SÃO PAULO - Estudos realizados por especialistas da Universidade de São Paulo (USP) apontam que, em 2024, o porto de Santos estará movimentando entre 195 e 229 milhões de toneladas de cargas, o que para a atual infraestrutura viária e portuária equivaleria ao caos total.
Milton Lourenço (*)
Uma das alternativas para escapar desse desenlace seria aumentar a participação das ferrovias no transporte de cargas de 18%, segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), para 60%, o que se afigura desde já uma meta impossível. Se em 20 anos essa participação chegar a 35%, já será muito.
Para tanto, são fundamentais a conclusão do Ferroanel, projeto que se arrasta desde a década de 1950 e que ligaria o Norte ao Sul do País, e o aproveitamento pelas concessionárias MRS Logística e América Latina Logística (ALL), que atuam no porto santista, da atual tendência mundial de conteinerização de commodities. Dessa forma, será possível reduzir a participação das rodovias de 70% para 30%, aumentando a parcela atribuída aos modais aquaviário, dutoviário e aeroviário, o que redundaria em considerável economia de combustíveis e ganhos ambientais.
Ao mesmo tempo, é imprescindível que se promova a descentralização do porto de Santos, responsável hoje por 27% do comércio exterior brasileiro, com a distribuição de cargas para outros portos nacionais. Dessa maneira, seria possível a especialização do porto santista, que passaria a atuar como hub port, especialmente de produtos manufaturados (de maior valor agregado). Obviamente, isso só será possível a partir da conclusão (prevista para o final de 2017) das obras na rodovia BR-163, importante corredor para o escoamento da produção agrícola do Brasil Central, que ainda tem 237 quilômetros de terra entre Mato Grosso do Sul e Pará.
Para estimular o acesso ao Oceano Pacífico, é fundamental também a construção da ponte que irá ligar a cidade de Epitaciolândia a Brasiléia, na fronteira tríplice com Peru e Bolívia, porta de entrada da rodovia Interoceânica, que liga o Acre ao Pacífico. O trecho brasileiro, chamado de estrada do Pacífico, já está construído, mas a travessia por balsa é um gargalo que impede o crescimento do comércio.
Por fim, é preciso que haja em Santos uma realocação portuária para a margem esquerda, inclusive com a ocupação das ilhas Barnabé-Bagres, e a construção de vias de acesso restritas ao porto. Outra solução a longo prazo é a construção de uma plataforma off shore. Só que para que essas ideias saiam do papel é preciso que o País deixe para trás a atual crise política que tem levado o governo a cortar recursos indiscriminadamente, voltando a passar por um período virtuoso de crescimento.
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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:www.fiorde.com.br.