Os portugueses e as portuguesas lutaram durante décadas pelos seus direitos, conquistando vitórias que proporcionaram um estado digno ao trabalhador - um horário que em princípio mais ou menos respeitava a ética que as horas de trabalho representam um terço do dia (oito horas), lutaram durante décadas para assegurar segurança no lugar de trabalho e direitos contra despedimento por forças reaccionárias que usavam e abusavam as pessoas quando lhes conviessem e depois as descartavam.
A péssima gestão política de Portugal não é novidade nesta coluna nem é surpresa para os que seguem Portugal durante as últimas décadas. A classe política pertencente aos partidos no poder desde 1974, nomeadamente PSD/PPD, CDS/PP e PS arruinou o país, seguindo políticas maníacas, destruindo as pescas, indústria e agricultura, aceitando financiamento por destruir ou não produzir e depois quando Portugal bate ao fundo (onde é que havia de ir, sem produzir nada?) em vez de injectarem dinheiro na economia, retiram-no. Ora bem, são parvos, ou quê?
Além disso, aceitaram as órdens da "Troika" como um lacaio aceita as órdens do mestre, dizendo que "sim" obedientemente com a cabeça, cabisbaixo, é claro. Servis! E estas imposições da troika nem tomaram em conta a realidade de cada português/portuguesa, nem foram implementadas através de um processo consultivo; numa falta total de democracia, foram introduzidas de forma draconiana, tornando a vida da maioria dos portugueses num inferno de incerteza e preocupação e retirando qualquer possibilidade à economia poder crescer.
Como pode crescer uma economia quando os impostos injustos levam a sociedade ao ponto de ruptura, como pode crescer uma economia quando são adoptadas medidas que nada fazem para proteger as firmas que estão na corda bamba, quando nada é feito para ajudá-las a sobreviver? E ainda por cima, postula-se nesse clima políticas como aumentar as rendas das casas numa altura em que deveriam estar a estimular esse marcado, já que ninguém consegue comprar uma casa porque os bancos estão parados, mais concentrados em gerir o que têm do que fazer aquilo para o qual foram criados, isso é emprestar dinheiro.
Soluções
Sendo assim, o que valem os bancos? Se é assim que se comportam, seria melhor nacionalizá-los, e fazer com o dinheiro aquilo que teimam em não fazer - nomeamente estimular a economia; mandar para fora a troika; suspender o pagamento da dívida e renegociá-la; sair já da Zona Euro, porque Portugal nunca teve nem nunca terá as condições para a economia funcionar com as mesmas linhas-guia da Alemanha e virar-se mais para o espaço CPLP.
Se os iluminados adiantados mentais que governam Portugal há décadas entendessem a história do país que levaram à beira da miséria, entenderiam que Portugal não é um país mediterrâneo, nem nunca será - é um país atlântico que nunca viveu a olhar para o oriente ("da Espanha, nem bons ventos nem boas mulheres") mas que há séculos vive virado para o mar, para fora, para o espaço CPLP.
Por que razão então é que estes iluminados idiotas deixaram que a Europa tomasse controlo de todos os centros de produção nacional, por que razão é que deixaram a Europa fechá-los e por que razão é que negociaram os trade-offs (as trocas comerciais) e ganharam nitidamente nada em troca?
O absurdo não é o Aníbal Silva (agora Presidente no segundo mandato) aparecer agora a falar da indústria e da agricultura, esquecendo-se do facto que era ele o Primeiro-Ministro entre 1985 e 1995, precisamente quando milhões e milhões estavam jorrando pelas fronteiras dentro, e esquecendo-se que era ele o principal responsavel pela péssima gestão económica e financeira na falta de preparação do país para o desafio europeu...o absurdo é que os portugueses votaram para ele, duas vezes...porque é "sério".
Mas que palhaçada é essa?
Os que falam dos efeitos cataclísmicos de uma saída do Euro ignoram o facto que as consequências são tão fortes ou dramáticas quanto os que gerem Portugal querem que sejam, embora não me surpreenderia nada que eles ignoram estas possibilidades. Há maneiras de criar almofadas, há alternativas para facilitar um menor impacto social. Mas com uma banca que nem sequer produziu uma única solução para a profunda crise que a própria banca e a péssima governação criou pela sua inépcia, incompetência e total incapacidade, e um governo cuja preocupação social é zero absoluto, que se limita a implementar políticas de laboratório, só com outro governo, só com outra banca. E repito, nacionalizada.
Sair do Euro é criar as condições para estimular outra vez os meios de produção que os que governam Portugal há décadas venderam pelo rio abaixo, é estimular a produção agrícola, é povoar o interior do país, tirando das cidades os males provocados por superlotação, é trabalhar as terras que estão inutilizadas, é criar postos de emprego, é aumentar as exportações.
Tudo isto reduz a carga do Estado em pagar subsídios, cria mais dinheiro e riqueza nacional através de uma economia estimulada, através de mais rendimento dos impostos, não um aumento dos mesmos.
Não estou a falar num país gerido por incompetentes, onde o que tem olho é rei entre os cegos, onde o tecido político não passa de uma cambada de burros a serem montados por Europeus que nunca tiveram os interesses de Portugal em consideração. Estou a falar num Portugal governado por portugueses, para portugueses, a gestão dos recursos portugueses feita para o bem nacional.
Para os que duvidam o que estou a dizer, estudem a crise dos ovos que está por vir e tirem as suas conclusões daqui a duas ou três semanas.
A solução é o contrário de aquilo que se faz hoje em dia em Portugal e o povo está certo em dizer BASTA! de viva voz e claro que tem direito a continuar o processo até que aparece em Portugal algo ou alguém capaz de gerir o país com visão para o futuro, inteligência e preocupação social e sem interesses partidários ou pessoais.
Talvez esse alguém seja mesmo o Dom Sebastião.
Timothy Bancroft-Hinchey
Pravda.Ru
Director e Chefe de Redacção
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