Paulo Skaf: Enxovalhando uma representação
Iraci del Nero da Costa *
Como sabido, Paulo Skaf despontou para o conhecimento de paulistas e brasileiros por sua relevante atuação como líder empresarial; destarte, liderou entidades vinculadas a seu ramo industrial - o Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo (Sinditêxtil) e a Associação Brasileira da Industria Têxtil e de Confecção (ABIT) - e, em 2004, assumiu a presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e também preside o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o Serviço Social da Indústria (Sesi-SP), o Conselho Regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-SP), o Instituto Roberto Simonsen (IRS) e o Conselho Deliberativo do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo (SEBRAE-SP); ademais é o primeiro vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da presidência da República. Este mero arrolamento evidencia o importante papel desempenhado pelo dirigente em questão no âmbito do estado e do país.
Skaf lançou-se como se estivesse narcotizado num apoio irrefreado ao presidente Jair Bolsonaro trabalhando com inusitado fervor pela efetivação do Aliança Pelo Brasil, partido que está a ser criado pelo presidente e seus apoiadores. A nós, meros observadores, parece que Skaf abandonou suas responsabilidades como representante empresarial assim como o partido ao qual se acha ora filiado (MDB - Movimento Democrático Brasileiro) para integrar-se ao bolsonarismo que expressa a visão política e ideológica de expressiva ala da extrema-direita brasileira.
A esta altura deste breve texto parece-nos crucial lembrarmos que Paulo Skaf candidatou-se três vezes ao governo do Estado de São Paulo. Em 2009 filiou-se ao PSB e, em 2010, candidatou-se por tal partido ao governo do Estado de São Paulo e, tão somente, foi o quarto colocado. Já em 2014, filiado ao MDB, obteve o segundo lugar. Sua mais recente tentativa deu-se em 2018, oportunidade em que não chegou ao segundo turno.
Tal perseverança fez com que distintos analistas afirmassem que Paulo Skaf almeja fortemente chegar ao governo do Estado de São Paulo; assim, segundo pensamos, a atual postura de Skaf, além de significar uma busca para superar suas derrotas eleitorais acima referidas, traz consigo outros elementos significantes.
Procura ele, por um lado, gerar condições capazes de fortalecê-lo politicamente de sorte a poder enfrentar nas próximas eleições a governador do Estado de São Paulo um rival considerado dono de larga faixa de votos, qual seja João Dória, atual governador do Estado e filiado ao PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira); tal partido e sobretudo João estariam a merecer uma larga repulsa por parte de Skaf.
Por outro lado, Skaf pretende ocupar uma posição política mais à direita, daí seu empenho em aproximar-se das forças lideradas pelo presidente da República a cuja capacidade de mobilização do eleitorado Skaf demonstra um respeito que aparenta uma verdadeira idolatria.
A expressão "como se estivesse narcotizado" e o termo "aparenta" são utilizado aqui para evidenciar nossa opinião sobre as atitudes de Skaf, vale dizer, não se encontra ele dominado por uma alucinação pois, na verdade, sua preocupação maior está em criar as melhores condições possíveis capazes de levá-lo à vitória nas referidas eleições à governança do Estado de São Paulo.
Isto posto faz-se imperioso consignarmos nosso reparo ao apoio emprestado por Paulo Skaf a um presidente da República de extrema-direita que se cercou de um conjunto ministerial no seio do qual encontram-se indivíduos inteiramente despreparados para tão alto exercício público. Esta nossa aversão e repúdio qualificam como torpe e hedionda a decisão esposada por um representante industrial de tamanha grandeza.
* Professor Livre-docente aposentado.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Skaf