A outra história dos Estados Unidos

Havana (Prensa Latina) Ainda que tenha sido construída uma auréola de prosperidade e bonança em torno dos Estados Unidos, existe um lado escuro, às vezes ignorado pelos grandes meios de imprensa, que revela a marginalidade e a pobreza que padecem milhões de seus cidadãos.
 
Sites e meios alternativos fizeram eco de um fato insólito:
Centenas de pessoas pobres esperavam adquirir comida em bom estado de um supermercado que seria fechado em Laney Walker, Augusta, sede do condado de Richmond, no estado da Georgia, mas os donos preferiram jogá-la fora a entregar aos necessitados.


Os residentes do local encheram o estacionamento com carteiras e cestas com a esperança de conseguir alguns dos alimentos para bebês, produtos enlatados e não perecíveis, e que o banco SunTrust, dono da propriedade, ordenou carregar em contêineres para atirar em um desaguadouro em vez de distribuí-los.


O incidente situa-se distante da edulcorada imagem do chamado sonho americano.

"A gente tem crianças aqui com fome e sede", disse Robertstine Lambert, quem vive em Augusta. Por que atirar isto no lixo, se perguntou em tom de lamento, segundo se descreveu em uma reportagem divulgada no site Global Research.


Em Richmond há cerca de 20 desalojamentos por dia, e a zona que rodeia esse supermercado é uma das mais pobres do estado. Dados atualizados calculam a taxa de pobreza em 41 por cento nessa área.
Pelo que muitas pessoas que estavam no estacionamento do Laney Walker provavelmente tenham sofrido na própria carne um desalojamento e estavam em necessidade desesperada da ajuda alimentar.

Em uma sociedade capitalista, o motivo por trás da produção de alimentos não é satisfazer este direito, a moradia não é feita para dar abrigo nem a roupa para manter o calor e o cuidado com a saúde não é oferecido principalmente para que tenha pessoas sãs, destacou a reportagem.


"Todas estas coisas, que são e devem ser consideradas como direitos básicos, não são mais que produtos básicos -que se compram e se vendem, para obter um benefício. Se o benefício não for logrado, em geral devido à superprodução em relação com o mercado, o produto é considerado inútil pelo capitalista e o destrói", enfatizou Global Research.


Para estas instituições, as quais têm feito seus ganhos através dos desalojamentos e as execuções hipotecarias, não é surpreendente deixar à gente olhando com incredulidade com as carteiras vazias, enquanto a comida que poderia alimentar a múltiplas famílias era jogada em um desaguadouro.


E esta história não é uma exceção. A vida nos bairros mais pobres dos Estados Unidos é sumamente difícil e tende a piorar, expressam defensores dos direitos humanos.


Abaixo de Kansas City, a Polícia descobriu em abril túneis profundos onde vivia em cabanas um grupo de pessoas sem teto, a quem se desalojou devido ao "meio inseguro". Em 2010 saiu à luz que mil pessoas sobreviviam ao longo de 321 quilômetros de túneis, localizados embaixo das ruas de Las Vegas.


Por sua vez, as autoridades de Nova York tentam expulsar de maneira periódica às pessoas (conhecidas como a gente topo) que procuram abrigo nos passeios embaixo da cidade.


Apesar de exemplos como esses, o governo dos Estados Unidos sustenta que a recessão no país terminou e as coisas melhoram, ainda que não com a celeridade esperada.


O site Imprensa Internacional Alternativa sublinhou que os novos índices de pobreza na nação setentrional se elevaram de forma abrupta nos últimos cinco anos.

Estatísticas publicadas no The Wall Street Journal mostram que a pobreza se estende a todo o território nacional; o número de pessoas que recebem cupons de alimentos se elevou a um recorde de quase 50 milhões de estadunidenses.


De outro lado, em setembro de 2011, o Escritório do Censo revelou em seu relatório anual da pobreza que 46,2 milhões de pessoas, ou o que é o mesmo, aproximadamente um da cada sete estadunidenses, era pobre em 2010.


Os números dispararam de forma brusca em comparação com o ano precedente, que era de 43,6 milhões.


Ainda que devido à recessão (de 2008 até hoje) aumentou o número de pobres, os altos índices deste sensível indicador são anteriores a essa conjuntura econômica.


Os especialistas asseguram que mais que alarmantes, estas são cifras esperadas pois a pobreza sempre aumenta em tempos de recessão, e esta foi a mais profunda e extensa desde a Grande Depressão de 1929.


Ao mesmo tempo, o número de habitantes sem seguro médico supera os 50 milhões de pessoas.


Enquanto isso, a taxa de desemprego está em 7,5, a qual não obstante ter descido 0,4 pontos percentuais desde o começo do ano, segue em níveis altos. Isso significa que ainda 11,7 milhões de cidadãos estão sem um posto trabalhista.


Sheldon Danziger, diretor do National Poverty Center (Centro Nacional da Pobreza) da Universidade de Michigan, disse a BBC Mundo que os índices de pobreza nos Estados Unidos são maiores que no Canadá e alguns países do norte da Europa.


Entre outras razões -apontou- porque as políticas sociais fazem muito pouco por aumentar os salários dos trabalhadores em épocas de bonança econômica ou para ajudar os desempregados durante as recessões.


Em março entraram em vigor os cortes no orçamento de 85 bilhões de dólares, o que obrigou à Casa Branca a cortar programas sociais de ajuda em especial a pessoas em situação de pobreza extrema, incluindo disposições relacionadas com a moradia, a educação pré-escolar e os benefícios nutricionais.


Por isso muitos opinam que o sistema é tão complexo e perverso que não há maneira de mudá-lo desde cima. As reformas da administração democrata de Barack Obama nem têm a intenção nem seriam capazes, se a tivessem, de reestruturar o sistema em suas bases.


*Jornalista da redação América do Norte da Prensa Latina.
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=51efec699670c82f306c1b8251b8a6ae&cod=11639

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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