O Brasil e o futuro

SÃO PAULO - O País passa por uma crise político-financeira sem precedentes, resultado de (des)governos que por 14 anos destruíram a economia, ao permitir o avanço sem peias aos cofres públicos por empreiteiros acolitados por chefetes de clãs políticos, mas não se pode deixar de reconhecer que a política externa, especialmente em relação ao comércio exterior, mudou. E para melhor.

Milton Lourenço (*)

            Em primeiro lugar, o País assumiu uma liderança natural no Mercosul, por sua própria importância - afinal, está entre as dez maiores economias do mundo -, sem pretensões hegemônicas ou de dominação. Dessa maneira, o bloco sul-americano deixou de funcionar como fórum de estéreis discussões políticas e ideológicas para voltar a ser um mecanismo de integração, defesa e formulação de uma política externa comum aos seus sócios. Como prova, pode-se apontar a evolução, nos últimos meses, das conversações sobre um acordo de livre-comércio com a União Europeia, cujas primeiras tratativas datam de 1999.

            Outro ponto a ser destacado é o saneamento das contas do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty). Também não se pode deixar de ressaltar a atuação mais decisiva da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), a partir de sua transferência para o âmbito do Itamaraty, com a presença a sua frente desde junho de 2016 do embaixador Roberto Jaguaribe, diplomata com larga experiência em organismos ligados ao comércio exterior.

            De lamentar é a indecisão que tem marcado o atual governo-tampão quanto ao destino da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que também havia sido transferida para o Itamaraty no início da gestão Temer, mas que acaba de retornar ao âmbito do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), como consequência de desavenças ministeriais motivadas por demonstrações inócuas de prestígio político. Como a Camex tem por objetivo a formulação e a coordenação de políticas de comércio exterior de bens e serviços, melhor teria sido se tivesse ficado, desde a sua criação em 1995, subordinada à presidência da República. E acima dos ministérios.

            Seja como for, o que se espera para até o final de 2018, já que a partir de 2019 deverá haver um novo governo, é que tanto o Itamaraty como o MDIC criem condições para que o País se insira cada vez mais na economia mundial. Obviamente, esse objetivo só será viável a partir da ampliação de negociações bilaterais ou acordos do Mercosul com outros blocos, como a Associação Europeia de Livre-Comércio (Efta, na sigla em inglês), que réune Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, e a Aliança do Pacífico (México, Peru, Chile e Colômbia).

            Isoladamente o Brasil pode também buscar entendimentos com países da Ásia, já que a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) corre o risco de não sair do papel, depois da debandada dos Estados Unidos em janeiro de 2017. Sem deixar de aproveitar as facilidades financeiras oferecidas pelo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para projetos de infraestrutura e reforçar a parceria econômico-comercial com a China.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br

 


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Timothy Bancroft-Hinchey