Paulo Caruso: Bate-Papo com o Autor

O cartunista Paulo Caruso Participa do projeto “Bate-Papo com o Autor”, Dentro das comemorações do Centenário da Academia Mineira de Letras, Lançando o livro: “ Avenida Brasil: Se Meu Rolls-Royce Falasse”.

Dia 05 de junho, às 19:30h. Rua da Bahia 1.466.

Informações: 3222-5764.

Cartunista e caricaturista, Paulo Caruso nasceu em São Paulo, capital, e é formado em arquitetura. Caruso já trabalhou em todos os grandes jornais e revistas do Brasil, mas foi na revista Isto É que ele, por mais de 25 anos, manteve a coluna Avenida Brasil, que o projetou nacionalmente. Editada sempre na ultima página da revista, Paulo fazia um retrato bem humorado da política nacional.

Atualmente, Paulo Caruso publica essa coluna na Revista de Domingo, do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, onde faz seus comentários bem humorados sobre a política e a vida nas grandes metrópoles, além de participar do programa Roda Viva, da TV Cultura, em que faz caricaturas ao vivo das personalidades e assuntos debatidos durante o programa.

Nessa edição do “Bate-Papo com o Autor”, Paulo Caruso vai autografar o livro: “Avenida Brasil: Se Meu Rolls-Royce Falasse”, que será vendido a R$ 5,00, além de debater sobre o cartunismo no Brasil, jornalismo e liberdade de expressão.

O livro:

Avenida Brasil: Se Meu Rolls-Royce Falasse

Nesse livro, Paulo Caruso retoma a coletânea de sua coluna Avenida Brasil, publicada durante 25 anos na revista Isto É e, agora, na Revista Domingo, do Jornal do Brasil.

Em um apanhado saboroso, em que estão registradas as várias fases do governo Lula, da euforia inicial que tomou conta do país ao desencanto reinante com a sucessão de escândalos que o acometeu.

O Fome Zero, a Operação Anaconda, Severino Cavalcanti e a Ópera do Mensalão são alguns dos assuntos que desfilam diante do leitor, como num resumo da gestão do operário que chegou lá, uma visão do governo Lula que não prescinde do humor para o julgamento que a história haverá de fazer um dia.

Uma Avenida Chamada Brasil


Tudo começou, há vinte e cinco anos atrás, com um botequim.

O Bar Brasil, criado à imagem e semelhança do boteco que abrigava nossas reuniões de pauta no baixo-lapa, seria o ponto de encontro entre a situação e oposição dividida pelo regime militar.

Inspirado no temperamento ciclotímico do General João Batista Figueiredo, que ia da depressão abúlica à euforia galopante (pra usar um termo bem adequado, já que o referido pertencia à cavalaria) e que, à todo momento, ameaçava prender e arrebentar quem fosse contra a abertura patrocinada por ele, o Bar Brasil o abrigava paramentado como dono de botequim, avental vermelho e tamancas que a qualquer momento poderiam ser arremessadas na direção de um usuário mais atrevido.

Retrato do momento político, o Bar era uma metáfora adequada àqueles tempos em que falar abertamente poderia ser considerado ofensa.

Enquanto espaço cênico, algumas considerações foram sempre levadas a sério, a saber:

1.Aparência de quitanda do interior, com três portas encimadas por arcos metálicos que abrigariam a meu ver, representantes do esquêmico espectro político delineado por aqueles tempos bicudos: direita, centro e esquerda, bem antes da propalada centro direita ou centro esquerda, como alguns políticos preferem ser denominados.

2. Ao contrário do cenário suntuoso dos palácios de Brasília, o boteco serviria para um rebatimento adequado, no plano do cotidiano, de todas as decisões palacianas distantes de suas ressonâncias no dia a dia das pessoas, em geral vítimas dessas mesmas decisões.

3. Os personagens circulantes por esse cenário seriam todos sobejamente conhecidos, oriundos do nosso mundo político, de comportamento e de costumes.


A partir dessas premissas, inicialmente contando com a colaboração de um parceiro, o repórter político Alex Solnik, criávamos semanalmente para a revista Careta, editada por Tarso de Castro, um comentário bem humorado e sarcástico dos tempos que corriam.

A revista durou dezenove números e, quando o editor proclamou seu fim, nos baldeamos para outra publicação da editora, a Revista Status, criando histórias em quadrinhos da política e comportamento nacionais, que abrangiam a anistia, a volta de Fernando Gabeira do exílio e a conseqüente liberalização dos costumes, a Copa do Mundo de Futebol sobre a ótica da geopolítica ( uma palavra pré-globalização) etc.

Mais tarde fomos albergados, eu e meu parceiro que fazia às vezes de reporte de campo e argumentista, nas páginas da revista Senhor, em vias de se tornar semanal.

O que aconteceu com a chegada de Mino Carta à direção da revista, cuja condução durou em torno de dez anos.

Nesse período, no final dos anos oitenta, rompemos a parceria e comecei a publicar a página semanal com meus próprios argumentos e roteiros.

Coincidindo com a morte de Tancredo Neves e grande frustação que se seguiu, intuí a continuidade do nosso processo político não mais apenas através da sátira ao poder central, simbolizado no Bar Brasil, mas sim através da própria abertura política, que nos traria indiscutivelmente novos parâmetros do poder, interferindo naquela visão nuclear oriunda do regime militar.

Nasceu então a Avenida Brasil, uma imagem da transição pela via das dúvidas, como intitulei na primeira coletânea da série.

Ali, naquele espaço expandido, como em uma maquete do nosso cenário político, estavam representados, além do Bar Brasil, imagem do poder central, a farmácia Droga Nova República, rebatendo para ela os comentários sobre as consequências da nossa sempre frágil política de saúde, a panificadora Centrão, espaço dos acordos e arreglos à minuta entre os políticos conservadores do Congresso Nacional, contando pra isso com a colaboração de notáveis como José Lourenço ou Robertão Cardoso Alves, entre outros e que, logo a seguir esteriam representados no Shopping Center O Conjunto Nacional, local onde os pais ensinam os filhos a gastar o seu, o meu, o nosso precioso dinheirinho, na praça de alimentação deles.

Paralelamente ao contexto do grafismo, desenvolvi também a concepção cênica e musical desse universo, com composições musicais como Bar Brasil, Avenida Brasil e Droga Nova Republica que foram gravadas em disco e comercializadas, em reduzida, porém significativa tiragem.

Ao longo desse processo, pude comentar, sem nenhuma censura ou coerção de qualquer tipo, a quebradeira dos bancos que se seguiu à imposição de câmbios irreais dos pacotes econômicos, a briga entre os egos imortais pela sucessão de Jorge Amado, as garotas de programa como Hebe Camargo, Ana Maria Braga e Adriane Galisteu, as passagens dos Rollings Stones e Bob Dilan pelo botequim, até mais recentemente a chega ao poder do nosso presidente operário, com uma pitada irônica em cima da novela Bang Bang, de Mário Prata da TV Globo, antigo colaborador da nossa Careta.

Há dias atrás soube da intenção do editor de encerrar minha colaboração.

Depois do choque compreensível pra quem fez desse universo uma página da nossa história política ao longo de vinte cinco anos, me surpreendi feliz pela etapa cumprida em nossa transição rumo à democracia neste país.

Está aí o Lula, pronto pra disputar sua reeleição para atestar ( e testar ) mais uma vez nossa democracia.

Sobrevivi, ao longo desse período, a uma dezena de diretores de redação que sempre compreenderam e participaram alegremente desse desafio de criatividade que a revista semanalmente nos impunha.

Mais do que isso, pra quem durante tempo fez da sua vida uma avenida, não há por que temer o olho da rua...

Mais uma vez tenho a chance de recuperar esse universo, agora nas páginas da Revista de Domingo, no Jornal do Brasil, onde espero me reencontrar com meus leitores e criar uma nova legião de amigos a partir desta experiência.

Paulo Caruso

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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