Neste final de setembro, diante da pressão da crise energética, identificada há bem mais de cinco anos, e que os farsantes gestores diziam que o mercado resolveria, fez brotar na imprensa comercial e hegemônica dos jornalões do Rio e de São Paulo, novas rotas de fuga à evidência solar: energia é questão de Estado, de soberania, em parte alguma do mundo o mercado atua, senão por benesse do Estado para um pequeno conjunto de privilegiados acionistas.
Também não são os combustíveis fósseis os maiores responsáveis pelas mudanças climáticas e outros desencontros ecológicos, como a realeza britânica e os capitais financeiros, juntos há mais de cinco séculos, fazem propaganda e doutrinação, para seus interesses exclusivos. George Soros está aí, para que não me desmintam.
O Estado de S. Paulo, o Estadão, que leio há setenta anos, símbolo do conservadorismo político e do liberalismo econômico, nesta edição do fim do mês, erra abundantemente. Talvez nem erre, pois seus responsáveis sabem muito bem a quem dirigem seus textos.
Muito longe de defender Paulo Guedes e seu parceiro Presidente, mas cometendo o pecado de empurrar para o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), com ajuda do Presidente da Câmara, a farsa do preço dos combustíveis, em especial do gás domiciliar, da gasolina e do diesel, além da irregularidade e preço que antecede o apagão hidrelétrico, joga apenas confusão nestes dois fornecedores primários.
O primeiro erro, capital e indesculpável, é a ausência do poder público na análise, equacionamento da demanda, projetos e suas execuções a tempo de evitar a crise hídrica que já nos assola há tempo. Podemos identificar sua origem nos anos 1990, quando aterrissam no poder do Brasil o neoliberalismo, a ausência do Estado e o deus Mercado. Mas, nestes últimos sete anos, principalmente para os paulistas, o descaso foi acentuado. Por que o mercado não veio substituir o Estado, pois alguém precisa cuidar da loja? Porque o mercado ganhava rios de dinheiros com as privatizações, com as novas intermediações entre produtores e consumidores de energia, com tarifas altamente compensadoras para os gastos obrigatórios.
Esqueceu o Estadão de se referir a falta do “Estado”, como existe até nos Estados Unidos da América (EUA), onde 73% da energia elétrica são administradas pelo Estado e Corpo de Engenheiros do Exército (United States Army Corps of Engineers) é a maior agência de engenharia pública, construção de barragens, canais e proteção contra inundações nos EUA.
Faltou também falar da jabuticaba do senhor Pedro Parente, o Preço de Paridade de Importação (PPI), inventado para um país, que tem autossuficiência em petróleo e em derivados, usar internamente preços externos, com custos de internação e seguro de variações cambiais. Parece até anedota, só que esta é para chorar.
O botijão de gás, já em dezembro de 2017, custava R$ 66,53, alta de 16,39% em relação a 12/2016, descontada a inflação. Agora os R$ 107,77, em Santa Catarina, representam 61,99% sobre dezembro de 2017. Mas o general de exército Joaquim Silva e Luna promete manter o PPI. E os governantes bolsonaristas, com gravatas verde e amarela ou usando a bandeira nacional como xale, fingem que não existe para não ser a causa da gasolina, do diesel, do gás a preços incompatíveis com o nível de renda dos brasileiros.
Nem mesmo esta sequência de inflação bolsonária:
2018 - 3,75%;
2019 - 4,31%;
2020 - 4,52%;
2021 (até agosto) - 5,67%, mostra o desacerto da política energética. E o apagão mostrará que as rezas do Malafaia, Macedo e outros neopentecostais não são ouvidas por São Pedro.
Durante os anos de governo militar, até 1985, o Brasil importava cerca de 80% de suas necessidades de petróleo, mas comparemos o início do Plano Real (01/07/1994) com este fim de setembro/2021.
Real/US dólar: 1,00 (1994); 5,65 (2021); crescimento: 5,65.
Quilo de arroz: 0,64 (1994); 3,59 (2021); crescimento: 5,61.
Passagem de ônibus (SP): 0,50 (1994); 4,40 (2021); crescimento: 8,80.
Litro de gasolina: 0,55 (1994); 7,00 (2021); crescimento: 12,7.
Há quem acredite que Bolsonaro encontrou no Paulo Guedes e sua fé no mercado a desculpa para não exibir toda sua incapacidade de administrar um país. E a devastação do covid é insofismável prova.
Mas ainda poder-se-ia arguir a novidade da pandemia.
Energia, no entanto, move há séculos a civilização. Suas fontes primárias são conhecidas, as tecnologias estão em estado avançado de maturidade, e o Brasil está na ponta tecnológica quer das fontes hídricas, quer do petróleo, quer da eólica.
Nada, senão o total desprezo pelo povo brasileiro, pela Nação, que querem vender toda antes do fim do mandato, o desastre que vivem todos os brasileiros hoje, em especial os mais pobres.
Triste sina ser governado por quem nada entende de Estado, de Governo, nem é capaz de observar que o Mercado só sabe lucrar, quando não há quem o oriente. E não pode o governo, sem ministro da educação, se propor a ensinar ninguém.
Isto, editorialistas e articulistas dos órgãos de doutrinação em massa, é o entendimento sistêmico. Se não há energia, é quase impossível ter saúde e, sem saúde, como ensinar a pessoa frágil, dependente de medicamentes cujo custo lhe fazem inacessível?
Puna-se o governador que nem aumentou o ICMS, como se punia o herege, e nem por isso a vida ficava mais virtuosa.
Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.