O sonho americano ainda existe?

Com o slogan “o sonho americano ainda está vivo”, comerciais nas TVs dos Estados Unidos oferecem botões de lapela, bandeirinhas, pratos, moedas, posters, enfim, todo tipo de souvenir que tenha a foto de Barack Obama e que possa materializar esse momento histórico que a nação que mais discriminou os negros em todos os tempos está vivendo.

por Eliakim Araujo em Miami


Com o slogan “o sonho americano ainda está vivo”, comerciais nas TVs dos Estados Unidos oferecem botões de lapela, bandeirinhas, pratos, moedas, posters, enfim, todo tipo de souvenir que tenha a foto de Barack Obama e que possa materializar esse momento histórico que a nação que mais discriminou os negros em todos os tempos está vivendo.


Nas ruas da capital, os repórteres ouvem populares de todos os cantos do país, a maioria afro-americanos, que acorreram a Washington para testemunhar o acontecimento inimaginável há apenas algumas décadas. E, como se tivessem combinado a resposta, todos afirmam: “nunca pensei que esse dia pudesse chegar”. Os comentaristas políticos são unânimes em afirmar que nunca viram nada igual em termos de vibração e participação popular.


Esse era o clima neste fim de semana no país que vai empossar nesta terça-feira, não apenas seu quadragésimo-quarto presidente, mas o primeiro negro a alcançar a chefia do governo da nação mais influente do planeta.


Até terça, dia 20, tudo fica em segundo plano na terra de Tio Sam. Não se fala mais de crise, de empresas e bancos quebrados, de desemprego ou de pessoas que não podem pagar suas hipotecas. Tudo isso perde importância nessas horas que nos separam da posse do novo presidente.


Obama segue resoluto, arrasta multidões por onde passa. Foi assim no sábado, quando repetiu a histórica viagem de trem que Abraham Lincoln fez, em 1861, quando foi da Filadelphia a Washington para tomar posse como décimo-sexto presidente dos EUA. Obama, no caminho por onde passava o trem, onde estavam ele e a família, o vice Joe Biden e a mulher e alguns poucos convidados, era saudado pela multidão que acenava emocionada sem se importar com o frio abaixo de zero. Parafraseando a eleição brasileira, a esperança está vencendo o medo. Pelo menos, por enquanto.


No dia 21, Obama vai acordar presidente dos Estados Unidos. Será como acordar de um sonho e cair na realidade. As promessas de campanha foram muitas, talvez até ele tenha arriscado mais do que devia ou podia. O país está metido num buraco gigantesco.. A reestruturação de setores vitais que afetam diretamente o dia a dia do cidadão é urgente.


Milhões de pessoas estão abandonando suas casas por não conseguirem pagar a prestação da hipoteca. Mais de cinquenta milhões de americanos não têm seguro-saúde, o que acarreta uma despesa monumental ao Medicaid (do governo), que tem cobrir os gastos dos que não podem pagar. O Medicare, uma espécie de INSS, que paga as aposentadorias e beneficíos dos que contribuíram a vida a toda, está quebrado e necessita de uma reforma urgente. A crise na economia levou ao fechamento de 2,6 milhões de postos de trabalho em 2008, o maior número desde 1945. Bancos e fábricas de automóveis parece que se encontram num beco sem saída, apesar do socorro financeiro que alguns já receberam.


Em politica externa, Obama prometeu resgatar a imagem dos EUA perante o mundo. Para isso, anunciou que vai dialogar com as lideranças da América Latina, inclusive Chávez, e também com o Irã e a Coréia do Sul. Prometeu acabar com a guerra no Iraque, uma máquina de sugar vidas e dinheiro público, e fechar a prisão de Guantânamo, onde os suspeitos de terrorismo foram torturados durante o governo Bush.


Todas essas medidas têm enormes implicações políticas e corporativas, obstáculos que podem atravessar o caminho de Obama. As grandes corporações, que dominam setores delicados da economia do país, possuem imenso poder na hora das decisões governamentais. Quase todas doaram altas quantias para as campanhas dos candidatos. Elas formam o “sistema” que atua em todos os campos da administração pública.


Obama pode ter as melhores intenções do mundo. Mas sera que o “sistema” vai deixar que ele faça tudo o que prometeu?

http://www.guiasaojose.com.br/novo/coluna/index_novo.asp?id=2134

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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