Se quer seu tal 'pivô', Obama que negocie com seriedade

Se quer seu tal 'pivô', Obama que negocie com seriedade


Irã e seis potências mundiais deram passo significativo, mas difícil, na direção de uma reaproximação nuclear, no domingo, com o anúncio de que chegaram a um acordo que detém o disputado programa nuclear iraniano, em troca de uma modesta redução nas sanções econômicas incapacitantes.

Em negociações recentes com o Irã, os EUA outra vez tentaram assaltar o direito do Irã, de enriquecer urânio. Foram necessárias pressões severas de Rússia e China para reverter a tentativa de assalto e tornar possível o acordo. Para o Washington Post:[1]

"Irã e seis potências mundiais deram passo significativo, mas difícil, na direção de uma reaproximação nuclear, no domingo, com o anúncio de que chegaram a um acordo que detém o disputado programa nuclear iraniano, em troca de uma modesta redução nas sanções econômicas incapacitantes.
13/1/2014, Moon of Alabama - http://www.moonofalabama.org/
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As semanas de barganha para pôr em prática o acordo de novembro foram mais difíceis do que se previa, com rápido desligamento dos negociadores iranianos e rancor no bloco de nações que negociavam o acordo. Rússia e China, há muito tempo protetores do Irã na ONU, empurraram os EUA para que aceitassem concessões técnicas que deixaram ainda mais evidente que o Irã está mantendo a capacidade para enriquecer urânio, demanda chave dos iranianos, tão logo se aprove um conjunto definitivo de limitações ao seu programa.

Rússia e China ameaçaram atropelar as sanções e criar condições para que o Irã prossiga o próprio programa nuclear como bem entender, sem qualquer limitação, enquanto dá vida nova à economia. A ameaça foi lançada via matéria "exclusiva" da Agência Reuters, na 6ª-feira à tarde:[2]

"Irã e Rússia estão negociando uma troca de petróleo por produtos no valor equivalente a US $1,5 bilhão/mês, que permitirá que o Irã aumente consideravelmente as exportações de petróleo, mas mina as sanções ocidentais que ajudaram a persuadir Teerã em novembro a aceitar um acordo preliminar para suspender seu programa nuclear.

Fontes russas e iranianas próximas da mesa de negociações disseram que estão sendo discutidos detalhes finais de um acordo pelo qual Moscou passará a comprar cerca de 500 mil/barris dia de petróleo iraniano, em troca de equipamentos e outros produtos russos."

Se esse acordo acontecer, equipamento 'ocidental' exportado para Rússia e China poderá chegar facilmente até o Irã. Rússia e Irã interconectam-se pelo Mar Cáspio, onde os EUA não têm meios para impor qualquer bloqueio.

Por hora, o governo Obama cedeu à pressão dos russos, mas as dificuldades só aumentarão com as negociações de um acordo permanente. Rússia e China já fixaram um conjunto de limites às escandalosas exigências que os EUA insistem em fazer. Até aliados dos EUA[3] já pressionam pelo fim das sanções e para que se assine um acordo o mais rapidamente possível:

"Falando a Jon Sopel da BBC, Sheikh Mohammed bin Rashid, vice-presidente e primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos e governador de Dubai, referiu-se a grande número de questões políticas na região, em particular ao conflito sírio, às sanções contra o Irã e o futuro do Egito.
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Na entrevista, Sheikh Mohammed menciona a necessidade de levantarem-se as sanções contra o Irã, para assegurar que melhor cooperação no processo de desarmamento nuclear do país.

"O Irã é nosso vizinho e não queremos problemas. Levantem-se as sanções, e todos serão beneficiados" - disse Sheikh Mohammed.

O governador de Dubai disse também que acredita que o Irã esteja dizendo a verdade quando diz que a tecnologia nuclear só interessa ao país para finalidades civis.

"Conversei com Ahmadinejad e ele disse 'se eu disparar um foguete contra Israel, matarei quantos palestinos?! Não sou louco. Nunca tentaria esse tipo de loucura. Bomba atômica é arma do passado'," - disse Sheikh Mohammed.

Obama só tem, como alternativa racional, não enlouquecida, negociar com seriedade e buscar um acordo permanente. Se não conseguir acordo agora, o próprio sistema de sanções cairá em ruínas. E fazer guerra ao Irã tampouco é alternativa viável. Atacar o Irã, que não está construindo bombas atômicas, sob algum argumento da 'não proliferação', destruirá completamente a posição político-moral dos EUA no mundo; ao mesmo tempo, ataque desse tipo não deterá[4] e, além do mais, dará justificativa para que o Irã, sim, passe a procurar força nuclear de contenção. Uma guerra no Golfo Persa seria devastadora para a economia mundial. "Contenção", sem regime de sanções que funcione, não é contenção, de modo algum; nem é alternativa séria.

Obama quer que os EUA façam um movimento de 'pivô' na direção da Ásia. Obter essa redução no envolvimento dos EUA no Oriente Médio é uma necessidade. Mas nem Israel nem a Arábia Saudita querem saber disso. Querem manter a atenção dos EUA concentrada nos inimigos que veem como inimigos deles. Mas os EUA não podem engajar-se na Ásia e continuar envolvidos completamente no Oriente Médio. É uma coisa, ou a outra.

Os sionistas estão pressionando o Congresso para que detone as negociações com o Irã,[5] criando leis novas de sanções unilaterais dos EUA contra terceiros países que negociem com o Irã. A culpa é toda de Obama, que deixou crescer essa estratégia de "sanções sufocantes". Essa estratégia está fracassando, e não será fácil para Obama livrar-se dela. Mas o Congresso não se atreverá a votar diretamente a favor de guerra contra o Irã.

Se Obama negociar de boa fé com o Irã, os EUA terão parceiro sério e confiável no Golfo, e o seu 'pivô' para a Ásia será viável.

Mas pôr-se a tentar golpes e jogadas, como tentou mais uma vez semana passada - até que a Rússia interveio -, deixará Obama com uma estratégia de "contenção" do Irã que os EUA não terão como implantar e que drenará seus recursos; e o 'pivô para a Ásia' permanecerá como sonho inalcançável por falta de meios.

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[1] http://www.washingtonpost.com/world/national-security/iran-nuclear-deal-takes-big-step-forward/2014/01/12/710e3716-7bcd-11e3-97d3-b9925ce2c57b_story.html?hpid=z1
[2] 10/1/2014, "Exclusivo: Irã e Rússia negociam trocar petróleo por produtos", Reuters (trad. em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/01/exclusivo-ira-e-russia-negociam-trocar.html)
[3] http://www.thenational.ae/uae/government/sheikh-mohammed-dubai-ruler-says-iran-telling-truth-over-nuclear-ambitions
[4] http://www.washingtontimes.com/news/2013/jul/22/military-alone-cant-stop-irans-nuke-program-gen-ja/
[5] http://armscontrolcenter.org/issues/iran/articles/analysis_of_faults_in_the_menendez-kirk_iran_sanctions_bill_s_1881/

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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