Analista financeiro olha para o futuro sem optimismo: o mundo vai enfrentar dez mega-ameaças

O economista americano Nouriel Roubini, internacionalmente conhecido "pela sua previsão precisa da crise financeira de 2008", sugeriu que o mundo irá enfrentar "dez mega-ameaças" num futuro próximo.


As suas estimativas de catástrofes iminentes vão desde as financeiras e económicas até às climáticas, políticas e tecnológicas.

"Políticas sensatas poderiam impedir parcial ou completamente uma ou mais delas, mas o desastre global parece quase inevitável. Temos muitos dias sombrios pela frente, amigos", adverte o economista num artigo publicado pelo The Financial Times.

Crise da dívida

No final de 2021, os empréstimos globais, tanto públicos como privados, excederão 350% do PIB do planeta.

Paralelamente, Roubini adverte, "qualquer mecanismo que tente mitigar ou prevenir esta catástrofe da dívida acarreta outros perigos, tais como a inflação que arrasta os credores para baixo, o paradoxo da poupança, o caos da falta de pagamento, o risco moral dos resgates, os impostos sobre a riqueza ou os impostos que param a vida dos negócios e do investimento".

"A grande bomba relógio".
Outra "mega-ameaça" - Roubini chamou-lhe "dívida implícita" - é que as sociedades não são suficientemente abastadas para cumprir todas as suas promessas aos reformados, cujo número está a crescer.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) estima que as responsabilidades com pensões não financiadas ou subfinanciadas atinjam 78 biliões de dólares nas 20 maiores economias do mundo, especifica a FT.

Gestores incapazes de lidar com a crise

A geração de gestores actualmente ao leme dos bancos centrais é incapaz de lidar com os problemas que se perfilam no horizonte, diz o economista.

"A nova geração não poderá fazer nada para deter a estagflação, caracterizada por um crescimento económico lento e taxas de inflação elevadas, levando a uma grande crise de estagflação da dívida, seguida de desvalorização da moeda e instabilidade económica com consequências políticas.

Além disso, a turbulência financeira levará a um maior proteccionismo e à deslocalização da produção industrial, o que, por sua vez, acelerará a desglobalização e uma maior fragmentação de um mundo interligado.

Pouca fé na inteligência artificial


Roubini é muito pessimista quanto ao impacto da inteligência artificial (IA) na economia, alertando para uma perigosa concentração do poder empresarial, o agravamento da desigualdade social e a disseminação da desinformação que mina a democracia.

"Não vejo um futuro feliz em que novos empregos substituam aqueles que são desviados pela automatização". Esta revolução parece definitiva", conclui, prefigurando uma onda de desemprego tecnológico.

A competição com a China e a crise climática

Roubini sublinha que a disputa tecnológica entre os Estados Unidos e a China apenas irá exacerbar as actuais tensões geopolíticas, podendo mesmo agravar-se numa guerra entre eles.

Quanto à emergência climática, prevê que a vaga de migração que varreu a União Europeia em 2015 é apenas um prelúdio para a migração que se avizinha.

"Possíveis soluções económicas ou políticas que resolvam problemas ambientais são politicamente impossíveis ou desproporcionadamente dispendiosas".

Um beco sem saída?
Roubini admite que existem poucos instrumentos para salvar a humanidade de "mega-ameaças".

"Apenas as inovações tecnológicas que irão aumentar a produtividade económica e melhorar o ambiente podem servir como uma linha de vida. Além disso, o crescimento económico sustentado a 5% ao ano conterá muitas das tendências que estão a mudar o destino do planeta".


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Olga Lebedeva