Trump, o Irã e os álibis do terrorismo americano
A política intervencionista americana continua seguindo o conservadorismo de sua história.
por Rodrigo Barradas
Não é preciso ser um grande estudioso do assunto, para perceber que quando as coisas vão mal para um governo, uma guerra, uma intervenção, uma invasão, cai muito bem para a imagem de um presidente. Com Trump, parece não ser diferente. Afinal, o seu processo de impeachment cresce e, apesar dos analistas falarem que não dará em nada efetivamente, pode atrapalhar sim seus planos de reeleição.
O ataque ao Aeroporto de Bagdá, no Iraque, que matou Qassem Soleimani, líder das forças especiais e o mais poderoso líder militar do Irã, nos dá aquela sensação de déjà-vu. O secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, disse que Soleimani tinha planos para atacar tropas e diplomatas norte-americanos, mas sem apresentar nada contundente que corroborasse com essa afirmação. O que nos faz lembrar do próprio Iraque em 2003, invadido sob o falso pretexto de que o então país de Saddam Hussein guardava armas de destruição em massa. O próprio EUA, anos depois, disse ter forjado essa informação como álibi para invadir aquele país.
Imagina então se Saddam Hussein, naquela época, bombardeasse algum aeroporto de algum país aliado dos EUA, em que se encontrasse Donald Rumsfeld, então secretário de defesa dos EUA. Mesmo com a afirmação de que Rumsfeld planejava invadir o Iraque e matar tropas e diplomatas iraquianos (nesse caso já provado), como a grande mídia e o mundo ocidental se refeririam ao assunto? Não tenho dúvidas de que diriam ter se tratado de um atentado terrorista do Iraque contra os EUA. Então, por que o contrário não ocorre? Por que a moral é tão relativa, quando quem tem o poder dá as cartas?
Em 2003, quando o Iraque foi invadido, destruído e saqueado pelos EUA, o país havia quebrado algumas resoluções da ONU. Israel já quebrou 45 dessas resoluções. Quando então os americanos ameaçaram invadir o seu grande aliado ideológico? Nunca! Além das inúmeras acusações de enriquecimento de urânio por parte do Irã, para construírem armas nucleares, quando o único país na história que usou bombas atômicas contra uma população foi o próprio EUA, nos absurdos ataques de Hiroshima e Nagasaki. O que deveria fazer com que os EUA fossem de fato um dos países proibidos de tê-las. Mas é o contrário!
Se pegarmos a carta formulada pelo juiz norte-americano, Robert Jackson, em Nuremberg ali logo após a Segunda Grande Guerra, e que define o que um país precisa fazer para ser considerado uma nação que comete terrorismo internacional, veremos que os EUA e Israel são talvez os únicos países que já quebraram todos esses protocolos, o que numa sociedade racional, seriam taxados de "os países mais terroristas do mundo". O problema é que os EUA é quem pauta o que é ou não terrorismo, e a comunidade internacional sempre compra a sua versão.
E essas quebras de protocolos se dão em intervenções diretas e indiretas, como nos casos da Primavera Árabe - já sabido da influência dos EUA por trás - em que antigos aliados pereceram. O Egito virou uma Ditadura Militar, a Líbia um local em que até tráfico de escravos existe hoje, e a Síria, bem, a Síria ainda recebe "intervenções humanitárias" dos ianques, em forma de Guerra Civil. É como canta a banda recifense e precursora do Mangue Beat, Mundo Livre S/A, na música "Super Homem Plus": "É bom rezar todo dia, fera, pra gente nunca virar alvo de uma missão humanitária aliada."
https://vermelho.org.br/2020/01/03/trump-o-ira-e-os-alibis-do-terrorismo-americano/