Congresso Nacional do Partido Comunista estabeleceu os rumos do desenvolvimento da maior potência em ascenção e reelegeu Xi Jinping para a liderança do país
Eduardo Vasco, Pravda.Ru
Um dos maiores eventos do mundo em 2017 terminou na última terça-feira (24), em Pequim. O 19º Congresso do Partido Comunista da China (PCCh) - maior organização política do planeta, com quase 90 milhões de membros - debateu a situação atual da China, futura maior potência econômica mundial, e deliberou sobre o caminho que a nação seguirá nos próximos anos.
Xi Jinping, o líder do país asiático, foi reeleito secretário-geral para o quinquênio seguinte, como parte do novo Comitê Central do partido. Ele está à frente da China desde 2012 e, na abertura do Congresso, no dia 19 de outubro, fez um discurso sobre o "Pensamento sobre o socialismo com características chinesas para uma nova era". Conhecidas como o "Pensamento Xi", sintetizadas no discurso, as ideias do líder chinês entraram oficialmente para o rol de princípios orientadores do PCCh.
O "Pensamento Xi" tem como base os princípios formulados anteriormente e que já estavam nos estatutos do partido: o marxismo-leninismo, o Pensamento Mao Tsé-tung, a Teoria de Deng Xiaoping, a Teoria da Tríplice Representatividade de Jiang Zemin e o Conceito de Desenvolvimento Científico de Hu Jintao - todos ex-dirigentes do PCCh.
"Foi de grande importância para toda a humanidade o anúncio solene que fez o camarada Xi Jinping da tribuna do 19º Congresso de que a China ocupará um lugar cada vez mais importante no cenário internacional, mas jamais exercerá hegemonia nem empregará a força", opina José Reinaldo Carvalho, secretário de Política e Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
"Saudamos a estratégia diplomática voltada para a criação de uma 'comunidade com destino compartilhado por toda a humanidade', uma visão de longo prazo imbuída de valores humanistas e solidários, contrária a toda forma de hegemonismo e unilateralismo, voltada para promover a inclusão, os benefícios compartilhados, a cooperação ganha-ganha e o desenvolvimento comum", completa o dirigente comunista brasileiro.
Entre as medidas importantes que foram aprovadas pelo núcleo do Partido Comunista da China para os próximos cinco anos está a continuidade da luta contra a corrupção. O Partido, sob Xi Jinping, já puniu mais de 1 milhão de funcionários do Estado, de todos os níveis, incluindo ministros e oficiais de alto escalão do exército.
O PCCh também decidiu continuar o processo de abertura da China para o mundo, o papel de liderança absoluta do partido sobre as forças armadas e a política de crescimento compartilhado com as outras nações, como citou o entrevistado pela Pravda.Ru. Outras medidas fundamentais foram a ênfase do povo como centro de tudo, dos valores-chave do socialismo, da proteção da segurança nacional, da unidade política com diferenças econômicas da China em relação a Hong Kong e Macau ("um país, dois sistemas") e da proteção do meio ambiente.
O "Sonho Chinês"
O Partido Comunista foi criado em 1921 e, desde então, empreendeu um longo processo revolucionário que culminou com a conquista do poder em 1949. Para conseguir construir um sistema socialista que não cometesse os mesmos erros da União Soviética, o então líder Deng Xiaoping promoveu a partir de 1978 a política de "reforma e abertura", com vistas a desenvolver o país economicamente, abrindo-o a massivos investimentos estrangeiros e implementando reformas de mercado.
Conforme explica José Reinaldo, a política, que já dura quase 40 anos, teve o objetivo de "direcionar o centro do trabalho do Partido e do Estado chinês para a construção econômica, impulsionando o desenvolvimento das forças produtivas, a serviço de um projeto de nação que conduziu a China ao desenvolvimento e coloca o país como um ator de primeira ordem no cenário internacional, sem nunca perder de vista que o desenvolvimento e o socialismo estão interligados".
O processo também é conhecido como o desenvolvimento do "socialismo com características chinesas", ou seja, a adaptação do socialismo científico (o marxismo-leninismo) à realidade da China, o país mais populoso do mundo com uma história milenar.
A política é seguida por Xi Jinping, apesar de desafios que apareceram com a crise de 2008 e a desaceleração do crescimento do país, como lembra Rafael Moura, pesquisador vinculado ao Laboratório de Estudos em Economia Política da China da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
"É sempre válido lembrar que Xi assume o poder na República Popular no início de 2013 em meio a profundas transformações estruturais no regime produtivo do país, impondo desafios à sua liderança. Com os desdobramentos da crise financeira de 2008 provocando uma queda drástica no volume do comércio global, a China se viu compelida a mudar seu padrão de crescimento de um anterior centrado nas exportações e investimentos para outro voltado ao consumo, serviços e inovação. Coube ao presidente, portanto, a difícil tarefa de liderar a mudança de um paradigma de desenvolvimento em vigor no país desde que Deng Xiaoping anunciou suas reformas institucionais em 1978", analisa o especialista.
Xi é responsável por liderar a implantação do maior projeto econômico multinacional deste século, a Nova Rota da Seda, que integrará comercial e culturalmente mais de 60 países e executará obras gigantescas de infraestrutura. José Reinaldo lembra que, durante a gestão do 18º Comitê Central do PCCh, no primeiro mandato de Xi, a China reduziu em mais de 55 milhões o número de pessoas pobres no país.
Como meta principal planejada pelo partido comunista, a China pretende se tornar uma sociedade "moderadamente próspera" entre 2020 e 2035, realizando a modernização socialista. "Isso significa eliminar totalmente a pobreza que ainda afeta mais de 40 milhões de chineses", recorda o dirigente do PCdoB.
A segunda etapa da meta é alcançar a plena modernização até 2050, transformando-se em um "poderoso país socialista moderno". Na conclusão desta etapa, a China terá se tornado um país "próspero, democrático, civilizado, harmonioso e belo", elevando-se em todos os níveis, conquistando grande inluência internacional e que todo o povo desfrute dessas conquistas, segundo o objetivo do governo.
"Se bem lograda, essa transição de fato permitirá à China adentrar em um estágio ainda mais veemente de desenvolvimento e distribuir os frutos de sua ascensão na economia internacional para o povo. Evidentemente, Xi não governa sozinho; mas, olhando o retrospecto das últimas décadas e a determinação e coesão do Partido, pode-se dizer que o horizonte futuro chinês não terá dificuldades em superar os empecilhos para seu fortalecimento enquanto ator global", avalia Rafael Moura.
Foto: Agência Xinhua