Salvando o capitalismo americano
Por Valentin Katasonov
Tradução Anna Malm*
Nos seus discursos de campanha eleitoral Trump sempre proclamou uma passagem dos Estados Unidos dos trilhos do capitalismo bancário aos do capitalismo industrial, como anteriormente ressaltado. A realização das promessas de Trump exigiria um esforço heróico e uma tal transição, mesmo só uma tentativa a ela, iria fazer uma grande pressão na economia mundial..
Trump declarou que em caso de vitória ele pararia as negociações do TTIP- Transatlântica Negociações de Parcerias e Investimentos. Em verdade, todo o volume dos acordos entre os Estados Unidos e a União Europeia iriam ser postos em questão. Trump disse que ele iria parar até mesmo a Transpacífica Parceria. Casos ainda não se vêem naturalmente, mas julgando pelo dito ...
Trump esclareceu sua posição da seguinte maneira: a relação econômica-comercial dos Estados Unidos com o resto do mundo deveria ser construida através de acordos bi-laterais. De acordo com essa estratégia Washington não necessitaria do acordo da Organização Mundial do Comércio-OMC, WTO na sigla inglesa, com seu excesso de liberalismo. Apesar de Trump nunca ter se referido a nenhum protecionismo, poderia ser esperado que exatamente um protecionismo pudesse vir a ser o fundamento principal da política externa de Washington com o novo presidente-eleito que como um homem de negócios muito bem sucedido sempre saberia como pressionar seus parceiros ao certo ponto.
No decorrer de todo um século os Estados Unidos estiveram ocupando o primeiro lugar no comércio internacional. A América foi denominada até mesmo como "a potência do comércio mundial". Entretanto, nesse aspecto ela já foi ultrapassada pela China, e isso também já em 2014. No começo dos anos setenta a América tinha saldo ativo na sua balança comercial, mas em seguida foi formado um déficit, o qual nos dias de hoje já tem um tamanho astronômico. Por dados do Ministério do Comércio dos EUA, o déficit da balança comércial dos Estados Unidos em 2015 foi de 736,2 bilhões de dólares. Os países com os quais na sua balança comercial os EUA entraram em déficit de maiores proporções em 2015 - em termos de déficit de equilíbrio mútuo no sector mercantil de comércio em млрд. долл - bilhões de dólares foram: China-365,7; Alemanha- 74,2; Japão-68,6; México- 58,4; Vietnam- 30,9
Antes de qualquer coisa compreende-se aqui que a América não se preocupa muito com seus déficits gigantescos, mesmo porque eles sempre foram cobertos com a ajuda das máquinas de impressão de dinheiro da Reserva Federal, informalmente denominada como FED. Em troca da entrada de equipamentos, bens de consumo, matéria prima e alimentos, a América dá aos outros países os seus papéis verdes. A reserva desses papéis nos outros países chegam a somar trilhões de dólares. Contudo, esses mesmos papéis serão retornados aos Estados Unidos de quando então trocados por títulos do Tesouro dos EUA - com o auxílio dos quais as autoridades irão cobrir ainda mais um défict, ou um buraco se se desejar, - o déficit do orçamento federal.
Esse mecanismo, quase que sem juros e esse crédito quase que perpétuo dado à América pelo resto do mundo - é um elemento muito importante no capitalismo bancário dos Estados Unidos. Entretanto, os recursos desse mecanismo não são infinitos. As restrições aparecem na forma da dívida pública e do orçamento do estado, o que faz com que a dívida na prática não possa crescer infinitamente. Por sua parte tanto a dívida pública quanto o orçamento do estado exigem que pagamentos de juros sejam respeitados. Memo que a percentagem da taxa da dívida fosse equivalente a 1%, mais cedo ou mais tarde ela devoraria todo o orçamento federal dos EUA. A respeito disso Trump falou alto e de forma retumbante no verão passado, prometendo parar o crescimento da pirâmide da dívida americana. Além do mais, ele vai tentar desmontá-la, assim como iniciar negociações com outros países a respeito da reestruturação da dívida americana.
Certamente que Trump deseja retornar para os Estados Unidos milhões de empregos que estiveram voando pela China, México, Alemanha, Japão e outros países, mas não é só isso. A tarefa mais importante seria agora a de salvar o capitalismo americano, em qualquer de suas formas, mas ele parece querer apostar no capitalismo industrial, o qual tem maior reserva de forças do que o capitalismo bancário.
O factor protecionismo
O factor Trump na esfera econômica - Isso significaria, principalmente, o factor protecionismo com suas atividades contagiantes. As consequências do protecionismo poderiam vir a abranger todo o mundo do comércio. Prever precisamente todas as possíveis consequências a longo prazo seria difícil. Por já fica claro que um protecionismo iria aguçar a relação chinesa-americana. O tamanho total da dívida da economia chinesa aproxima-se dos 300% do PIB.
Para servir a tamanha dívida seria necessário garantir o aumento do PIB de pelo menos em 6-7% por ano. Já de a tempos grande parte do crescimento do PIB da China é criado através do saldo ativo do comércio exterior. Caso o saldo ativo vindo do comércio com os Estados Unidos caisse, mesmo que fosse em 10-20%, o impacto na economia chinesa viria a ser sentido. Se o saldo ativo aqui sendo examinado - caisse ainda mais, isso iria levar a um nocaute que nos faria ver um efeito como numa queda de dominós:- a economia mundial, incluindo-se aqui a dos EUA, seria envolvida numa segunda onda de crise financeira.
O factor protecionismo também tem um grande impacto nas relaçoes dos Estados Unidos com a Europa. A Europa hoje em dia mostra-se muito obediente, seguindo a risca as ordens de Washington. Tem-se que um tal comportamento poderia indicar que com a sua obediência a Europa consegue um bom pagamento, e ao que tudo indica, muito provavelmente em forma de saldo ativo nas relações comerciais com os Estados Unidos. Nos últimos anos esse saldo tem estado a mais de 100 bilhões de dólares. Caso a Europa viesse a perder suas recompensas, a sua motivação para continuar seguindo nas águas das políticas dos Estados Unidos iria diminuir, e de muito.
Depois tem-se as reações em cadeia. Os europeus iriam tentar recompensar sua perda comercial em relação aos Estados Unidos as custas de outros parceiros comerciais. Como exemplo um dos casos em questão poderia ser a Ucrânia. Essa, como se sabe, vem desfrutando desde 1 de Janeiro de 2016 no seu comércio com a União Europeia de um "regime especial", o regime de uma zona de comércio livre. É verdade que já a 10 meses, como mostram as estatísticas, a Europa não teria recebido maiores proveitos desse comércio, mas a Ucrânia poderia entretanto ter recebido alguns agradinhos doces. É bem provavel que dentro de algum tempo as atividades de Trump levem que a Ucrânia venha a receber da Europa só amargas pílulas, e isso por causa de um déficit na balança de pagamentos.
Factor taxa percentual
Ainda mais uma importante manifestação do factor Trump na economia poderia ser o factor da taxa percentual. Muitas vezes Trump criticou Barack Obama e a presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos, Janet Yellen, por estarem apoiando a taxa da Reserva Federal num nível extremamente baixo (0,25-0,50%). O dinheiro nos Estados Unidos está praticamente a ser oferecido sem pagamentos, ou seja, sem juros. Isso dá a ilusão de que a economia estaria muito bem, muito saudável. O dinheiro deverá ter o seu preço, de outra maneira isso tudo já não seria mais capitalismo. Donald Trump é em princípio contra um "comunismo do dinheiro", o qual na realidade foi instalado na América depois da crise de 2007-2009. Mais ainda, tem-se que esse comunismo não é para benefício do povo americano - quem beneficia dele são os bancos da Wall Street, levando esse dinheiro gratuito para novas especulações e insuflação de bolhas financeiras.
Eu acho que mesmo agora antes de Trump ter se estabelecido na Casa Branca o factor Trump em relação a taxa percentual de juros já começou a ter sua influência. Um aumento da taxa básica da Reserva Federal será sentida brevemente. Espere-se um aumento da taxa percentual para os créditos bancários, para os depósitos, para os papéis e títulos do tesouro, títulos flutuantes e ainda outros instrumentos financeiros. O fluxo de capital na economia americana está sendo ativada, e um movimento para o aumento do curso do dólar faz-se sentir.
Ao contrário, nos outros países deverá ser notado uma fuga de capital, e por já tem-se uma redução de taxas de câmbio das moedas nacionais. Entretanto esse será só o começo. De quando a direção da Reserva Federal e do Tesouro dos EUA estiver nas mãos de pessoas ligadas a Trump subsequentes aumentos da taxa básica da Reserva Federal e da taxa percentual dos títulos do Tesouro deverão ser esperados. Isso por seu lado levaria a reversões no movimento internacional de capitais. As consequências de tais reversões são de difícil previsão.
As pessoas ligadas a equipe de Trump deveriam avaliar esse risco para proteger-se contra uma segunda onda internacional de uma crise financeira. Sugiro que se o time de Trump disser "A" que então digam "B". Abaixo de "A" eu tenho em vista a política do protecionismo comercial. Abaixo de "B" a introdução de limitações ao movimento de capitais. Esses dois aspectos da situação normalmente vão de par em par.
Falando de controle na esfera de movimento de capitais eu tenho em vista não só a importação de capital (limitação e proibição na importação de dinheiro "hot", "curto", de especulação, mas também no controle da exportação. Lembremo-nos de que em 1963 o de então presidente John Kennedy tentou parar o processo de desindustrialização dos Estados Unidos através do aumento da tributação dos rendimentos recebidos pelas companhias americanas nos seus investimentos no exterior. Essa foi uma tentativa de parar a fuga de capital do país, fazendo-o trabalhar para a economia na linha do "аме риканскую" [o denominado "modelo francês" que de então, sugeria prioridade para uma maior ligação entre países de almas gêmeas.]
Interessante: atreveria-se Donald Trump?
Tem-se aqui mais um detalhe. A subida da taxa percentual inevitavelmente fará com que as despesas do principal posto do orçamento federal (despesas nos pagamentos da dívida do estado) também subam. Para reduzir isso, a equipe de trabalho de Trump necessitaria de começar negociações com os titulares de títulos do Tesouro americano tendo em vista uma reestruturação da dívida pública dos Estados Unidos. Uma tal negociação para reestruturação da dívida foi mais recentemente feita pela Argentina, Ucrânia e Grécia. Hoje em dia como potencial candidato a esse papel impopular apresenta-se o próprio Estados Unidos.
Enfim, o factor Trump pode ser usado tendo-se em vista medidas urgentes para a ordem no sector bancário da economia. Nos primeiros lugares da sua lista de ação Trump já tinha colocado a exigência de reestabelecer a lei Glass Steagall, assinada em 1933 por Franklin Roosevelt. O objetivo dessa lei era a de separar as operações bancárias de depósitos (as dos bancos comerciais) das operações de investimentos (as dos bancos de investimentos). Isso quer dizer em outras palavras não permitir que bancos usassem os depósitos de seus clientes para especulações no mercado financeiro. O mundo dos bancos nos EUA nessa época dividia-se em organizações do tipo banco de depósito e crédito, ou seja os bancos comerciais, e organizaçöes tipo bancos de investimentos. Entretanto, em 1999 o de então presidente Bill Clinton assinou uma lei que abolia a lei Glass Steagall. Contra isso apresentaram-se muitos políticos e homens de negócios sensatos. Entretanto, os bancos da Wall Street controlavam Bill Clinton e influenciaram no sentido de uma, para eles, decisão certa. Depois disso os Estados Unidos estiveram se dirigindo a todo vapor a caminho da crise financeira de 2007-2009.
Agora os Estados Unidos estão movendo-se para a segunda série da crise financeira que terá carácter permanente enquanto a lei Glass Seagall não for reestabelecida. Já hoje a posição relativa dos diferentes tipos de dívida da economia americana excede os valores numa analogia com os valores mostrados em 2007, nas vésperas da primeira série da crise. O reestabelecimento da lei Glass Seagall deveria ter sido reestabelecida era mais é "ontem", por assim dizer.
Ninguém pode dizer com certeza quando essas bolhas financeiras irão estourar apesar de ainda se ter claramente na memória como os bancos da Wall Street conseguiram inflar suas bubbles/bolhas no tempo da de então presidência de Obama. No caso delas estourarem agora- no pântano da crise irão mergulhar não só os americanos, mas toda a economia mundial. Trump parece perceber a magnitude do perigo. Portanto, uma lei estabelecendo uma divisão entre bancos comerciais e de investimentos poderia muito bem ser uma das primeiras iniciativas do novo morador da Casa Branca, o que já seria muito bom, para começar.
Фактор Трампа и мировая экономика - Спасти американский капитализм
www.fondsk.ru
*Anna Malm - https://artigospoliticos.wordpress.com