O sistema económico mundial e o Corona Virus
"É por demais evidente que o sistema económico internacional não está preparado para uma epidemia como o Corona Vírus.
Não só não está, como está desenhado para intensificar e piorar todas as doenças cujo contágio pudesse ser diminuído pela simples admissão que a saúde dos trabalhadores está acima do lucro das empresas, dos resultados trimestrais das multinacionais e do défice dos países soberanos.
À medida que Itália entra em quarentena total, que se generaliza a infecção em Espanha e que em Portugal se fecham escolas, universidades e se cancelam actividades por todo o país, vão chegando as histórias de como é impossível ser saudável em capitalismo.
Em Portugal parece não haver plano de quarenta para o sector privado.
Nos Estados Unidos, o equivalente à Direcção Geral de Saúde pede se faz favor aos empregadores que permitam aos seus trabalhadores ter direito a baixa.
Lá como cá, os trabalhos mais expostos ao contágio são também os mais precários, naquela mistura de trabalho indocumentado e falta de direitos que permite aos patrões obrigarem os seus trabalhadores a trabalhar doentes. É assim todos os anos na época da gripe, será assim com o Corona também. Sem acesso a baixas, ou com a realidade de um sistema de baixa incipiente, colocam-se milhões de trabalhadores numa situação em que a decisão que o protegeria a si e à comunidade, é também a decisão que o coloca em perigo de falhar os pagamentos das rendas inflacionadas pela gentrificação ou exposto à agiotagem do sistema financeiro. Ou à fome.
Assim se promove a criação de um exército de trabalhadores doentes, focos de infecção, depois eles próprios acusados de serem irresponsáveis.
Assim se criará uma narrativa em que os pobres e os imigrantes são os "sujos" e os infecciosos. Culpados da situação em que quem tem poder real, quem nunca estará em perigo real, os colocou.
Sujo é o Capital. Infeccioso é o sistema capitalista.
Um sistema que nos transforma em vectores da nossa própria doença, só tem uma saída.
A sua destruição.
A sua destruição"
Saúl Pereira