Para não voltar ao tempo do pau-brasil

Mauro Lourenço Dias (*)

Quem analisa os números da balança comercial sabe que as exportações dependem hoje de um número reduzido de commodities e, especialmente, do mercado chinês. Se no antigo sistema colonial o Brasil dependia exclusivamente de Portugal, no século XX essa dependência no comércio exterior passou a ser em relação aos Estados Unidos e, agora, no século XXI, a China.

O ideal seria que houvesse maior equilíbrio nas contas e o Brasil não dependesse de nenhuma outra nação para fechar em azul as suas contas externas, negociando com o maior número possível de parceiros. Por isso, é bem-vinda a iniciativa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) de promover rodadas de negócios de empresas brasileiras com compradores da China, Taiwan, Hong Kong e Cingapura, como aquelas que ocorreram em novembro, em Pequim, durante o evento Flavours from Brazil (Sabores do Brasil).

Os setores contemplados foram os de carne bovina, de frango e suína, cafés especiais, vinho e mel, que despertaram o interesse de 45 compradores, proporcionando uma expectativa de US$ 55 milhões em negócios para 2013. O que se espera é que a iniciativa contemple outros setores, especialmente o de produtos manufaturados.

Afinal, cinco commodities (minério de ferro, petróleo bruto, soja, açúcar e carne) representam cerca de 50% do total das exportações brasileiras, compradas principalmente pela China. Em outras palavras: o Brasil é hoje um grande exportador de commodities. Nada contra a exportação desses produtos. Pelo contrário. Mas isso indica que caiu por terra todo o esforço de governos anteriores para criar uma indústria capaz de substituir os produtos manufaturados importados, que tinha por objetivo eliminar ou reduzir a dependência do Brasil a nações industrializadas.

Até porque a situação atual é instável e, portanto, perigosa para os destinos do País. Basta ver a questão do minério: hoje esse produto é o grande responsável pela evolução das commodities na pauta de exportação brasileira, mas nada garante que o será por muito tempo. A China continua a comprar minas de minério de ferro em todo o mundo para assegurar o seu abastecimento. Assim, quando tiver acumulado um bom estoque, com certeza, vai forçar uma queda nos preços desse produto. É do mercado.

Com o desleixo dado nos últimos anos à política de substituição das importações de produtos manufaturados, a produção industrial brasileira estagnou-se, ao mesmo tempo em que crescem os componentes importados na sua produção. Isso mostra que está na hora de o MDIC e a Apex-Brasil fazerem igualmente esforços para abrir o mercado asiático para o produto manufaturado brasileiro, convencendo os consumidores daquela região de que o Brasil também é fornecedor de produtos diversificados, confiáveis e de qualidade.

Afinal, o comércio exterior brasileiro não pode continuar a depender apenas de commodities - e muito menos de cinco ou seis produtos. Do contrário, o País pode voltar ao tempo do pau-brasil.

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(*) Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br


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Timothy Bancroft-Hinchey