Os cerca de 2500 delegados XV Congresso da Frente Polisário, celebrado a 8 e 9 de Julho 2016, elegeram por maioria absoluta Brahim Ghali para os cargos de Secretário Geral da Frente Polisário e Presidente da RASD (República Árabe Saharaui Democrática).
Este congresso extraordinário, convocado após o falecimento de Mohamed Abdelaziz, realizou-se nos campos de refugiados saharauis, no campo de Dahkla sob um calor intenso com a participação de mais de 2500 delegados que elegeram o seu novo líder por voto direto.
Participaram várias delegações estrangeiras provenientes de África, América Latina, Ásia e Europa, representantes de organizações e associações várias, assim como representantes de governos que reconhecem a RASD.
A Europa esteve presente através de partidos políticos e membros de associações e organizações amigas vindas de Espanha, França, Suíça, Suécia, Áustria, Itália, assim como eleitos do Parlamento Europeu.
Destaca-se os discursos dos representantes de Esquerda Unida e Podemos de Espanha, em que ambos reiteraram mais uma vez o seu total e incondicional compromisso para com a causa saharaui, salientando a responsabilidade histórica e política de Espanha deste conflito.
Da América Latina vieram delegações de México, Brasil, Nicarágua, El Salvador e Venezuela.
O senador Manuel Flares de El Salvador foi muito claro ao afirmar na sua intervenção que a luta pela independência do povo saharaui era a luta do povo salvadorenho. Também, Otaru Sandin, embaixador de Nicarágua na UE, reiterou não só o apoio do seu governo e povo mas a necessidade de solução para o conflito.
O Líbano, país da Ásia, esteve também representado, apesar da situação complicada que o país atravessa.
Para além da óbvia participação do governo Argelino que desde o primeiro momento apoia a causa saharaui, o continente africano esteve representado através de delegações de Nigéria, Gana, Namíbia, Zimbabwe, Mauritânia, Egito e Angola.
A forte presença de países africanos reflete o posicionamento mais ativo da União Africana que tem vindo nos últimos dois anos a exercer mais pressão sobre a comunidade internacional e as Nações Unidas para um solução definitiva que culmine na autodeterminação e soberania do povo saharaui.
Brahim Ghali, que foi o primeiro secretário geral da Frente Polisário, regressa assim a este cargo pela mão do povo saharaui que mais uma vez demonstra a sua unidade e vontade inequívoca de alcançar a independência.
Num quadro extremamente difícil, em que no último ano o povo saharaui tem visto aumentar ainda mais a agressão por parte de Marrocos a nível dos territórios ocupados e a nível das manobras no quadro político, com uma MINURSO enfraquecida, após a expulsão do contingente civil por Marrocos, com catástrofes naturais que assolaram os campos de refugiados e recortes significativos nas ajudas humanitárias, Brahim Ghali tem pela frente a árdua tarefa de conseguir não só manter a união como iniciar uma nova fase na política da Frente Polisário a quem o povo saharaui tem vindo a exigir uma postura mais firme que ponha fim ao seu exílio e ocupação.
O currículo de Brahim Ghali fala por si, com uma experiência inigualável , e com a confiança depositada pelo povo saharaui será certamente capaz de enfrentar os novos desafios, começando já este mês com o regresso ou não do contingente da MINURSO e a reação do Conselho de Segurança das Nações Unidas para com Marrocos.
Biografia de Brahim Ghali
Nascido em 1949 no Sahara Ocidental colónia espanhola, foi destacado resistente contra a ocupação espanhola desde 1969, ano em que se juntou a vários outros jovens saharauis e formaram o Movimento Nacional de Libertação Saharaui. Durante a Intifada de Zemla em 1970, Gali foi preso pelas autoridades militares espanholas passou um ano preso devido às suas actividades politicas. Foi novamente preso em 1972 por um curto período novamente pelas suas actividades politicas contra a ocupação espanhola.
Em 1973 fez parte dos fundadores da Frente Polisario e foi eleito Secretário Geral. Em 1974 Gali passou a comandar o Exercito de Libertação do Povo Saharaui. De 1976 até 1989 foi Ministro da Defesa da República Árabe Saharaui Democrática. Em 1989 passou a Comandante em Chefe da segunda Região Militar.
Desempenhou as funções de Delegado da Frente Polisário em Espanha e mais recentemente Embaixador na Argélia.
Responsável da organização política da Frente Polisário e presidente da comissão preparatório deste congresso extraordinário que será o XV e denominado "Congresso do Mártir Mohamed Abdelaziz".
Foi eleito presidente da RASD e Secretário Geral da Frente Polisário a 8 de Julho de 2016.
Isabel Lourenço
9 de Julho 2016