Não estamos apenas na Terra; somos a Terra. Temos uma íntima relação com a Terra e, junto a todos os organismos vivos, pertencemos a um mesmo plano. Não por acaso, há um mesmo alfabeto básico em todos, das amebas aos vírus, dos peixes aos pássaros, dos animais aos humanos, todos somos formados por 20 aminoácidos e 4 ácidos nucleicos (adenina, guanina, timina e citosina); ocorre apenas uma diferença de combinação de sílabas desse alfabeto.
Marcus Eduardo de Oliveira
Nossa relação com a Terra está implícita na convivência peculiar com a biodiversidade. Convivemos de perto com as mais diversas formas de biodiversidade de vírus, bactérias, protistas, plantas e animais.
Nosso corpo mantém mais de 100 trilhões de células compartilhando átomos com tudo o que está ao nosso redor, enaltecendo a exuberância da vida. Somos todos, em outras palavras, parte do universo; é por isso que não estamos apenas na Terra, mas somos a Terra, em plenitude.
Nossa íntima relação com a biodiversidade mostra que, não por mero acaso, no corpo de cada ser humano há mais ou menos 71% de água (a mesma porcentagem que há no Planeta Terra), nossa taxa de salinização do sangue (3,4%) é a mesma dos mares.
Simplesmente, 60% do nosso corpo é oxigênio. Se incluirmos o carbono, hidrogênio e nitrogênio existentes no nosso corpo, temos então 95% da massa total do ser humano. De 92 elementos químicos existentes na natureza, 17 deles regulam todo o processo da vida.
É com essa rica demonstração da natureza que convivemos de perto. Leonardo Boff, em "A Opção Terra" (ed. Record, 2009, 222 págs) relata que, segundos estudos, calcula-se que haja 5.000 tipos de bactérias, 100 mil espécies de fungos, 300 mil espécies de árvores, 850 mil espécies de insetos.
É procurando preservar essa história riquíssima da natureza que a busca pela sustentabilidade se apresenta como oportuna e imprescindível para a promoção e devolução do equilíbrio à Terra e aos ecossistemas para que o meio ambiente possa continuar sendo habitável.
Cabe ainda indagar: mas por que essa preocupação em atingir a sustentabilidade? Porque o modo de produção atual, embasado na mais absoluta "necessidade artificial" e, por isso, capaz de aumentar mais e mais a produção de bens e serviços à disposição dos povos, tem explorado e destruído as bases naturais, o patrimônio ecológico e os recursos da natureza do qual a produção física de mercadorias é altamente dependente, colocando em risco as condições de vida. Se parássemos agora, nesse exato momento, com todo o processo de produção e consumo, a Terra precisaria de mil anos para recuperar-se do estresse causado pela forma humana de agir.
O efeito mais lamentável desse modo de produzir, que destrói sobremaneira a natureza, é a diminuição acentuada das diversas formas de vida, ou seja, da biodiversidade que começamos a falar no início deste artigo.
Por conta de uma superprodução de mercadorias, o sistema atual de produção capitalista já destruiu 15 dos 24 serviços ambientais essenciais para a manutenção da vida, como a regulação dos climas, os solos, os oceanos, a polinização etc, e está pondo em curso a defaunação (um planeta sem animais).
Apenas para termos uma ideia global dessa destruição dos ecossistemas, ou seja, dos principais serviços ambientais, a Organização das Nações Unidas (ONU), declara, a partir de estudos feitos, que até 2048 não mais poderemos tirar qualquer alimento dos oceanos, pois a extração de peixes tem sido muito maior que a capacidade de reposição.
Não se pode perder de vista que somos dependentes do meio ambiente. Sem meio ambiente não há produção de absolutamente nada. Tudo vem do meio ambiente. Qualquer produto que se queira produzir tem um componente da natureza "incutido" nele, incluindo a energia. É por essa questão que, quanto mais se produz, mais se esgota os recursos da natureza e mais se polui o meio ambiente, ferindo Gaia, o nome dado pelos gregos ao planeta Terra.
Quanto mais se queimam combustíveis fósseis (petróleo, gás, carvão), mais se emite dióxido de carbono e mais se aquece o planeta. É isso, no cômputo geral, que se convenciona chamar de efeito estufa.
É por isso que se deve diminuir o ritmo de produção econômica mundial. É por isso que a busca da sustentabilidade se faz importante, tendo em conta que essa prática requer níveis de produção em menor escala para, com isso, promover a preservação do meio ambiente; para oferecer então equilíbrio à Terra.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia na FAC-FITO e no
UNIFIEO, em São Paulo. prof.marcuseduardo@bol.com.br