Vladimir Putin participou na sessão plenária do Fórum Económico Oriental

Vladimir Putin participou na sessão plenária do Fórum Económico Oriental

Foram enviados convites para o fórum a Chefes de Estado e de Governo estrangeiros, chefes de grandes empresas russas e estrangeiras, além de políticos e especialistas.

O tema do fórum é O Extremo Oriente - Horizontes de Desenvolvimento.

Ilha Russky, Território do Primorye

 

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Excertos da transcrição da sessão plenária do Fórum Económico Oriental

Presidente da Rússia, Vladimir Putin: Presidente Battulga, Primeiro Ministro Narendra Modi, Primeiro Ministro Mahathir Bin Mohamad, Primeiro Ministro Shinzo Abe,

Senhoras e Senhores, Amigos,

Antes de mais, gostaria de falar com os nossos convidados estrangeiros, dirigentes dos países representados neste Fórum e com os nossos parceiros estrangeiros na plateia. Obrigado por mostrarem tanto respeito pela Rússia e pelo vosso interesse em desenvolver relações entre os nossos países.

Espero e tenho a certeza de que o nosso trabalho durante este fórum, será muito produtivo e gratificante para todos. Sinto-me feliz por receber todos vós, no Fórum Económico do Leste.

É a quinta vez que Vladivostok, capital do Território Primorye e agora, de todo o Distrito Federal do Extremo Oriente da Rússia, reúne os Chefes dos principais Estados da Região da Ásia-Pacífico, os maiores investidores, os empresários, os representantes do público e comunidades especializadas .

Este ano, estamos a receber mais de 8.500 participantes de 65 países. Desde o primeiro fórum, a representação aumentou mais do dobro. Acreditamos que  é uma indicação convincente do  interesse crescente  pelo Extremo Oriente da Rússia e pelas oportunidades de cooperação oferecidas por esta região verdadeiramente colossal.

O poder e as vantagens competitivas do Extremo Oriente estão patenteadas nas pessoas talentosas, trabalhadoras e enérgicas, na juventude educada e ambiciosa, nos novos centros de pesquisa, no crescimento industrial e nas indústrias do futuro.

O seu poder reside nos numerosos recursos naturais, no enorme potencial logístico, como a Rota do Mar do Norte e noutras rotas  da trans-Eurásia. Por último, mas não menos importante, o seu poder traduz-se na proximidade das economias em rápido desenvolvimento e da região mais dinâmica do mundo, a Região da Ásia-Pacífico.

Não surpreende que, ao esquematizarmos uma estratégia a longo prazo, para o desenvolvimento do Extremo Oriente russo, em meados dos anos 2000, há 15 anos, optámos pela abertura máxima da região e pela sua integração inerente nos sectores económico, de transporte, espaço educacional e humanitário da APR (Asia-Pacific Region) e, num esquema mais alargado, no mundo em geral. Demos prioridade à promoção da cooperação internacional e transfronteiriça, bem como de parcerias tecnológicas e de investimento, o que implica criar novas oportunidades, principalmente para os cidadãos russos, para a sua vida e para o seu trabalho.

De facto, foi um ponto de viragem histórico e radical. Gostaria de recordar-vos que, muitos territórios do Extremo Oriente, incluindo a cidade de Vladivostok, onde estamos agora, eram usados principalmente para fins militares e tinham um estatuto de acesso restrito, no início e em meados do século XX e, mais tarde, durante a Guerra Fria.

Claro que esse estatuto teve um impacto no desenvolvimento dessas regiões. Falando correctamente, não houve, praticamente,desenvolvimento no sentido social e económico da palavra.

Insistindo neste ponto, a situação mudou radicalmente nos últimos anos e estamos orgulhosos de que o Extremo Oriente russo se tenha tornado num modelo de abertura para todo o país, num símbolo de inovação e determinação em eliminar todos os tipos de barreiras aos contactos comerciais e humanos.

Obviamente, estamos cientes de que esse resultado dificilmente seria possível se não fosse o esforço para melhorar uma atmosfera de confiança e cooperação construtiva na APR (Região da Ásia-Pacífico) como um todo. Estamos empenhados em promover estas tendências positivas a fim de tornar a região que partilhamos, segura e estável.

Obviamente, estamos cientes de que este resultado dificilmente seria possível se não fosse o esforço para melhorar uma atmosfera de confiança e cooperação construtiva na APR (Região da Ásia-Pacífico) como um todo. Estamos interessados em promover estas tendências positivas para tornar a região que compartilhamos, segura e estável.

As nossas relações com a Índia, China, República da Coreia, Malásia, Mongólia, Japão e outros países da Região da Ásia-Pacífico são baseadas em princípios de respeito e de diálogo honesto. Estou confiante de que estas relações estão a mostrar uma grande promessa, condizente com o crescente papel que a Região da Ásia-Pacífico deverá desempenhar nas próximas décadas. Penso que os nossos estimados convidados estrangeiros aqui presentes, os nossos amigos, estão de acordo com isto.

Juntamente com a abertura, outro princípio fundamental implícito nos nossos planos ambiciosos para o desenvolvimento do Extremo Oriente russo é que eles são a longo prazo e consistentes. Aumentaremos ainda mais os nossos esforços, ao concentrar recursos e ao gerir esse trabalho administrativamente, passo a passo. Quando atingirmos os nossos objectivos, estabeleceremos novas tarefas e esforçar-nos-emos por alcançar mais.

Nos últimos quinze anos, criamos com sucesso condições para o Extremo Oriente entrar no caminho de um crescimento mais rápido. E não são palavras ôcas - dar-vos-ei, agora, alguns exemplos.

Os preparativos para a reunião dos dirigentes da APEC de 2012, em Vladivostok, foram um bom começo. Investimos recursos significativos na modernização das infraestruturas locais de transporte, negócios e educação e na melhoria da capital da região como uma cidade moderna e dinâmica de desenvolvimento, uma cidade para pessoas, como um dos principais centros académicos da Região da Ásia-Pacífico.

Sabemos, com certeza que ainda há muito a ser feito, mas também muito já foi feito. E então, baseados no que já foi feito e alcançado, lançaremos projectos avultados de infraestruturas, transporte e indústria, além dos projectos de construção na região e fora dela.

Ao mesmo tempo, juntamente com as etapas para melhorar o clima de negócios em toda a Rússia, temos oferecido ferramentas de suporte completamente novas e amplamente únicas para fazer negócios no Extremo Oriente e ser competitivos globalmente.

Gostaria de informar os nossos colegas que planeiam investir no Extremo Oriente - podem beneficiar destas oportunidades, portanto, considerem-nas novamente. Não são só promessas -  é uma prática que já está em vigor e que funciona.

Assim sendo, cerca de 20 territórios de desenvolvimento social e económico prioritário foram estabelecidos em toda a região, com condições especiais para o lançamento da produção, regimes fiscais especiais e medidas de apoio estatal. Cerca de 369 empresas residentes inscreveram-se e assinaram contratos no valor de quase 2,5 triliões de rublos e anunciaram a criação de mais de 60.000 novos empregos. Essas empresas já investiram 344,8 biliões de rublos nos seus projectos e criaram quase 20.000 empregos. Isto já foi feito..

O regime de porto livre de Vladivostok foi estendido a 22 municípios. O objectivo é facilitar a integração das regiões do Extremo Oriente no espaço económico da Região da Ásia-Pacífico e promover o desenvolvimento de empresas de alta tecnologia.

Cerca de 1.404 empresas residentes optaram por aproveitar os benefícios oferecidos pelo regime de porto livre e assinaram contratos no valor de quase 700 biliões de rublos. Vão criar cerca de 68.000 empregos na área. Actualmente, 95,2 biliões foram investidos e mais de 10.000 empregos foram criados. Este é um facto consumado.

No geral, graças às medidas de apoio propostas, a partir de 2015, os investidores contribuíram com 612 biliões de rublos para a economia da região, lançaram 242 fábricas novas e criaram mais de 39.000 postos de trabalho.

Como resultado, o crescimento da produção industrial no Extremo Oriente, nos últimos cinco anos, foi de quase 23% - quase três vezes maior do que em toda a Rússia.

A Universidade Federal do Extremo Oriente está a desenvolver-se como um centro de novas competências, intercâmbio de jovens e cooperação internacional, experiências ambiciosas em educação, ciência e indústrias inovadoras na nova era tecnológica. Este centro acolhe,  tradicionalmente, as nossas reuniões.

Durante o ano académico anterior, a universidade recebeu 20.000 estudantes, incluindo 3.500 estrangeiros de 74 países. Nela ensinam mais de 200 professores estrangeiros.

Está planeado desenvolver ainda mais a infraestrutura de pesquisa local, incluindo a construção de uma instalação de mega-ciência. E podemos falar com confiança sobre o futuro da Universidade, como um dos centros de apoio do espaço educacional comum da Região da Ásia-Pacífico.

Amigos,

Nos Fóruns Económicos Orientais anteriores, concentramos a nossa atenção na importância do Extremo Oriente para a Rússia, bem como nos planos para desenvolver essa região, nas ferramentas para promover as actividades comerciais e como as empresas podem beneficiar delas. Referi, brevemente, isso agora.

No entanto, compreendemos tudo muito bem e esta questão foi levantada no almoço de trabalho que acabámos de ter com os nossos colegas, de que objectivos deste tipo nunca serão alcançados sem pessoas, sem a sua energia, talento e compromisso para alcançar resultados.

Por esse motivo, nas minhas considerações iniciais, concentrei a minha atenção no desenvolvimento socio-económico e, mais especificamente, no programa de desenvolvimento social da região.

Creio que seria interessante, não apenas para o público nacional, mas também para nossos potenciais investidores e para as empresas que já trabalham aqui, pois o que significa é que estamos empenhados em melhorar ainda mais o ambiente social e político e atrair a força de trabalho  que a região necessita para se desenvolver.

Ontem, tive uma reunião com as autoridades das regiões do Extremo Oriente da Rússia para discutir as metas para uma nova etapa no desenvolvimento do Extremo Oriente. Nesta etapa, traduziremos as conquistas económicas da região nos últimos anos, numa melhoria social, a fim de oferecer às pessoas uma melhor qualidade de vida.

O que isto significa é que, temos de promover mudanças nas áreas da saúde, da educação, da infraestrutura urbana e rural, que serão sentidas por milhões de pessoas. É importante ressaltar que as pessoas devem sentir essas mudanças o mais rápido possível, e não num futuro distante ou só daqui a muitos anos.

Neste contexto, deixem-me salientar que o fluxo migratório do Extremo Oriente da Rússia reduziu para metade em relação a 2005. Precisamos reverter essa tendência de uma vez por todas: em vez de deixar o Extremo Oriente, as pessoas devem vir para aqui, trazendo a sua energia, a sua força e a sua iniciativa.

Discutimos este assunto durante o almoço de trabalho que acabamos de fazer e os nossos colegas fizeram-me esta pergunta. Quantas pessoas chegam para se fixar e quantas estão a sair desta região? É uma questão importante em termos das implicações morais e éticas, bem como económicas, entre outras.

Os profissionais qualificados devem considerar esta região atractiva e, é claro, também os jovens, pois são o nosso futuro, como todos sabemos.

Além do mais, o Extremo Oriente da Rússia é uma região muito jovem. Tem um enorme potencial demográfico que precisa ser preservado e aumentado. Aqui, a taxa agregada de nascimentos é superior à média nacional.

Cerca de 1,5 milhões dos 8,2 milhões de residentes do distrito federal são estudantes de escolas, faculdades e universidades. Venceram em competições desportivas, nas olimpíadas e concursos académicos internacionais e nacionais.

Por exemplo, Kazan organizou recentemente uma Competição WorldSkills, onde Andrei Meshkov, um formando do 9ºano de Ulan-Ude, ganhou uma medalha de ouro no WorldSkills Russia Juniors na esfera da tecnologia da informação. Dou-lhe os parabéns, mais uma vez,  pela sua vitória. (Aplausos) Em resumo, como já disse antes, pessoas inteligentes, criativas e enérgicas que podem alcançar os objectivos mais ambiciosos vivem aqui.

Portanto, a primeira prioridade da nova etapa no desenvolvimento do Extremo Oriente russo é apoiar os jovens. Devemos fazer o nosso melhor para oferecer as mais amplas oportunidades possíveis, para que possam receber educação, realizar o seu potencial na vida e na profissão, criar famílias e ter filhos e contribuir para o progresso da sua região natal, o Extremo Oriente Russo.

Acima de tudo, devemos aumentar drasticamente a construção de moradias modernas, que devem ter preços o mais acessível que for possível. Neste contexto, como já disse, discutimos este problema com os nossos colegas, as autoridades das regiões.

Concordo que deve ser lançado na região, um programa especial de hipoteca para que os jovens possam contrair empréstimos  para comprar apartamentos ou casas no Extremo Oriente, a uma taxa anual de 2%.

Recentemente, aprovamos uma taxa de hipoteca preferencial para a região de 5%, que está abaixo da média do país. Mas, ontem,  os nossos colegas convenceram-me de que não é o bastante. Gostaria de alertar as autoridades das outras regiões de que não podemos fazê-lo em todos os lugares. Perderia todo o sentido, porque a ideia é atrair profissionais e pessoal qualificado para o Extremo Oriente.

Sugiro que lancemos este programa este ano, com uma duração de cinco anos. Dir-vos-ei porquê. Primeiro, precisaremos considerar cuidadosamente a quantidade e as fontes de financiamento para o futuro, porque é um assunto a longo prazo.

Devemos aplicá-lo ao chamado mercado primário, ou seja, o mercado de novos edifícios residenciais, bem como à construção de casas particulares para aqueles que participam no programa do Extremo Oriente.

Sugiro que usemos fundos do programa nacional para o desenvolvimento do Extremo Oriente da Rússia e do Fundo de Desenvolvimento do Extremo Oriente.

O sistema de saúde deve ser moderno e acessível. Em primeiro lugar, diz respeito aos cuidados de saúde primária, mais próxima das pessoas, melhorando os equipamentos e digitalizando serviços ambulatórios, hospitais e centros de saúde rurais, maternidades e centros peri-natais e o desenvolvimento de aviões ambulâncias. Este conceito é especialmente importante para as extensões, vastas e ilimitadas, do Extremo Oriente russo.

Esse trabalho já está a ser efectuado na Rússia, mas aqui, no Extremo Oriente, precisamos criar um sistema verdadeiramente eficaz de assistência médica que atenda e talvez até supere, os melhores padrões e práticas.

Compreendo que não pode ser feito da noite para o dia. Mas precisamos começar a trabalhar hoje, para começar com projectos-piloto inovadores. De facto, é possível criar um aglomerado médico no Distrito Federal do Extremo Oriente com um procedimento de regulamentação especial, que permitiria abrir subdivisões e filiais de clínicas estrangeiras sem formalidades excessivas, atrair os melhores especialistas estrangeiros e usar produtos e métodos farmacêuticos que já provaram a sua eficiência no estrangeiro.

É claro que esse aglomerado médico deve funcionar dentro da jurisdição russa e todos os detalhes devem ser cuidadosamente elaborados pelas agências governamentais envolvidas e, acima de tudo, pelo Ministério da Saúde.

Disse mais de uma vez que, para o Extremo Oriente, devemos propor políticas especiais, mecanismos avançados e ferramentas flexíveis que tenham em conta as especificidades desse vasto território e as necessidades das pessoas que moram aqui.

Aventuramo-nos nessas experiências e inovações económicas e novas maneiras de atrair investimentos e, como disse no início, obtivemos um resultado muito positivo. A mesma abordagem deve ser usada no desenvolvimento dos serviços sociais e públicos.

Peço a todas as agências federais, a todos os nossos colegas que estão envolvidos no desenvolvimento da região que estejam orientados, exactamente, por esta lógica, pelos interesses do Extremo Oriente, o que significa, essencialmente, pelos interesses da Rússia.

Criar um novo complexo cultural, educacional e museológico aqui, em Vladivostok, no Extremo Oriente da Rússia,  será um passo importante para consolidar o espaço educacional e cultural nacional.

Ao mesmo tempo, a rede de museus, bibliotecas, teatros, instituições culturais, extra curriculares e profissionais precisa de actualizações significativas no Extremo Oriente da Rússia. É necessário dar-lhes uma nova vida, transformando-os em centros interessantes e actualizados, capazes de atrair pessoas de todas as idades, incluindo crianças e adolescentes.

Acabamos de discutir este assunto, e penso que é a terceira vez que menciono a nossa reunião preliminar: O Primeiro Ministro Shinzo Abe, disse que esta região tem muito encanto e grande potencial turístico.

Certamente, a criação de um grande centro cultural e educacional nacional desse tipo que incluiria filiais dos principais museus da Rússia, como a Galeria Tretyakov, o Museu Hermitage, o Museu Russo e o Teatro Mariinsky, certamente tornará Vladivostok muito mais atraente para os turistas.

É muito importante o desenvolvimento de ofertas culturais nas áreas rurais e nas cidades. Neste contexto, deixem-me partilhar algumas números convosco. Das 1.834 comunidades no Extremo Oriente da Rússia, 1.614 têm uma população de menos de 5.000 pessoas cada, enquanto as cidades e pequenas vilas podem estar separadas por centenas de quilómetros. Precisamos ter a certeza que esta situação seja levada em consideração. Esta questão também estava na agenda da reunião de ontem com os governadores.

Entre outras coisas, precisamos de adaptar os programas nacionais de Médico Rural e de Professor Rural ao Extremo Oriente da Rússia. Eles podem incluir a oferta de maiores benefícios aos médicos, aos paramédicos e aos professores dispostos a mudar-se para pequenas comunidades no Extremo Oriente. Proponho duplicar estas verbas destinadas ao Extremo Oriente em comparação com as taxas nacionais existentes.

Escusado será dizer que precisamos ver longe. O futuro está nas mãos dos jovens e dos estudantes de hoje que amam a sua região e querem morar e trabalhar aqui. Temos de oferecer-lhes uma oportunidade de obter educação de qualidade, independentemente do rendimento ou da situação financeira das suas famílias.

Creio que precisamos oferecer subsídios estatais mais direccionados às universidades do Extremo Oriente em áreas onde os profissionais são escassos, para que os jovens tenham as suas propinas cobertas pelo governo ou pelos seus potenciais empregadores. Dessa forma, os alunos terão certeza de que conseguirão um emprego, o que resolverá problemas relacionados com o emprego.

É claro que os jovens e as pessoas de todas as idades devem ter a possibilidade de beneficiar da educação online, bem como da tele-medicina, de recursos de informação e de serviços electrónicos, além de ter acesso a plataformas e serviços digitais que abrem novos horizontes em termos de iniciar e  gerir negócios.

Gostaria de recordar-vos que mais da metade de todos os utilizadores da Internet no planeta, vive na região da Ásia-Pacífico. O Extremo Oriente da Rússia precisa acompanhar a infraestrutura e os padrões digitais globais nesta esfera, incluindo taxas de penetração de alta velocidade na Internet.

Peço ao governo que tenha em consideração este assunto, ao trabalhar no programa nacional de Economia Digital da Rússia. Permitam-me reiterar que precisamos criar um ambiente digital apropriado em termos dos desafios que enfrentamos actualmente e da rápida mudança tecnológica em todo o mundo.

Neste contexto, o nosso segundo objectivo mais importante para o Extremo Oriente da Rússia, é torná-lo um dos principais centros mundiais de alta tecnologia, competências e novas indústrias, um centro de ocupações/empregos mais avançados e de qualidade, para profissionais altamente qualificados.

Estas medidas devem beneficiar, principalmente, as pessoas que vivem no Extremo Oriente, ou seja, os cidadãos russos que moram aqui, nesta região. Esta é a nossa posição de princípio.

O potencial está aí. É aqui, na Ilha Russky, que está a ser criado um novo aglomerado de inovação. Um agrupamento de indústria espacial está a surgir em torno do Centro de Lançamento Espacial Vostochny. O fabrico de aviões, o processamento de gás natural e a indústria química estão a desenvolver-se activamente nesta região. A construção do estaleiro Zvezda está a prosseguir.

É óbvio que planeamos concentrar a nossa atenção para aumentar o volume dos produtos de valor acrescentado. É uma posição de princípio para a qual  gostaria de chamar a atenção dos investidores russos e internacionais, dos residentes de áreas prioritárias de desenvolvimento e do Porto Livre de Vladivostok.

Por exemplo, aumentaremos os direitos de exportação de madeira triturada, mas, ao mesmo tempo, estamos prontos para prestar assistência àqueles que desejam investir no processamento de madeira e criar as condições mais favoráveis para a exportação de produtos acabados, inclusive para os países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos.

A mesma lógica - preferências e apoio para aqueles que produzem produtos de valor acrescentado - também será aplicada noutras esferas, incluindo os recursos marinhos e as matérias-primas.

A conservação e o uso racional de nosso potencial de madeira são um assunto importante. Planeamos discuti-lo a nível nacional, numa reunião do Conselho de Estado.

Reconhecemos que a criação de um poderoso centro industrial e de pesquisa na região é um projecto trabalhoso. Ao mesmo tempo, vemos que também é uma grande janela de oportunidade. Neste contexto, devemos estabelecer grandes exigências em relação à eficácia das medidas e decisões que propomos.

Isto diz respeito principalmente à economia do futuro e à assistência às equipas jovens que estão a concretizar ideias e soluções inovadoras. As pequenas empresas lideradas por jovens, são a força motriz mais poderosa do progresso tecnológico em todo o mundo.

Precisamos mais do que apenas uma estrutura legal para garantir, não só a proliferação de start-ups/pequenas empresas, mas também o seu desenvolvimento em empresas de médio e grande porte. Obviamente, precisamos de regulamentos, mas também devemos criar instrumentos financeiros eficientes.

Neste sentido, sugiro que seja estabelecido no Extremo Oriente um fundo de risco especial. Ontem, discutimos esta ideia; dou-lhe o meu apoio. Peço ao governo que formule propostas práticas a este respeito, principalmente, porque as fontes de financiamento estão disponíveis.

Finalmente, o nosso terceiro objectivo estratégico também é bastante ousado. Está em sintonia com a agenda ambiental global, com os desafios que enfrentam não apenas a Rússia, bem como  todo o planeta.

Refiro-me ao desenvolvimento do Extremo Oriente da Rússia como um centro global da natureza e de turismo, um campo de testes internacional para descobrir maneiras de resolver uma questão que é importante para todos nós: como assegurar a harmonia entre a actividade económica e o turismo verde, entre tornar a natureza acessível ao público e preservar ecossistemas únicos.

A maravilhosa beleza natural do Extremo Oriente da Rússia já atrai centenas de milhares de turistas. Em 2016, 5,2 milhões de pessoas visitaram a região, incluindo 750.000 estrangeiros. No ano passado, o total de visitas aumentou para 7 milhões, incluindo cerca de um milhão de estrangeiros.

As belezas naturais do Extremo Oriente da Rússia incluem o Lago Baikal, a Reserva Kronotsky em Kamchatka, o Parque Nacional Alkhanai no Território Trans-Baikal e outros lugares. Existem alguns deles nesta região.

Há um total de 64 territórios naturais que beneficiam do estatuto de protecção federal. Permitam-me observar que já emiti uma instrução para investigar e registar os limites de todas as reservas, parques nacionais e outras áreas protegidas. Peço que esses esforços sejam acelerados, principalmente no Extremo Oriente.

Ao mesmo tempo, precisamos ser mais activos no lançamento de parcerias público-privadas no turismo. Precisamos convidar investidores responsáveis e oferecer-lhes incentivos especiais, sujeitos a rigorosa observação dos padrões e regras do turismo sustentável.

Obviamente, precisamos de serviços avançados de informações que ofereçam às pessoas acesso conveniente a qualquer informação que possam precisar: quando e para onde viajar, que rota turística escolher. Os estrangeiros devem poder solicitar vistos, utilizando este serviço.

Aliás, foi aqui em Vladivostok que os vistos electrónicos foram introduzidos pela primeira vez, simplificando substancialmente as formalidades pelas quais os turistas e os empresários estrangeiros precisam passar. Mais de 140.000 vistos deste tipo foram emitidos nos últimos dois anos.

Todos os objectivos de desenvolvimento que estamos a discutir, bem como, sobretudo, os novos padrões de vida modernos, que exigem um nível de mobilidade fundamentalmente novo. Para o Extremo Oriente, isto implica, acima de tudo, uma rede desenvolvida de transporte aéreo e de compra de bilhetes de avião, que seja acessível na região, bem como na Sibéria, na Rússia central e no estrangeiro.

Até 2024, modernizaremos 40 aeroportos no Extremo Oriente. Empregaremos as capacidades das fábricas de aviões do Extremo Oriente em Ulan-Ude, Komsomolsk-on-Amur e Arsenyev para expandir a rede de voos domésticos e renovar o conjunto de aviões e helicópteros regionais e locais.

Gostaria de acrescentar que a segurança e o conforto são os requisitos mais importantes quando se trata de transportadoras aéreas em todo o mundo.  Para as companhias aéreas que operam no Extremo Oriente, os bilhetes acessíveis devem ser mais uma prioridade

Creio que seria lógico que as companhias aéreas que desejarem aumentar as suas operações no Extremo Oriente e seguirem uma política de preços responsável e razoável, tivessem o direito preferencial de efectuar voos noutras regiões mais lucrativas.

Debatemos, ontem, este assunto com o Ministro dos Transportes. Espero que ele me esteja a ouvir, hoje. Em geral, este sistema já está a ser aplicado, mas precisamos reforçá-lo. Considero que este método não é comercialmente eficaz, mas justificado nesta região. No entanto, devemos discutir formas de formalizá-lo.

Amigos,

Temos objectivos de desenvolvimento muito ambiciosos no Extremo Oriente, e a realização progressiva desses objectivos envolve parcerias e a união de esforços.

Estamos prontos para esta cooperação e estamos abertos a todos os interessados nela. Acreditamos no futuro da nossa cooperação e no futuro do Extremo Oriente russo.

Para sermos bem sucedidos nesta região, assim como em todo o nosso enorme país, na totalidade, precisamos de uma sociedade consolidada, da contribuição e do envolvimento de todos que estejam dispostos a contribuir com as suas capacidades, com a sua energia e com o seu conhecimento para o objectivo comum. Esta é a nossa maneira de pensar e significa que todos os nossos planos e os nossos sonhos mais ousados se tornarão realidade.

Gostaria de desejar a todos os convidados e participantes do fórum que sejam bem-sucedidos e tudo de bom.

 

Obrigado.

 

 

Moderador da sessão plenária, Sergei Brilyov: Senhor Presidente, gostaria de especificar um ponto. Numa frase do seu discurso, mencionou entidades de desenvolvimento como o Centro de Lançamento Espacial Vostochny, a fábrica de Komsomolsk-on-Amur (embora formalmente antiga, agora fabrica o avião mais sofisticado), o estaleiro Zvezda e áreas de desenvolvimento prioritário (PDAs). Espera que haja investimentos estrangeiros em instalações como Zvezda, o centro espacial e a fábrica de aviões?

Vladimir Putin: Claro que sim.

Já houve esse investimento na fábrica de aviões. Conhecemos os nossos caças Sukhoi Su-30, Su-34 ++, Su-35 e agora caças da quinta geração Su-57, e o mundo inteiro também os conhece. Fabricamos em conjunto aviões comerciais Sukhoi Superjet com parceiros italianos e franceses. Estamos a trabalhar aí e estamos abertos a esta cooperação. Embora não tenhamos nada a esconder, ainda há uma coisa.

Sergei Brilyov: É, precisamente, o que quero dizer.

Vladimir Putin: Escondemos com segurança, o que ainda devemos manter em segredo. Ao mesmo tempo, há todas as oportunidades para acordos de co-produção modernos e económicos.

O centro de lançamento espacial não é um centro militar de lançamento espacial. Agora estamos a decidir quem deve construir os próximos estágios. Para ser sincero, este centro de lançamento espacial deve lidar principalmente com lançamentos civis. Portanto, não acreditamos apenas que podemos trabalhar lá em conjunto com parceiros estrangeiros, mas estamos interessados nisso e, claro que  os envolveremos nessa cooperação.

A Rússia e Índia concretizam projectos conjuntos de exploração espacial; trabalhamos activamente nesses programas com a República Popular da China; em princípio, mantemos uma boa cooperação com a Agência Espacial Europeia, e esperamos que esse processo continue a desenvolver-se e também cooperamos com os Estados Unidos. As múltiplas naves espaciais que lançamos no interesse dos nossos parceiros estrangeiros, incluindo os Estados Unidos. Existem planos para lançar muitas delas no Centro de Lançamento Espacial Vostochny. Portanto, não vejo nenhuma direcção única que possa estar fora dos limites dos nossos parceiros estrangeiros. Pelo contrário, estamos interessados em atraí-los; o mesmo também diz respeito à instalação da Zvezda, que mencionou.

Só ontem é que o Primeiro Ministro Modi e eu visitamos Zvezda. A instalação construirá navios  modernos de grande capacidade para operações na plataforma continental, na zona do Ártico e para o transporte de gás natural liquefeito, produtos petrolíferos e outras remessas. O Primeiro Ministro e eu tivemos um debate ontem e procuraremos oportunidades para um trabalho conjunto. Muito possivelmente, os navios individuais serão parcialmente construídos na Rússia. Tais acordos internacionais de produção conjunta estão a desenvolver-se em todo o mundo. A Rússia construirá partes das embarcações e os estaleiros indianos completá-las-ão.

A nossa famosa empresa líder Rosneft, proprietária de uma grande refinaria na Índia, comprou recentemente uma participação de controlo nela. E a sua área de responsabilidade inclui um grande porto indiano. Portanto, temos muitas áreas de cooperação interdependentes. Não há assuntos fechados; pelo contrário, estamos interessados em atrair os nossos parceiros.

 

Vladimir Putin: (respondendo a uma pergunta sobre as Ilhas Kuril): Quando há vários anos estive no Japão, falei em público sobre a História desses territórios. Houve uma época em que a Rússia tinha motivos legais para considerar as ilhas como suas e entregou-as voluntariamente ao Japão, por decisão do imperador russo, como símbolo de amizade. Em seguida, seguiram-se os trágicos eventos de 1905, a guerra russo-japonesa e a situação em Sakhalin. E depois a Segunda Guerra Mundial. É uma história complicada com várias partes.

Mas há também o factor humanitário. Não posso deixar de concordar com Shinzo [Abe] que, até que esses problemas estejam resolvidos, devemos fazer todo o possível para que aqueles que, de alguma forma, tenham ligações com esses territórios, não se sintam vítimas das ocorrências geopolíticas passadas. Baseados nestas considerações humanitárias, não apenas fizemos concessões para essas pessoas, respondendo aos desejos do Primeiro Ministro do Japão, mas fizemo-lo de maneira exclusiva. Poucas pessoas conhecem ou compreendem a essência dessa exclusividade. Significa que não só damos aos cidadãos japoneses a oportunidade de visitar as ilhas, mas também suspendemos os requisitos de visto para essas visitas. Esta solução tem um componente político, porque as autoridades japonesas recusam-se a emitir vistos para visitar estas ilhas. Estamos cientes deste problema delicado e decidimos fazer esta concessão.

Obviamente, parece-nos estranho que o Japão negue vistos não a certos indivíduos, mas a todos os que vivem na Crimeia. Onde fica o Japão e onde fica a Crimeia?

Aceitamos com entendimento a frase - que se deve confiar no Japão - e nós acreditamos nela. Este pedido é realmente  muito gentil e positivo. Mas temos muitas perguntas sobre o tratado de paz e, infelizmente, elas dizem respeito mais do que só às nossas relações bilaterais. Também existem questões militares, de defesa e de segurança quando precisamos respeitar as posições de outros países, bem como as obrigações do Japão para com outros países, incluindo os Estados Unidos. Esse país não possui só palavras gentis, mas também um ditado que remonta às décadas de 1920 ou 1930: 'Pode-se conseguir mais com uma palavra gentil e uma arma na mão do que com uma palavra gentil sozinha'. Compreendemos esse ditado, conhecemo-lo e devemos tê-lo em conta.

É que, ao responder à sua pergunta, quero dizer que parece um problema simples, mas é um problema que herdamos do passado. No entanto, nós - Shinzo e eu - queremos, realmente, resolvê-lo. Não importa o quão difícil possa ser, prosseguiremos a partir da Declaração de 1956, como disse o Primeiro Ministro, para uma solução abrangente de todos os nossos problemas, e trabalharemos em direcção a um tratado de paz.

 

Sergei Brilyov: Não posso deixar de salientar que os investidores ucranianos estão hoje aqui connosco. O Sr. Medvedchuk é um investidor. Senhor Presidente, quando será o intercâmbio [dos prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia]?

Vladimir Putin:  Penso que o Sr. Medvedchuk  me vai atormentar com esse assunto agora. Sei que ele está particularmente preocupado com várias pessoas que estão na prisão, na Federação Russa. Na verdade, tivemos que tomar decisões muito difíceis em relação a pessoas específicas, a essas pessoas específicas. Mas, por razões humanitárias, chegamos à fase final das negociações em andamento, inclusive com as autoridades oficiais. Então, penso que os resultados serão anunciados num futuro próximo. [Nota - a troca de prisioneiros foi efectuada no dia 7 de Setembro de 2019 https://nowarnonato.blogspot.com/2019/09/historical-humanitarian-action-prisoner.html]

Sergei Brilyov: As perspectivas de trocas e negociações futuras com a Ucrânia são uma espécie de bússola, se assim posso dizer, nas relações com esses países, por exemplo, os países do G7. Senhor Presidente, o que acontecerá depois da troca? O que acontecerá a seguir na pista ucraniana, entre a Rússia e a Ucrânia?

Vladimir Putin: Penso que, sob uma perspectiva histórica - acredito que acontecerá inevitavelmente - as relações bilaterais voltarão ao normal, porque somos duas partes do mesmo povo eslavo. Mencionei esse facto muitas vezes. Quanto ao futuro próximo, dependerá em grande parte, da liderança ucraniana actual.

Sergei Brilyov: Podemos esperar algo até ao final desta semana, ou seria melhor não mencionar datas?

Vladimir Putin: Já disse que estamos a finalizar as negociações sobre as trocas. Penso que estamos a falar de uma troca avultada e de alto perfil. E poderia ser um bom passo em direcção à normalização.

 

Sergei Brilyov: Se o convidarem, vai, Snr. Presidente?

Vladimir Putin: Aonde?

Sergei Brilyov: Ao G8. A próxima reunião é nos Estados Unidos, tanto quanto sei. Trump estará no meio de uma campanha de reeleição.

Vladimir Putin: A certa altura, a reunião do G8 deveria ter sido realizada na Rússia.

Sergei Brilyov: Em Sochi, sim.

Vladimir Putin: Estamos abertos. Se os nossos parceiros quiserem visitar-nos, teremos o maior prazer em vê-los. (Aplausos.) Não fomos nós que adiamos; foram os nossos parceiros. Se eles querem restaurar o G8, deixem que eles o façam. Mas penso que hoje todos compreendem, e o Presidente Macron disse, publicamente, há pouco tempo, que a hegemonia ocidental está a acabar. Não consigo imaginar nenhuma organização internacional eficaz sem a Índia ou a China. (Aplausos.)

Qualquer formato pode ser benéfico, porque envolve sempre uma troca positiva de opinião, mesmo quando as conversações são tensas; pelo que percebi, foi o que aconteceu no G7 desta vez, mas ainda assim foi útil. Portanto, não rejeitamos nenhum formato de cooperação.

Sergei Brilyov:  Senhor Presidente, recentemente houve contatos com Trump e agora ouvimos novamente essa ideia sobre o G8. Por onde devemos começar? Há um amontoado de todo tipo de coisas que se acumularam nas nossas relações nos últimos anos.

Examinei as estatísticas. No ano passado, 40 cidadãos russos, apenas indivíduos particulares, foram presos a pedido dos Estados Unidos em países terceiros. Só no último ano! Janeiro de 2019: cidadão Makarenko. Não sei quais são as acusações contra ele. Mas o próprio facto ... Acabei de ver: Korshunov [detido] em Nápoles, ele poderia ser da United Engine Corporation.

Será fácil ignorar estes casos? Em geral, como podemos retomar o diálogo neste contexto?

Vladimir Putin:  É uma péssima prática que complica as nossas relações interestatais. Não estou a gracejar ou a ser irónico. Frequentemente, não vemos motivos para acções hostis desse tipo. Além do mais, tenho todos os motivos para pensar que, ocasionalmente, isto está ligado à rivalidade. Provavelmente existem alguns aspectos criminais, mas são nossas agências da Polícia que devem cooperar nesses casos. Deveríamos assinar instrumentos e acordos interestatais relevantes, sobre como agir nesses casos. Aliás, alguns desses instrumentos já existem.

Sergei Brilyov: Penso que temos um acordo de 1999 sobre assstência jurídica, não temos?

Vladimir Putin:  Existem alguns instrumentos, mas, de facto, eles não funcionam. Podem ser reactivados.

Mas, em parte, está ligado à rivalidade, por exemplo, na esfera de construção de aviões. Já disse que estávamos prestes a lançar um avião muito bom, um avião comercial de médio curso muito bom e competitivo, o MS-21. É claramente um rival do Boeing 737. Mas eles aumentaram e referiram os componentes das suas asas na lista de sanções. Isto não tem nada a ver com defesa. Completamente nada!

Fabricá-las-emos na Rússia. Só que a cooperação seria mais objectiva e estávamos prontos a comprar materiais americanos relevantes, assim como eles compram grande parte de nosso titânio e usam o nosso titânio para fabricar os seus Boeings. Fá-lo-emos de qualquer maneira. Levará tempo: pensamos que seriam cerca de dois anos, mas provavelmente será necessário um prazo mais curto - dezoito meses. Este avião já está a voar. E vamos desenvolver esses materiais. E, em alguns aspectos, talvez seja bom, porque teremos materiais próprios e não dependeremos de ninguém nesse sentido.

Agora, vamos falar sobre a pessoa concreta que mencionou, que fabrica motores e tem um emprego na Engine Corporation. Como devemos reagir às acusações e sugestões de que ele estava a roubar certos segredos? Ouvimos as mesmas acusações contra a República Popular da China. Não sabemos o que está a acontecer lá. Penso que também é, sobretudo, ficção, mas neste caso em particular, temos a certeza.

Esta United Engine Corporation/Empresa Unida de Motores desenvolveu um novo motor russo. O processo levou muito tempo; este é o nosso primeiro produto de alta tecnologia nos últimos 28 anos. Foi desenvolvido pela nossa Empresa de Motores e fábricas específicas com muito boas competências, pessoal qualificado e potencial científico de classe mundial. Claro que, assinamos um contrato de consultoria com uma empresa italiana. É uma prática internacional absolutamente natural. É um compromisso comercial aberto com parceiros europeus.

Hoje, os nossos amigos americanos alegam que certos americanos se juntaram a esta empresa e roubaram algo. Se o fizeram, não precisamos de nada do que roubaram, porque fizemos tudo isso com as nossas próprias mãos e as nossas cabeças, as cabeças dos nossos especialistas. As consultas e o trabalho conjunto sobre produtos modernos de alta tecnologia são uma actividade absolutamente natural, aberta e pública.

Por esta razão é que penso que, neste caso, estamos definitivamente diante de tentativas de concorrência desleal. O que não está a melhorar as nossas relações. (Aplausos.) 

Parte 2

Sergei Brilyov:  Em 27 de Agosto, muitas agências de notícias internacionais, incluindo a France Presse, relataram as próximas entregas dos sistemas de defesa aérea dos EUA ao Japão.

Esse acontecimento pode mudar a cena dos mísseis na Ásia, dada a extinção do Tratado INF e as especificações dos lançadores instalados  na Roménia e na Polónia, sobre os quais até as pessoas comuns conhecem. Gostaria de recordar aos que se esqueceram desse facto que, apesar do Tratado Gorbachev-Reagan dizer respeito apenas à Europa, a União Soviética também destruiu essas armas na Ásia.

Senhor Presidente, tenho duas perguntas para si. Se alguém quiser oferecer os seus comentários, ficaríamos agradecidos. A primeira pergunta diz respeito à sua visão de um possível mecanismo de controlo ou redução de mísseis, na Ásia, e se precisaremos do mesmo, especialmente à luz da instalação de mísseis americanos. Segundo, como influenciará as nossas conversações com o Japão?

Vladimir PutinA nossa posição em relação à retirada dos EUA do Tratado INF é bem conhecida. Não há necessidade de repeti-la novamente. Não apreciamos essa decisão; além do mais, acreditamos que é um passo contraproducente que está a destruir o sistema internacional de controlo e segurança de armas.

Afirmamos publicamente, depois dos americanos terem testado os seus mísseis (também produziremos esses mísseis) que não instalaremos os nossos mísseis nas regiões que não possuam esses mísseis dos EUA, com base no solo.

Não estamos satisfeitos com a declaração do Chefe do Pentágono sobre os planos de instalar esses mísseis dos EUA no Japão e na Coreia do Sul. Estamos preocupados e alarmados. Na verdade, é por este motivo que debati este assunto com o Primeiro Ministro, muitas vezes, antes dos americanos fabricarem tais mísseis. Se eles forem instalados no Japão ou na Coreia do Sul, sabemos que será feito sob o pretexto de neutralizar as ameaças vindas da Coreia do Norte. No entanto, também criará problemas consideráveis para nós, porque esses mísseis provavelmente serão capazes de cobrir grande parte do território da Rússia, em particular, o Extremo Oriente russo.

Gostaria de recordar-vos que temos duas grandes bases navais de navios de superfície aqui, em Vladivostok, bem como uma base de submarinos nucleares estratégicos, em Kamchatka. É um assunto muito sério. E claro que não podemos fechar os olhos. Este assunto também fará parte das nossas conversações com o Japão e com a Coreia do Sul. Ainda não sabemos como os nossos parceiros japoneses e sul-coreanos reagirão. Não discutimos hoje este assunto com o Sr. Primeiro Ministro.

A propósito, salientamos mais de uma vez, que os lançadores MK 41 podem ser usados não só para lançar anti-mísseis de defesa aérea, mas também para disparar mísseis de ataque. Os americanos continuaram a dizer que não é assim. E agora  lançaram o novo míssil do MK 41 VLS. Por outras palavras, esses lançadores fazem parte de sistemas de mísseis de ataque e estávamos certos, como em muitos outros casos também. O que significa que eles estavam a tentar enganar-nos. Não temos ilusões a este respeito, mas teremos de responder adequadamente a esta situação.

 

Sergei Brilyov:  Senhor Presidente, alguns jovens foram para as ruas nos últimos sábados. São os seus jovens?

Vladimir Putin: Creio que todos nós e em especial os jovens, devem gastar a sua energia em processos construtivos.

Quando as pessoas exprimem as suas opiniões, também durante os protestos - e já observei esse facto - creio que têm o direito de fazê-lo. Às vezes gera resultados positivos, porque as pessoas discutem com as autoridades e conduzem-nas na direcção certa, para que abordem os problemas das pessoas com mais eficiência. Mas devem agir de forma positiva e devem ser guiadas pelos interesses do país e do povo, e não pelos seus próprios interesses mercenários e de grupo, e agir de acordo com os regulamentos e leis estabelecidos. Sempre adoptei esse ponto de vista e continuo a exprimi-lo, e as situações e os acontecimentos no mundo e nos países vizinhos, mostram que essa abordagem está correcta.

Quanto a "a favor" ou "contra si", estou convencido de que são pessoas e, é claro, existem muitos tipos diversos de pessoas, mas principalmente, pessoas de mente positiva que desejam que o país se desenvolva e contribuam para o seu desenvolvimento. A única coisa é que eles precisam encontrar o seu lugar na vida. E as autoridades precisam fazer todo o possível para que eles encontrem o seu lugar na vida e sejam capazes de aplicar os seus conhecimentos e talentos para o desenvolvimento construtivo do país.

Os jovens são sempre impulsivos e activos, o que é bom. Repito: tudo isto deve estar em conformidade com a legislação vigente. Mas estou confiante de que muitas dessas pessoas envolvidas em actividades políticas serão muito requisitadas, no futuro, em termos de carreira profissional e, igualmente, de carreira política.

Sergei Brilyov: Senhor Presidente, recordo-me da experiência da minha geração. Tenho 47 anos e fui aluno do ensino médio no final dos anos 80. No início dos anos 90, os meus amigos e eu começamos a participar em comícios. Lembro-me claramente de uma grande manifestação contra o Artigo 6 da Constituição Soviética em Moscovo. Todos nós, estudantes da época, participamos. Esse artigo implicava que o Partido Comunista da União Soviética era o núcleo do sistema político do país.

Tinhamos precisamente essas considerações em mente, quando participávamos na manifestação. Quando chegamos ao Boulevard Zubovsky, onde ocorreu o comício, vimos centenas de milhares de pessoas ou quase um milhão de pessoas lá. De repente, alguém gritou da tribuna: "O Politburo deve renunciar! Os que são a favor levantem as mãos. "Pareceu indelicado não levantar a mão, e todos começaram a fazê-lo, embora, inicialmente, a manifestação tivesse um propósito diferente.

Em alguns casos, é muito fácil enganar os jovens. Não será, talvez, melhor tratá-los com mais gentileza em algumas situações?

Vladimir PutinDevemos tratar a todos da mesma maneira, de acordo com a lei.

Sergei Brilyov:  Quanto a questões de segurança, ainda temos algumas coisas a debater, e o mesmo aplica-se a questões políticas. Ao olhar para a plateia, há alguns momentos, notei mais uma vez o Sr. Medvedchuk, o que me recordou a declaração do Presidente Zelensky de que o partido Para a Vida beneficia de financiamento estrangeiro. Senhor Presidente, conhece esta declaração? O que pensa dela?

Vladimir Putin Não, não vi essa afimação. Mas se, realmente, foi feita, significa que as autoridades actuais de Kiev estão a correr o risco de cair na mesma armadilha que a liderança ucraniana anterior, como foi o caso do Presidente anterior, quero dizer, do antigo Presidente, o Sr. Poroshenko. Portanto, se as autoridades actuais forem atrás da oposição, nada de bom resultará. Tanto quanto compreendo, esta é a oposição parlamentar que tem a confiança de um número considerável de eleitores que manifestaram o seu apoio durante uma eleição democrática. Por esse motivo, seria estranho ver qualquer expressão de força. Essas pessoas não estão a invadir praças ou a exigir o impossível. Trabalham dentro da estrutura da Constituição ucraniana e das leis aplicáveis. Em minha opinião, qualquer tentativa de impedi-las de usufruir os seus direitos constitucionais seria um erro grave.

 

Sergei Brilyov: Senhor Presidente, o que se passa sobre a presença das forças armadas e da marinha russas nesta região [o Estreito de Ormuz]? Foi considerável, na era soviética.

Vladimir Putin: Poderíamos facilmente fazê-lo, considerando o progresso no desenvolvimento das Forças Armadas e da Marinha da Rússia. A questão é se iniciativas desse tipo são eficientes, se facilitam o estabelecimento e se melhoram a segurança na região, inclusive no Estreito de Ormuz.

Há alguns anos, a Rússia apresentou uma iniciativa para estabelecer um mecanismo internacional com o envolvimento de quase todos os países interessados da região, bem como daqueles que estão interessados no funcionamento normal dessas rotas, que incluiriam a Rússia, os países asiáticos e os Estados Unidos. No futuro, poderíamos até estabelecer uma organização internacional especializada para lidar com assuntos desse tipo. Acualmente, estamos a debater essa proposta com os nossos colegas, inclusive com os nossos parceiros chineses e outros. Vamos esperar e ver aonde isso nos leva. A Rússia está, indubitavelmente, interessada em promover o desanuviamento e impedir qualquer nova escalada, para que todas as partes envolvidas contribuam para acalmar essa situação e resolver os problemas, inclusive os relacionados ao programa nuclear iraniano, de acordo com os instrumentos internacionais existentes, aprovados pelas resoluções correspondentes das Nações Unidas.

Sergei Brilyov: Eis a minha última pergunta sobre segurança. Curiosamente, ocorreu uma mudança notável em que a NATO tem agora três potências nucleares - Estados Unidos, Grã-Bretanha e França - enquanto a Organização da Cooperação de Shangai já possui quatro - Rússia, China, Índia e Paquistão. Obviamente, muito depende dos acordos Rússia-EUA, inclusive na esfera da estabilidade estratégica. O que pensa, Senhor Presidente? No seu Discurso perante a Assembléia Federal de 2017, foram apresentados novos tipos de armas de alta tecnologia, em particular, supersónicas.

Vladimir PutinHipersónicas.

Sergei Brilyov:  Podem fazer parte de um acordo mais alargado com os americanos?

Vladimir Putin:  Sim, funcionam de acordo com a ideia inicial  que as ferramentas existentes e, de facto, só uma delas - START-3 que foi concluída entre a Rússia e os Estados Unidos - ainda está em vigor ... Os Estados Unidos apresentaram uma nova ideia em que desejam envolver a China nesse trabalho conjunto, mas os chineses responderam razoavelmente que o potencial nuclear chinês é muito menor que o da Rússia ou dos Estados Unidos, e não sabem ao certo o que exactamente devem reduzir uma vez que têm menos transportadores e menos ogivas. O raciocínio deles faz sentido.

Mas não vamos esquecer que os Estados Unidos nem sequer aderiram ao tratado de proibição de testes nucleares.

Sergei Brilyov: Não está ratificado.

Vladimir Putin:  Não ratificado quer dizer não aderido.

Fala-se em instalar armas no Espaço. São desafios muito sérios que a Humanidade tem de enfrentar. Imagine, haverá algum tipo de arma, talvez nuclear, pairando o tempo todo  numa órbita geoestacionária sobre a cabeça de cada um de nós, significando também sobre a cabeça de cada um deles. O tempo de voo será muito curto e o equipamento de defesa será muito complexo. De facto, isso pode mudar drasticamente a situação de segurança em todo o mundo.

Até ao momento, os nossos parceiros americanos permaneceram em silêncio em relação às nossas propostas de manter contactos na esfera do desarmamento e conter a corrida armamentista. De facto, não há nada de novo. Muito recentemente,  reunimos com os nossos parceiros americanos em Osaka e também levantamos a questão sobre como podemos incluir as nossas armas mais recentes, incluindo sistemas de mísseis de ataque hipersónico, num acordo geral. Quero dizer que nenhum outro país, incluindo os Estados Unidos, possui essas armas.

Disse a Donald: "Se quiser, podemos vendê-lo a si e, assim, equilibrar tudo de uma só vez." Verdade seja dita, eles dizem que em breve começarão a fazê-las sozinhos. Talvez façam. Mas por que motivo gastar dinheiro quando já o gastamos e podemos obter algo deles sem comprometer a nossa segurança, mas com o objectivo de criar uma situação de equilíbrio?

Podemos discutir como e o que podemos contar, tendo em mente o número de transportadores e ogivas. Esta pergunta é especial. De qualquer forma, a Rússia está pronta para esse diálogo e debate. Mas até agora não recebemos uma resposta clara dos americanos.

 

Sergei Brilyov: Senhor Presidente, veja como estamos todos de acordo, quando se trata de protecção do ambiente. Talvez este seja o assunto mais promissor do nordeste da Ásia ou da Ásia em geral.

Vladimir Putin: A ecologia está intimamente ligada à energia. É do que todos estamos a falar. A Rússia não é a menos afectada pelo aquecimento global. Já falei sobre esse facto, na cimeira do G20. Em minha opinião, de acordo com os nossos dados e o que os especialistas internacionais estão a dizer, o aquecimento global aqui ( na Rússia) está a acontecer 2,5 vezes mais rápido do que no resto do mundo. Esta situação coloca alguns problemas para nós, principalmente no norte, onde os edifícios são construídos no permafrost (subsolo permanentemente congelado dos pólos e das regiões subpolares). Nesse sentido, o que devemos fazer e como devemos fazê-lo? Esta é a pergunta que deve ser feita.

Apoiamos todos os esforços internacionais neste campo. Apoiamos os acordos de Paris e assumimos compromissos bastante sérios - para reduzir as emissões de 70% a 75% a partir do ano base de 1990. Aliás, os países da UE assumiram obrigações mais modestas desde aquele ano. Eles prometem reduzir as emissões até 60%.

Os automóveis eléctricos já foram discutidos. Pela primeira vez na História recente, as organizações internacionais viram um declínio agudo nas suas vendas. Existem certas razões para que tal aconteça. Mas neste país os problemas ambientais não estão ligados apenas ao aquecimento global. Também se devem ao uso de combustível a gás, um grande número de automóveis nas grandes cidades exige-o e o uso de diferentes tipos de combustível, incluindo o carvão, no sector dos serviços públicos. Todas essas questões estão reflectidas no programa que elaboramos para melhorar a situação ambiental do país. Este é um dos problemas.

Ao mesmo tempo, gostaria de salientar que, à escala global, a estrutura da indústria energética russa é uma das mais "verdes" do mundo. A energia hidroeléctrica e a energia nuclear representam mais de um terço da nossa indústria de energia; o gás corresponde a mais de 50% e o gás é conhecido como o combustível mais ecológico de todos os hidrocarbonetos. E ainda somos um país rico em hidrocarbonetos. Esta é a nossa vantagem competitiva e devemos usá-la ao máximo.

Mas, é claro, não devemos desviar-nos da tendência principal, não devemos ignorar o que vai acontecer amanhã. Pelo contrário, devemos estar actualizados e lidar com fontes de energia alternativas modernas, incluindo a economia do hidrogénio. Estamos a fazê-lo.

Nos últimos anos, colocamos ao serviço 800 megawatts de fontes de energia renovável. Estamos a trabalhar neste sentido. Até 2024, planeamos disponibilizar entre 4,2 e 4,7 gigawatts de fontes alternativas de energia. Acabamos de assinar um acordo com a Fortum, os nossos parceiros finlandeses, sobre um excelente parque eólico. Também estamos a funcionar com a energia solar. De modo geral, acreditamos que essa tendência é absolutamente correcta e faremos tudo o que pudermos para concretizar os nossos planos de protecção ao meio ambiente.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

Email: [email protected]

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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