Obama quer guerra ('por encomenda') contra a Rússia na Síria

Obama quer guerra ('por encomenda') contra a Rússia na Síria 


Por um momento até pareceu que os EUA estivessem desistindo de 'mudança de regime' por meios violentos na Síria. Sob pressão dos russos, dia 29/9 o secretário de Estado Kerry concedeu que o resultado teria de ser algo não apoiado pelos aliados dos EUA no Golfo e pelos mercenários que lutam por encomenda na guerra da Síria:


EUA e Rússia acertaram "alguns princípios fundamentais" para a Síria, disse o secretário de Estado John Kerry na 3ª-feira, acrescentando que tem planos para voltar a reunir-se com o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, na 4ª-feira. 
10/10/2015, Moon of Alabama
"Chegamos a um acordo, de que a Síria deve ser país unificado, unido, que tem de ser secular, que o ISIL (Islamic State) tem de ser atacado e desarmado e que é preciso uma transição administrada," disse Kerry à rede MSNBC (...).


PORÉM, em vez de começar a trabalhar sobre esse acordo e aprofundar os contatos com os russos, os EUA deslizam agora para guerra total por encomenda contra a Federação Russa e, especialmente, com o contingente de russos que há na Síria. 

Obama havia dito que não seria arrastado para uma guerra à distância com a Rússia, mas seu próprio governo, o Pentágono e a CIA mais uma vez estão fazendo o diabo para conseguir uma guerra contra a Rússia, na Síria. 

O apoio dos russos à Síria não tem prazo para acabar. Agora que o governo dos EUA cede e se deixa arrastar para uma posição em que qualquer guerra com a Rússia na Síria tornou-se prioridade, a luta na Síria e arredores será prolongada para durar muito tempo.

O programa oficial do Pentágono para treinar mercenários na Síria deixará de avaliá-los, selecioná-los, vesti-los, armá-los, treiná-los e apoiá-los. Mas o programa não será extinto. O Pentágono apenas abreviará o processo. Deixa de lado a parte de avaliá-los e selecioná-los e treiná-los e passa a armar e apoiar qualquer um que apareça e declare que deseja "combater o ISIS":


Esse movimento marca uma expansão do envolvimento dos EUA na guerra em solo ampliada na Síria
 e pode expor o governo Obama a riscos ainda maiores, se as armas que passarão a ser entregues a número maior de unidades 'rebeldes' continuarem a cair em mãos de terroristas ou de gama mais ampla de unidades 'rebeldes', ou se os terroristas patrocinados pelos EUA vierem a ser atacados por forças leais ao presidente Assad e seus aliados. 

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Por esse novo plano, líderes de grupos que já combatem o Estado Islâmico passam a ser avaliados, selecionados e reconhecidos e recebem curso ultrarrápido de Direitos Humanos e Comunicações em Combate. Muitos deles já receberam treinamento fora da Síria, disseram funcionários. 

Com o tempo, o Pentágono planeja prover munição e armas básicas àqueles líderes combatentes e iniciará ataques aéreos contra alvos identificados por aquelas unidades.


Não há quem não saiba como saem as coisas quando terroristas-mercenários desse tipo passam a identificar alvos para que os aviões dos EUA os ataquem... Assim, exatamente, os EUA destruíram o hospital dos Médicos Sem Fronteiras em Kunduz, em ataque que fez cerca de 50 mortos (reza a lenda que os aviões norte-americanos teriam sido chamados por forças especiais do Afeganistão).


Auxílio militar significativo para esses mercenários-terroristas, numa área na qual grupos de terroristas misturam-se com islamistas extremistas, algumas vezes misturados com rebeldes moderados da oposição, sinaliza modificação nos planos e na política inicial dos EUA. 

Alto funcionário do governo Obama, que pediu para não ser identificado, não detalhou as características dessa ajuda que deve chegar ao noroeste da Síria. Mas o funcionário disse que "os suprimentos serão entregues a forças anti-ISIL cujos líderes foram adequadamente avaliados e selecionados" - e os descreveu como "grupos de composição diversificada".


Esses grupos diversificados são constituídos precisamente de jihadistas da Frente al-Nusra/al-Qaeda, Ahrar al Shams e outras formações de jihadistas. Ainda que as armas não sejam diretamente entregues a ela, o fato de que a al-Qaeda exige uma "quota" de 1/3 de todas as armas entregues aos seus agentes, e não raras vezes captura 100% delas, mostra que o novo 'programa' dos EUA é programa para armar diretamente a al-Qaeda (embora ninguém o reconheça como tal).


O novo programa é separado de um esforço conduzido pela CIA para ajudar facções rebeldes na Síria. Ainda não se sabe com certeza como o anúncio feito na 6ª-feira pode vir a afetar o programa da CIA.


CIA mantém programa similar, mas muito maior, desde 2012. Há armas para qualquer pessoa que declare que deseja derrubar o governo da Síria. E muitas daquelas armas já estão em mãos do ISIL/ISIS/Daesch/Estado Islâmico ou da al-Qaeda.

A verdade é que foi a CIA, comandada pelo chefe Brennan (famoso por defender torturas e torturadores), quem empurrou o governo Obama para bem longe das declarações sensatas de Kerry e o pôs diretamente no olho do furacão de uma guerra total à distância, por encomenda, contra a Rússia.

A Rússia já bombardeou alguns dos grupos treinados, armados e pagos pela CIA. Antes, consultou os EUA para que informassem quem bombardear e quem poupar, mas não recebeu resposta. Dado que os mercenários pagos pela CIA para lutar contra o governo sírio são praticamente idênticos e indistinguíveis de qualquer outro terrorista da al-Qaeda ou de outros grupos, todos são alvos legítimos. 

Não é o que a CIA entende. Mas, mesmo assim, a CIA tem considerado bem úteis os ataques dos russos contra os próprios terroristas da CIA:


Relatos indicam que os grupos treinados pela CIA sofreram pequeno número de baixas e foram alertados para evitar movimentos que os exponham aos aviões russos. Um funcionário do governo dos EUA, que conhece bem esse programa da CIA - e que, como todos, pediu para não ser identificado - disse que os ataques galvanizaram algumas das unidades armadas pela Agência. "Agora eles decidiram que querem combater contra os russos" - disse o funcionário. - "A moral melhorou muito". 

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Brennan viajou semana passada para o Oriente Médio, quando se intensificaram os ataques russos. Funcionários do governo dos EUA disseram que a viagem estava planejada e nada tem a ver com bombardeios russos, mas reconheceu que todas as discussões centraram-se na Síria. 

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A decisão de desmantelar o programa de treinamento do Pentágono - cujas equipes muito pequenas são frequentemente capturadas ou rendem-se a outros grupos rebeldes na Síria - pode obrigar Obama a considerar a possibilidade de aumentar o apoio aos grupos que a CIA apoia.

Funcionários dos EUA disseram que os envolvidos no programa da Agência já estãoexaminando alternativas que incluem enviar sistemas de foguetes e outras armas que permitiriam aos rebeldes atacar as bases russas, sem contudo entregar-lhes mísseis terra-ar que os grupos terroristas poderiam usar para atingir aviões civis.


Quem disse aos sauditas que entreguem imediatamente 500 mísseis TOW à Síria foi, quase com certeza, Brennan-da-CIA. E também ordenou que se planejem ataques à base russa.

TUDO ISSO significa que, em vez de acalmar e buscar cooperar com a Rússia na luta contra o Estado Islâmico, o Pentágono recebeu ordens para cortar o próprio programa e para entregar armas a qualquer um que peça. A CIA está fornecendo maior quantidade de armas aos seus mercenários através dos seus procuradores no Golfo, e está planejando atacar diretamente os russos.

A guerra contra a Síria, e agora também contra a Rússia, provavelmente se arrastará por anos. Com os EUA jogando cada dia mais gasolina à fogueira, a guerra reduzirá a cinzas, além da Síria, também todos os países em volta.

Dois suicidas-bomba se autodetonaram hoje num comício do partido HDP, simpático à causa dos curdos, em Ancara. Já se calcula em 90 o número de mortos, com mais de 200 feridos. 


Foi o maior ataque terrorista em tempos modernos que a Turquia conheceu. O governo turco desconectou o país da rede Twitter e proibiu qualquer noticiário sobre o ataque terrorista. O partido HDP é partido de esquerda e apoia a luta pacífica pela autonomia do povo curdo. O partido curdo militante PKK na Turquia tem tido escaramuças contra as forças de segurança da Turquia no leste do país. Hoje, o partido anunciou que suspenderá todos os ataques, a menos que seja atacado primeiro. A organização irmã do PKK na Síria, o partido YPK, luta atualmente contra o Estado Islâmico. 

O Partido AKP de Erdogan apoiou o Estado Islâmico e a al-Qaeda na Síria. Erdogan vê o partido HDP e os curdos em geral como seus inimigos. Como disse hoje um político turco não AKPo sangrento incidente hoje em Ancara foi operação da inteligência turca levada a termo, ou foi total fracasso de alguma operação da inteligência turca.

Sejam o que mais tenham sido, as explosões, muito provavelmente de suicidas-bombas do Estado Islâmico, são sinal de crescente desestabilização também na Turquia. E a instabilidade crescerá sem parar, até que haja grande mudança política; até que haja rejeição real e definitiva contra qualquer apoio turco aos jihadistas na Síria; e até que a fronteira turco-síria seja efetivamente fechada e se ponha fim ao trânsito de terroristas.

Hoje, o presidente Putin da Rússia se reunirá com o "jovem líder" saudita, príncipe coroado Mohammed Salman-un. Será que Putin lerá para ele o manual de convivência decente entre povos e recomendará que abandone a posição de vassalagem, como pau mandado dos EUA na guerra contra a Síria? Espera-se que sim. *****

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey