SÃO PAULO - O Fórum Econômico Mundial para América Latina, realizado recentemente em Buenos Aires, trouxe um alento para a nova política comercial externa do governo brasileiro, que procura deixar para trás o isolacionismo a que o País foi condenado pelas últimas e desastrosas administrações lulopetistas. O principal resultado parece ter sido a decisão de ampliar com o governo do México o Acordo de Complementação Econômica (ACE-53) tanto para setores industriais como agrícolas, bem como criar novas regras em temas como serviços, compras governamentais, facilitação de comércio e barreiras não tarifárias. Esse constitui o melhor caminho para se alcançar, senão um acordo de livre-comércio, que incluiria o Mercosul, pelo menos um tratado comercial amplo.
Milton Lourenço (*)
É preciso ver que o cenário internacional mudou no exato momento que o Brasil, acossado por uma conjuntura econômico-financeira delicada, decidiu se abrir mais para o mundo. Infelizmente, hoje, as negociações para novos acordos ficaram mais difíceis e já não se percebe muitas perspectivas de arranjos multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), exatamente num momento em que a presença de um diplomata brasileiro à frente daquele organismo poderia facilitar o encaminhamento de novos acordos.
Diante do que resta, não é de se depreciar a perspectiva de um acordo comercial com o México, parceiro nada desprezível e com o qual as trocas só têm registrado crescimento nos últimos anos. Basta ver que, em janeiro-fevereiro deste ano, as vendas para o mercado mexicano foram de US$ 506 milhões, o que significou uma evolução de 5,2% em relação ao mesmo período de 2016.
Mais: em 2016, o México foi o oitavo país com maior fluxo de comércio com o Brasil. Como mostram os números, os embarques brasileiros totalizaram US$ 3,8 bilhões, com um crescimento de 6,3% em relação a 2015. No mesmo período, as importações do mercado mexicano foram de US$ 3,5 bilhões, o que representou um superávit de US$ 285,3 milhões para o Brasil.
Segundo os dados do Ministério da Indústria, Comércio e Exterior e Serviços (MDIC), para o México, o Brasil vende, majoritariamente, automóveis de passageiros (participação de 7,6%), veículos de carga (6,8%), motores para automóveis (6,5%), autopeças (4,1%) e minério de ferro (3,7%), importando especialmente automóveis de passageiros (16,8%), autopeças (13,4%), ácidos carboxílicos (6,4%), instrumentos e aparelhos de medida e precisão (3,9%) e máquinas automáticas para processamentos de dados (3,1%). Em 2016, 3.369 empresas brasileiras realizaram exportações ao México, o que significou um aumento 7% na comparação com 2015.
Portanto, num momento em que até o Mercosul não parece tão solidificado, como mostra a intenção do Uruguai de negociar bilateralmente com a China, é preciso que o Brasil esteja preparado para outras alternativas, inclusive com a possível flexibilização das regras do bloco sul-americano, o que permitiria acordos bilaterais não só com o México mas com a União Europeia, a Associação Europeia de Comércio Livre (Efta), que reúne Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, e com a Índia.
É claro que, enquanto não se abaixar o chamado custo Brasil, novos acordos comerciais não resolverão isoladamente a expansão das exportações nacionais, mas constituem, sem dúvida, o melhor instrumento de que o governo dispõe para ajudar a inserir os produtos brasileiros no mundo.
_________________________
(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br