Segundo presidente Nicolás Maduro, pequenos comerciantes também são "vítimas" da especulação de grandes empresários.
Pequenos comerciantes serão compensados pelo governo da Venezuela no processo de fiscalização de preços iniciado no país, durante o qual mais de 100 pessoas foram presas por suposta especulação na venda de produtos, segundo o presidente Nicolás Maduro. Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (15/11), o chefe de Estado afirmou que, assim como consumidores, os donos de estabelecimentos de pequena escala também são "vítimas" da especulação de grandes empresários.
"Baixem os preços já até o nível que puderem", expressou, na entrevista realizada no Palácio de Miraflores, afirmando que há um fundo de compensação e auxílio para todos os pequenos comerciantes, que segundo ele, "atendem as necessidades de milhões e dão emprego para milhares". O presidente venezuelano pediu, no entanto, que estes denunciem quem são os fornecedores dos quais compram produtos a altos preços, para sejam inspecionados.
Nesta quinta (14), o governante anunciou que mais de 100 pessoas foram presas durante o operativo de fiscalização de preços. "Com a sensibilidade humana que cultivamos durante tantos anos pela verdade e pela justiça da pátria, no fundo, dá dor (...) temos mais de 100 burgueses atrás das grades neste momento", afirmou. Entre as irregularidades identificadas desde o início, na última sexta, das inspeções em mais de mil estabelecimentos comerciais, estão o uso ilegal de dólares obtidos pela rede governamental de distribuição de divisas, fixação de preços desproporcionais, sonegação de impostos, entre outros.
De acordo com Maduro, 99% dos comércios inspecionados que vendem produtos importados realizam suas compras com dólares obtidos pelo Cadivi (Comissão de Administração de Divisas) e que 99% destes vendem a valores inflados, com um sobrepreço médio de 400 a 1200%. Em muitos casos, segundo ele, os preços são remarcados de acordo com a variação do dólar no mercado paralelo, que supera em quase dez vezes o valor oficial da moeda norte-americana, de 6,30 bolívares.
Além de longas filas de consumidores ansiosos para obter produtos mais baratos, a fiscalização de preços levada a cabo pelo governo iniciou um efeito dominó. Quando questionado sobre a ausência de etiqueta de preços em diversas prateleiras, o caixa de um supermercado na capital afirmou a Opera Mundi que há três dias os donos do estabelecimento estão fazendo uma revisão dos valores. "Tem produtos que chegaram há 5 meses, mas tinham os valores sempre remarcados", denunciou.
No Sambil, um grande shopping Center de Caracas, longas filas de consumidores eram vistas em frente a diversas lojas, algumas delas inspecionadas. Entre as maiores estava a das lojas de sapato Aldo, onde os preços foram reduzidos em cerca de 50%, segundo consumidoras que esperavam na fila. Para controlar o acesso dos consumidores, a loja fechou as portas, e deixava que somente dez consumidores entrassem por vez para as compras.
"A medida é válida, mas não gostei da forma como foi feito. Temos um órgão de defesa do consumidor e instituições para fazer isso que poderiam ter fiscalizado esses comércios há muito tempo", disse Maruma Melchor, de 48 anos, funcionária de uma companhia de seguros, que aproveitou o horário de almoço, com três colegas de trabalho , para entrar na fila da loja e comprar sapatos. "Como temos baixa produção nacional, os comerciantes abusam", explica.
Saindo com um par de sapatos da mesma rede em outro shopping, o Millenium, onde a loja funcionava com as portas abertas e não havia fila de consumidores durante a manhã de ontem, Ruben López, de 40 anos, explicou que o produto custava 6,2 mil bolívares na semana passada, e que agora pagou 3,3 mil. "Mas ainda assim é muito caro", afirmou.
Comerciante de tecidos no centro de Caracas, o venezuelano elogia a medida governamental. "Achei muito boa a intervenção aos preços, porque muitos recebem os dólares a preço oficial e vendem à população ao preço do mercado paralelo. Acho que agora os importadores vão ter mais cuidado", afirmou, complementando: "Eu, por exemplo, sou afetado, porque não sou importador e tenho que comprar na Venezuela a mercadoria que vendo".
De acordo com Maduro, as medidas de diminuição dos preços dos produtos serão permanentes. "Estamos fazendo um esforço em cada um dos setores (...) que estavam especulando muito", afirmou sobre o forte ritmo de remarcação de preços, que atribui a um plano do empresariado e de partidos de "direita" contra sua gestão.
O presidente venezuelano afirmou que se aprovada a Lei Habilitante, na próxima terça, que o habilitaria a governar por decretos, sua primeira medida será fixar uma lei de controle de lucros para empresários, que avalia limitar entre 15 e 30%, por meio de diferentes mecanismos. "Já tenho quase pronta a lei", assegurou, complementando que esta terá como finalidade a defesa ao salário dos venezuelanos e que estabilizará "todos os efeitos positivos de ter baixado os preços".
Quando questionado sobre se o projeto socialista de seu governo prevê a coletivização da cadeia produtiva, Maduro afirmou que esta não foi uma proposta do falecido presidente Hugo Chávez: "Nosso modelo socialista inclui as liberdades econômicas em diversas atividades, sob princípios", disse afirmando que o controle de lucros deve ser um elemento fundamental de todos os processos econômicos, produtivos, distributivos e de comercialização.
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=52c8b8d56837155b4870fc2658b676f0&cod=12779