleitorais pelo maior adversário de todos os tempos das esquerdas baianas.

Foi ACM, o avô, que a lançou com a inteligência, a competência política e o senso de oportunismo que a história não lhe negam. Na época, era a melhor isca para dar ao seu grupo, pela primeira vez em tempos democráticos, a capital baiana, que havia passado por duas administrações catastróficas em sequência, a de Fernando José (PMDB) e a de Lídice da Mata (PSB). Funcionou e garantiu a vitória, no grupo carlista, a Antonio Imbassahy, que se reelegeria, exibindo seus resultados, quatro anos depois.

O alinhamento é vazio porque comete o pecado mortal de desconsiderar o espírito libertário e autonomista do soteropolitano que a eleição de Lídice, por exemplo, e a do próprio João Henrique (PP), na sucessão de Imbassahy, ainda sob a égide de ACM, provariam mais uma vez e que, lamentavelmente, foi de forma solene desconsiderado por dois estrangeiros - o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff.

No afã de ajudarem a qualquer custo o correligionário Pelegrino, superestimando seu próprio poder e carisma, Lula e seu ex-poste, que hoje parece estar querendo piscar com luz própria, se dividiram em espetáculos de grosseira chantagem e intimidação ao eleitorado da capital que não precisavam constar em suas biografias.

Mas o alinhamento se mostrou mais do que ineficaz, um verdadeiro tiro no pé, também pelo que impôs de reflexão imediata sobre a colaboração entre as instâncias de poder municipal, estadual e federal. Ora, a tese acabou desnudando os resultados de uma administração estadual petista de seis anos de capacidade de execução frágil e que não se faz sentir em Salvador nem na Bahia quando o assunto é mobilizar o governo federal em defesa dos baianos.

Cabe perguntar: Em oito anos de governo, que presente deu o então presidente Lula a Salvador e à Bahia que permanece na memória de soteropolitanos e baianos? Há algum ministro aí na equipe de Dilma que seja da Bahia, indicado pelo governo estadual? Trocando em miúdos: Alinhar é bom quando se percebem resultados práticos e públicos, coletivos. Não o das intimidades, comentadas nas colunas sociais, em que se propala o prestígio pessoal dos mandatários com quem chefia a nação. Elementar, companheiros petistas!

Por que alinhar se o alinhamento parcial (ou pessoal) já existente (entre os governos estadual e federal) não acrescenta ou agrega nada ao patrimônio simbólico e material do baiano? Mas houve um outro equívoco que Pelegrino passou a fazer com aspecto descontrolado na campanha do segundo turno. Esqueceram de avisar a ele que o carlismo morreu com ACM num processo iniciado com a eleição de Jaques Wagner, que, confirmando o féretro, ainda tratou de absorver vários ex-carlistas em seu governo.

Querer dar vida a um fenônemo histórico que desvaneceu com seu criador não é atributo de quem se considera um deus. Mas de quem, antecipadamente, revela todo o seu desespero numa batalha. Para assombro de um eleitorado que merecia ver respeitada a sua inteligência, assim como a sua vocação histórica para a afirmação de sua independência. Que precisava ser surpreendido não com o medo, mas com a esperança. Aliás, não foi quem usou o bordão petista que venceu a eleição?


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Timothy Bancroft-Hinchey