Principais processos que influenciarão a situação da Rússia em 2015

Principais processos que influenciarão a situação da Rússia em 201

"Além disso, os problemas econômicos não são caso só russo, e também estão presentes em outros países. É preciso criar novos slogans para compensar a competição implícita no processo de integração.  

Aqui, me parece, o elemento chave está nas ideias do socialismo. Além do mais, conforme caiam os padrões de vida, as ideias socialistas inevitavelmente voltarão à tona na vida russa, cada vez mais fortes. Até aqui, nenhum grupo ou partido político dá sinais de ser competente para articular um verdadeiro programa socialista." (...)

"Além disso, no caso contemporâneo, o ocidente têm cometido erros muito graves, em suas 'avaliações'. O ocidente construiu uma dicotomia de Khodorkovsky & Navalny (apresentados como se fossem "pais da democracia russa") versus Putin "o carrasco sanguinário". Foi o que bastou para que 90% dos russos, que conhecem bem, pelo menos, com certeza, Khodorkovsky & Navalny, se atirassem, satisfeitíssimos, nos braços de Putin."
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As elites russas

O que se conhece como "as elites russas" emergiram durante o processo de desintegração da sociedade socialista do período final, e foram uma espécie de 'solução' para que se cumprissem duas tarefas básicas a elas atribuídas por grupos muito poderosos dentro da população - do crime organizado aos estratos medianos e mais baixos da elite soviética. 

Aquelas tarefas foram (1) conseguir a completa eliminação de qualquer responsabilidade que o Estado tivesse para com a sociedade; e (2) garantir a transferência dinástica do status e da riqueza, sempre dentro das próprias elites. 

A segunda tarefa foi cumprida com a introdução da propriedade privada; a primeira, com a eliminação de toda e qualquer instituição do estado (as que funcionassem mal e também as que funcionassem bem).

A partir do final dos anos 90s, quando se tornou claro que o estado não poderia existir sem nenhumainstituição (porque surgira o problema de proteger a riqueza obtida no processo da privatização), a política da elite passou por mudanças. Especificamente, se adotaram algumas regras gerais (por exemplo: que não se apelaria à opinião pública, quando se tratasse de decidir disputas dentro das próprias elites). Para fazer funcionar essas regras, foi necessário encontrar um árbitro que não apenas resolvesse os problemas entre diferentes grupos das elites, mas que também explicasse como os ativos dessas elites deviam ser administrados a favor do interesse coletivo das mesmas elites; e que impedisse que fossem administrados contra aquele interesse.

Demorou um pouco, até encontrarem esse árbitro, mas o tempo foi ativamente usado. Foi iniciado o processo de introduzir as forças de segurança dentro da elite. Com isso, não apenas se estabilizou a estrutura da elite, mas as forças de segurança "silovki" também se tornaram uma ferramenta que permitiu rastrear e implementar a arbitragem. Por fim, o árbitro foi selecionado; seria o mesmo que já resolvera problemas similares na capital do crime na Rússia dos anos '90s: a cidade de São Petersburgo.

A cidade de São Petersburgo não assumiu apenas as rédeas do poder. Também implantou firmemente o conceito do lugar da Rússia no mundo, a partir do qual aquele próprio árbitro fora criado. 

É um conceito que se localiza, na história, perto do final dos anos 50s, se não um pouco antes; provavelmente foi introduzido na liderança soviética por Otto Kuusinen e, no geral, articula a ideia da "convergência" - as elites do ocidente e da União Soviética deveriam "convergir". 

Antes de Putin chegar ao poder, a elite russa não levava em consideração o destino da Rússia - nas leituras mais caridosas, eles se viam na posição de Gauteliers para o ocidente. - O foco era roubar sempre mais; transferir os ativos roubados para o Ocidente, a fim de protegê-los; e prosseguir, repetindo o mesmo processo pelo tempo mais longo possível. A atual elite ucraniana levou esse processo ao auge. Na Rússia, Putin mudou isso.

Deve-se observar que o desaparecimento de alguns membros da elite (Berezovsky, Gusinsky e Khodorkovsky) não foi decisão pessoal de Putin: foi consenso definido dentro da própria elite. Os que se recusaram abertamente a seguir o que a elite determinava foram expulsos [da elite]. Em geral, aconteceu com quem, tendo eliminado a opressão pelo Estado, categoricamente se recusava a subordinar-se a novos códigos, mesmo que voluntários e com âmbito restrito de aplicação. Os demais membros da elite ativamente combateram essa insubordinação; e foram combatidos principalmente os que podiam contar com meios significativos de autodefesa, como a troika acima listada. E assim se fixou o consenso entre as elites.

Mais importante que isso, Putin agira para dar ao "Caso Khodorkovsky" um subtexto adicional (o affairfoi usado como ferramenta para forçar os 90 oligarcas a pagar impostos). Na Ucrânia, nada houve de semelhante ao "Caso Khodorkovsky". Nenhum dos oligarcas ucranianos jamais pagou impostos. Os resultados logo apareceram, óbvios. Mas nesse ponto temos de considerar um outro fator e fazer uma digressão.

A elite russa e os governos dos EUA

A ascensão de Putin ao poder coincidiu com a chegada ao poder nos EUA do Republicano e imperialista linha-dura Bush Jr, que assumiu dia 20/1/2001; poucos meses depois da posse dele, foi o 11/9/2001. Do ponto de vista da política interna dos EUA, esse foi o início da crise econômica nos EUA (eu mesmo disse e repeti, alertei, que o governo dos EUA não daria conta de explicar os resultados econômicos terrivelmente ruins daquele verão; que apontaria razões externas para explicar a situação). 

Bush realmente precisaria de aliados, porque abraçaria uma política (a guerra no Iraque) que não seria aprovada pela comunidade mundial.

Se Clinton considerava a elite russa sua contemporânea como selvagens ignorantes, porque não aceitavam "quinquilharias e contas de vidro" em troca de assinarem qualquer tratado ("Sakhalin-2″ é exemplo disso), Bush preparou-se para um período em que teria de garantir alguns direitos a Putin e à Rússia -, porque Bush tinha prioridades diferentes. O entendimento que Putin e Bush tinham sobre os problemas mundiais de energia eram semelhantes. Khodorkovsky e suas intrigas chinesas também irritaram Bush. E, assim sendo, Putin recebeu "carta branca" por um período, não só para dentro mas também, em termos relativos, para fora da Rússia. Mas essa atividade de política exterior seria bem limitada. Como disse certa vez a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice: "Os interesses da Rússia terminam nas fronteiras russas." 

 

 

 

18/3/2015, M.Khazin, January-March 2015, Moscou (trad. ru. ao ing. Gideon)
http://thesaker.is/a-forecast-of-the-development-of-the-main-processes-that-will-influence-the-situation-in-russia-in-2015/

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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