A crise dos Cereais: - “É bom também!!!”

Que Viriato Palhares, Prefeito de Passaperto, na telenovela brasileira “Desejo Proibido”, nos desculpe, mas a sua expressão de marca “É bom também!!!” vem a calhar… Vem a calhar a propósito da badalada “Crise dos Cereais”.

Muitas serão as razões que podem explicar a actual alta de preços dos cereais sem que se refira a principal. Pode-se, por exemplo, evocar o aumento da demanda, a redução das safras devido às “alterações climatéricas” (Antigamente falava-se de intempéries e secas…), o custo do Petróleo, os bio-combustíveis, blá, blá, blá, sem no entanto referir a fundamental: a especulação. Tal é que de facto explica, no nosso entender, a chamada “Crise dos Cereais”. Obviamente que esta interessa, e muito, àqueles que “investem” na bolsa das commodities alimentares e no mercado dos futuros, pelo que algumas das razões aduzidas apenas servem para escamotear a primeira e “É bom também!!!”…

No caso das commodities, a título de exemplo, a banca portuguesa está a oferecer aplicações sobre a bolsa de Chicago… A táctica de tão velha, já está desdentada… Serve para dissimular um dos mais antigos pecados: a ganância. Por outro lado, referir várias situações avulsas como causas de um problema, só pode servir para proteger interesses de quem age com segundas intenções e “distrair” os principais visados, no caso: os consumidores pobres.

Poucos são os que se atrevem denunciar a sanha do Oligopólio Alimentar que esta Globalização pariu, responsável, esta sim, pela actual alta de preços dos cereais. Jacques Diouf, Director-geral da FAO terá sido um dos poucos que abordou o problema do ponto de vista da especulação, responsabilizando os produtores de insumos agrícolas e os investidores bolsistas. Assim mesmo o fez de um modo “cauteloso”. A FAO recomenda apenas que os bancos disponibilizem linhas de crédito especiais para estímulo à produção agrícola nos países que serão mais afectados, ou seja, uma solução paliativa que corresponde mais do mesmo…, servindo em última estância quem mais responsabilidade tem nesta e em todas as crises recentes: a Oligarquia Financeira Internacional.

No que concerne aos segundos, simplesmente refere que o aumento dos preços dos cereais resulta de uma demanda especulativa dos investidores de fundos, afirmando: “Porque os fundos (Traduza-se: os especuladores.) vêem oportunidade para especular”… Trata-se portanto de uma escassez estratégica, pese a enumeração de “boas” justificativas, que não passam de meias-verdades para confundir, como habitualmente, a opinião pública.

Tal como acontece com o Clima, a “mídia” não esclarece, não aprofunda, apenas limita-se a debitar as opiniões de quem mais está interessado, e apenas isso, em lucrar com o medo e o pânico que induzem deliberadamente nas populações. Praticamente o fazem como alguns clérigos faziam no ano mil, que, inflamados por uma sanha apocalíptica, anunciavam do alto da tribuna o “Fim do Mundo”, esperando com isso manter o “rebanho” no redil e trazer de volta as “ovelhas ranhosas”… Pudera! Não é evidente que as Centrais de Informação Internacional estão ao serviço dessa Oligarquia, que entre muitos domínios e interesses, também é dona do Oligopólio Alimentar?

A “Crise dos Cereais” é consequência directa de uma Globalização que, com a liberação dos mercados, destruiu as Economias domésticas, e fê-lo enganosamente, em nome dos interesses dos visados, anunciando que tal aumentaria a Concorrência Internacional e logo baixaria os preços junto dos consumidores. “Conversa fiada!”, diria um brasileiro nosso amigo. Na verdade foi deliberada e programada nas rondas secretas da OMC e quejandas, tendo em vista apenas sacar lucros e muito lucro sobre a necessidade dos povos.

O fim da relativa autonomia alimentar dos países, em nome da “eficácia económica” e outros enganos, teve como corolário a dependência global alimentar em relação a um restrito número de agentes económicos. O Oligopólio Alimentar tem praticamente o controle de 75% do comércio mundial das sementes, fertilizantes e pesticidas. Seus interesses não se ficam por aqui. Investe noutras áreas, nomeadamente na produção de bens alimentares, no fast-food, na indústria farmacêutica, no Petróleo, e por aí a fora. Especulam nos mercados financeiros, particularmente no dos “futuros”, onde se operam aplicações financeiras sobre bens expectáveis, ou seja, ainda a “galinha não pôs o ovo” e já estão a pensar em comê-lo…

É o caso do Petróleo, que independentemente de termos ou não atingido o seu Pico, fazem-se no mercado dos “futuros” aplicações sobre quantidades fictícias, o que obviamente contribui para alta de preços do crude e logo também de tudo em geral. Em conclusão: o seu Capital é transversal a diferentes actividades económicas e financeiras, pelo que estão omnipresentes em todo o lado, como se fossem Deus… Claro que este grupo de crápulas tem contado com a cumplicidade dos Governos, de alguns políticos (Muitos…), que tratam de moldar a legislação doméstica no sentido viabilizar a sua sanha predatória. Daí assistirmos “serenamente”, há décadas, ao abandono das terras e à consequente a migração sistemática dos camponeses para as cidades. Em Portugal, por exemplo, a CEE pagou para não se plantar; pagou para não se pescar; comprou enfim a nossa relativa autonomia alimentar. Veja-se que chegámos a exportar trigo; hoje temos que o importar!!! Evidentemente que nesta empreitada de desestruturação agrícola, como de resto de outros sectores da economia, houve a colaboração militante de muitos Vasconcelos… (Traduza-se: traidores.).

Artur Rosa Teixeira

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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