SÃO PAULO - Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a indústria de transformação só tem apresentado declínio nos últimos 35 anos, chegando hoje a um ponto crítico que, se não for revertido logo, poderá comprometer o futuro do País, devolvendo-o à condição de fornecedor de matérias-primas, como nos séculos XVIII e XIX.
Milton Lourenço (*)
Basta ver que, em 1985, a indústria de transformação, que converte matérias-primas em produtos para o consumo, cria empregos e traz divisas, se encontrar mercados no exterior, era responsável por 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Vinte e um anos depois, essa participação caiu para 16,7% e, em 2015, chegou a alarmantes 10,6%.
Para mudar essa rota, sabe-se a receita: primeiro, é preciso abrir mais a economia para que as indústrias possam importar bens de capital (ou bens de produção), ou seja, máquinas e equipamentos que ajudam a transformar matérias-primas em produtos manufaturados. Depois, é preciso que o governo, em vez de beneficiar determinados segmentos, adote uma política de incentivos que beneficie todos os setores, simplificando regras tributárias, trabalhistas e previdenciárias, além de reduzir a carga de impostos e oferecer taxas de câmbio mais favoráveis.
Ou seja: é necessário colocar em prática uma política industrial que estimule a inovação e permita renovar a estrutura produtiva, tornando as empresas mais competitivas para que tenham condições de retomar ou expandir mercados em todo o planeta.
É de se lembrar que recente estudo do professor David Kupfer, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostrou que os bens de capital no Brasil têm em média 17 anos de uso, enquanto a idade média do maquinário na Alemanha é de sete anos, o que mostra o quanto estão defasados os equipamentos da indústria brasileira. O resultado disso é que um bem manufaturado nacional é, em média, 34,2% mais caro que um similar importado, como mostrou estudo do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) .
Em contrapartida aos benefícios, o governo deveria estabelecer objetivos para as empresas, exigindo o cumprimento de metas, como determinado volume de exportação, capacitação de empregados e investimento em pesquisa e desenvolvimento. Esse processo de reindustrialização, porém, não pode ser feito a ferro e fogo, com base em políticas adotadas em países asiáticos, onde o custo da mão de obra é muito baixo. Encontrar a justa medida das coisas é o grande desafio que aguarda para os próximos anos a atual geração de empreendedores.
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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:www.fiorde.com.br