O fato de o acordo comercial entre Estados Unidos e Chile, por enquanto, não ter impulsionado o comércio entre os dois países parece ter servido de consolo para o governo brasileiro, que procura justificar assim a sua inércia na área, já que, desde 1991, assinou tratados apenas com Israel, Palestina e Egito, dos quais apenas o primeiro está em vigor. Acrescente-se a isso os tratados de preferências tarifárias firmados com Índia e África do Sul.
Mauro Lourenço Dias (*)
Para justificar tão pífia inserção no mercado internacional, o governo brasileiro costuma argumentar que estava apostando na conclusão da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), que pretendia derrubar barreiras ao comércio global, principalmente na área agrícola, mas que redundou em rotundo fracasso. Em razão disso, o que se vê hoje é os países apostando num processo regional. Segundo dados da OMC, até 2013, 543 acordos bilaterais ou regionais foram assinados e pelo menos 354 estão em vigor. Desses, pelo menos a metade foi estabelecida de 2003 para cá, em função do malogro das negociações da Rodada Doha.
Enquanto isso, o Brasil não participa de nenhum dos blocos em formação, limitando seus esforços ao Mercosul, que do ponto de vista institucional está paralisado e em retrocesso em termos econômicos, já que as trocas entre seus países-membros representam apenas 12% do total, depois de ter alcançado 17%. Já outros países da América Latina preferem passar ao largo do Mercosul: o Chile assinou acordos de livre-comércio com 21 países, o México com 13, o Peru com 12 e a Colômbia com 11, incluindo Estados Unidos e União Europeia.
É verdade que Chile, Peru e Colômbia são nações que dependem basicamente da venda de commodities, não dispondo de parque industrial desenvolvido nem de produtos de alto conteúdo tecnológico, o que facilita a assinatura de acordos. Já o Brasil, que enfrenta um problema de falta de competitividade de seus produtos manufaturados, ainda luta para preservar o seu parque industrial. E precisa avaliar bem as conseqüências de qualquer acordo de livre-comércio. Mas, em números absolutos, aparentemente, os acordos têm produzido melhores efeitos nas economias de Chile, Peru e Colômbia, que cresceram respectivamente 5%, 6% e 4,3%, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deverá subir 1%, se tanto, em 2013.
Para o Brasil, um acordo multilateral parece ser mais adequado, pois inclui a discussão sobre subsídios agrícolas. Por isso, seria recomendável a conclusão do acordo Mercosul-União Europeia, depois de 11 anos de negociações infrutíferas. Até porque Estados Unidos e União Europeia estão para criar a chamada Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, que será a maior zona de comércio do mundo, representando metade do produto mundial e 30% do comércio planetário. Em outras palavras: quem quiser exportar para esse novo bloco terá de se sujeitar aos seus padrões.
Ao mesmo tempo, os EUA articulam com Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Cingapura, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Peru e Vietnã o Trans Pacific Partnership (TPP), um bloco que deverá estar constituído até 2014, alcançando 40% da economia mundial. Quer dizer, será cada vez mais difícil participar do comércio mundial fora de um grande bloco.
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(*) Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br