Durante muito tempo fomos condicionados a acreditar que bastava fazer a economia crescer, aumentando a quantidade de bens e serviços ofertados, expandindo o sistema econômico como um todo, que, de forma especial, solucionar-se-ia o problema da pobreza, tornando àqueles com menos condições financeiras um pouco mais felizes.
Marcus Eduardo de Oliveira
Para tanto, bastava produzir mais, sem se comprometer com a questão crucial da distribuição dessa "riqueza" gerada.
Isso permitiu criar uma conduta equivocada, favorecida e amparada pelos mecanismos de mercado, de que o crescimento econômico "funcionaria" como espécie de "santo remédio" para os males econômicos e sociais.
Tal conduta, por sua vez, permitiu a criação de uma economia voltada à satisfação material das necessidades humanas, ao mesmo tempo em que reduziu acintosamente a disponibilidade global de recursos naturais do planeta.
Assim, a economia mundial cresceu, se expandiu, aumentou de tamanho. O crescimento econômico, de fato, aconteceu. Hoje, a economia global tem quase cinco vezes o tamanho de meio século atrás; agora, essa economia global - com sua vocação para a produção de bens e serviços em larga escala - é maior que a disponibilidade que o planeta tem em oferecer recursos e energia.
No lugar de se atenuar os indecentes níveis de pobreza global, que se acreditava ser passível de ocorrer face ao crescimento, gerou-se a mais séria crise ambiental dos últimos tempos.
Razão pela qual os limites ecológicos têm sido frequentemente ultrapassados, menosprezando-se assim as perdas ambientais decorrentes dessa ultrapassagem de fronteiras ditadas pelo meio ambiente.
Nesse pormenor, viciados e obcecados pela ideia do crescimento como suprassumo das políticas governamentais, os economistas tradicionais, educados pelo ensinamento neoclássico, apresentam incorrigível dificuldade em entender que passar dos limites tem consequências; que, a primeira condição para o alcance de um padrão de vida ecologicamente equilibrado, está em saber respeitar os limites para a capacidade da terra de lidar com nossos abusos de produção e consumo.
Desse modo, a economia tradicional, além de se distanciar, faz questão de promover sua completa dissociação na relação com a natureza.
Dentro dessa perspectiva, um segundo erro de interpretação - se assim podemos denominar - por parte do pensamento neoclássico, reside justamente aí: em não reconhecer que a atividade humana (e econômica, por consequência) interage com o meio ambiente e o afeta, resultando que os danos ambientais levam a perdas econômicas, e não a ganhos como alguns chegam a supor.
Se hoje temos uma economia global integrada a um ecossistema que está operando em cerca de 140% da sua capacidade, passou da hora então de avaliar-se, com o rigor e a precisão que os fatos exigem, todas as alternativas possíveis àquilo que se impõe com extrema urgência à sociedade global: a defesa e a conservação do patrimônio natural, buscando formas que garantam a reposição dos recursos usados mediante a mudança de paradigma econômico, superando a ideia contida no expansionismo produtivo em prol de uma racionalidade ambiental.
Que fique claro: o que está em jogo não é uma exigência econômica, mas sim a salvação da vida humana, em especial.
Enfrentar essa crise ambiental, provocada e "alimentada" pelos excessos da atividade econômica mundial, que aflige o presente e ameaça o futuro, certamente é o desafio maior do momento atual.
Para aqueles que, mesmo diante das evidências da gravidade da crise ambiental, ainda se apegam na defesa do crescimento econômico como sinônimo de prosperidade social, cabe citar a recomendação do professor Paul Gilding, da Universidade de Cambridge: "Que não haja nenhuma dúvida de que, se o meio ambiente entrar em colapso, a economia vai junto com ele".
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo.
prof.marcuseduardo@bol.com.br