O que a Nação espera

Milton Lourenço (*)                      

A lentidão sempre marcou o desenvolvimento de qualquer obra pública de vulto no Brasil. E não há nenhuma evidência de que o cronograma apresentado pelo Programa de Investimentos em Logística: Rodovias e Ferrovias será cumprido à risca com a aplicação em 25 anos de R$ 91 bilhões em 10 mil quilômetros de linhas férreas e R$ 42,5 bilhões em 7,5 mil quilômetros de rodovias, o que equivale a um investimento total de R$ 133,5 bilhões.

            Até porque um quarto de século é tempo demasiado que estará sujeito a muitas chuvas e trovoadas políticas. E a experiência tem mostrado que o Estado sempre gasta mal. É o que se tem visto ao longo da atuação do Ministério dos Transportes que nunca consegue aplicar em obras nem 50% dos recursos que empenha todos os anos em seus orçamentos. Seja como for, o Brasil, depois de anos e anos de estatismo, chega agora, sob a batuta da presidente Dilma Rousseff, ao neoliberalismo da antiga primeira-ministra inglesa Margareth Thatcher, ainda que com mais de 30 anos de atraso.

            Em outras palavras: foram necessárias décadas de impasses e má administração pública para que se chegasse à conclusão óbvia que um pouco de capitalismo na gestão de negócios antes tidos como exclusivos do Estado não faz mal a ninguém. Assim é que, num primeiro momento, rodovias e ferrovias serão tocadas daqui para frente por empresas privadas e, numa segunda etapa, os portos, os aeroportos e as hidrovias.

            Se o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), nome pomposo que se criou para reconhecer a ineficiência estatal na construção e gestão da infraestrutura logística, seguir o caminho certo, em 2025, a matriz de transporte será mais homogênea. Assim, o modal rodoviário, hoje majoritário e responsável por mais de 60% de todo o transporte de carga, deverá representar apenas 30%.

            Tarefa hercúlea, sem dúvida, se se levar em conta que em São Paulo, o Estado mais desenvolvido na Federação, aquela marca ultrapassa 90%. Já o modal ferroviário, hoje com cerca de 25%, deverá passar para 35% em13 anos. Haja otimismo. Afinal, como poderão abolir o estatismo aqueles que sempre se serviram dele e nele sempre se apoiaram e vicejaram?

            Mas, já que se trata de planos visionários, não se pode esquecer o modal aquaviário. Talvez ainda vá demorar muito para se ver filas de contêineres em barcaças como se contempla habitualmente nas águas do rio Neckar, nas proximidades do porto fluvial de Mannhein, na Alemanha, mas não custa sonhar.

            Segundo os números do PNLT, o transporte aquaviário, quem sabe tomado por um furor thatcheriano, dará um salto gigantesco até 2025, passando dos atuais 14% na matriz de transporte para 29%. É verdade que o papel aceita tudo, mas, se o PNLT em 13 anos concretizar pelo menos 50% do que prevê, o Brasil já terá saldado um débito de décadas de atraso em investimentos em logística.

            E, como disse a presidente no discurso que serviu para anunciar o Programa de Investimentos em Logística: Rodovias e Ferrovias, que faz parte do PNLT, o País terá finalmente uma infraestrutura compatível com o seu tamanho. Que essa não seja apenas uma frase de efeito. É o que ansiosamente a Nação espera.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). Site: www.fiorde.com.br E-mail: fiorde@fiorde.com.br

 

 


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Timothy Bancroft-Hinchey