China e Rússia podem alijar Washington da Eurásia?

China e Rússia podem alijar Washington da Eurásia?
O futuro de uma aliança Pequim-Moscou-Berlin
5/10/2014, Pepe Escobar, TomDispatch - http://goo.gl/9B0zRq


Um espectro ronda o "Novo Século Americano", que envelhece rapidamente: a possibilidade de uma futura aliança estratégica Pequim-Moscou-Berlin, comercial e de negócios. Vamos chamá-la de PMB [ing. BMB, Beijing-Moscow-Berlin].

A possibilidade dessa aliança está sendo discutida seriamente nos mais altos níveis de governo em Pequim e Moscou, e é considerada com interesse em Berlin, New Delhi e Teerã. Mas não mencione esse assunto na Beltway de Washington ou no quartel-general da OTAN em Bruxelas. Ali, a estrela do show hoje e amanhã é o novo Osama bin Laden: o Califa Ibrahim, também conhecido como Abu Bakr al-Baghdadi, o elusivo, autoproclamado, degolador profeta de um novo miniestado e movimento que gerou festival de siglas - ISIS/ISIL/EI - entre os histéricos em Washington e por outros cantos.

Não importa quantas vezes Washington remixe sua GGaT (Guerra Global ao Terror), porém, as placas tectônicas da geopolítica eurasiana continuam a mover-se, e não pararão só porque elites norte-americanas recusam-se a aceitar que seu historicamente efêmero "momento unipolar" já se foi. Para aquelas elites, o fim da era da "dominação de pleno espectro", como o Pentágono gosta de dizer, é inconcebível. Afinal, a necessidade de a nação indispensável controlar todo o espaço - militar, econômico, cultural, ciber e sideral - é quase, ou praticamente, uma doutrina religiosa. Missionários excepcionalistas não produzem igualdade. No máximo, produzem "coalizões dos desejantes/dispostos", como a que martelaram com "mais de 40 países" para lutar contra ISIS/ISIL/EI e/ou aplaudir (e conspirar) das coxias ou despachar um ou dois aviões perdidos contra o Iraque ou a Síria.

A OTAN, a qual, diferente de alguns de seus membros, não combaterá oficialmente contra o Jihadistão, continua a ser, de alto a baixo, ferramenta controlada por Washington. Jamais considerou permitir que a Rússia "sinta-se" europeia. Quanto ao Califa, é só divertículo menor. Um cínico pós-moderno pode até argumentar que seria emissário enviado para o campo global de jogo por China e Rússia, para induzir a única superpotência do planeta a desviar os olhos da bola.

Dividir e isolar

Assim sendo, como se aplica a dominação de pleno espectro quando duas potências e reais concorrentes, Rússia e China, começam a fazer sentir sua presença? A abordagem de Washington contra cada uma delas - na Ucrânia e em águas asiáticas - pode ser dura: dividir e isolar.

Com o objetivo de manter o Oceano Pacífico como um clássico "lago norte-americano", o governo Obama anda a pivotear-se de volta para a Ásia já há vários anos. Envolveu só movimentos militares modestos, mas uma nada  modesta tentativa de jogar o nacionalismo chinês contra a variedade japonesa, ao mesmo tempo em que estreita alianças e relações por todo o sudeste da Ásia, com foco nas disputas por energia no Mar do Sul da China. Ao mesmo tempo, moveu-se para pôr em pé um futuro acordo comercial, a Parceria Trans-Pacífico (PTP).
Às margens ocidentais da Rússia, o governo Obama fez subir as chamas da mudança de regime em Kiev até obter fogo alto (soprado por líderes de torcida locais, a Polônia e as nações do Báltico) e o que, aos olhos da liderança russa e de Vladimir Putin, apareceu como ameaça existencial a Moscou. Diferente dos EUA, cuja esfera de influência (e bases militares) são globais, a Rússia não manteria qualquer influência significativa no exterior próximo; e Kiev não é, para a maioria dos russos, absolutamente, "exterior".

Quanto a Moscou, pareceu que Washington e seus aliados na OTAN estavam cada vez mais interessados em impor uma nova Cortina de Ferro sobre o país, do Báltico ao Mar Negro, com a Ucrânia sendo só a ponta da espada. No que tenha a ver com [a parceria] Pequim-Moscou-Berlin, pode-se pensar nisso tudo como uma tentativa de isolar a Rússia e impor uma nova barreira às relações com a Alemanha. O objetivo final seria rachar a Eurásia, prevenindo futuros movimentos em direção à integração de trocas e comércio por processo não controlado por Washington.

Do ponto de vista de Pequim, a crise na Ucrânia foi caso de Washington cruzar todas e quaisquer linhas vermelhas imagináveis, para provocar e isolar a Rússia. Para a liderança chinesa, tudo isso tem ares de tentativa planejada para desestabilizar a região, de modo favorável a interesses norte-americanos, apoiada por grande variedade de modalidades das elites de Washington, de neoconservadores a "liberais" da Guerra Fria e intervencionistas humanitários tipo Susan Rice e Samantha Power. Claro, se você está acompanhando a crise na Ucrânia a partir de Washington, essas ideias soam como pensamento de marciano. Mas o mundo tem aparências absolutamente diversas, se observado do coração da Eurásia, ou de Washington - especialmente se observado de uma China rampante estimulada pelo seu mais novo e recentemente conceitualizado "sonho chinês" (Zhongguo meng).

Nos termos em que foi exposto pelo presidente Xi Jinping, aquele sonho deve incluir uma futura rede de novas Rotas da Seda organizadas pelos chineses, que criarão o equivalente de um Expresso Trans-Asiático para o comércio na Eurásia. Assim, se Pequim, por exemplo, sente-se pressionada por Washington e Tóquio no front naval, parte da resposta é um avanço em pinça baseado no comércio pelo continente eurasiano, um braço da pinça pela Sibéria e o outro através dos '-stões' da Ásia Central.

Nesse sentido, embora você não tenha notícia disso se só acompanhou o mundo pela imprensa-empresa nos EUA ou pelos "debates" em Washington, nós estamos entrando, potencialmente, num novo mundo. Era uma vez, nem faz tanto tempo, a liderança em Pequim flertava com a ideia de reescrever o jogo geopolítico/econômico lado a lado com os EUA, enquanto a Moscou de Putin considerava a possibilidade de um dia unir-se à OTAN. Não mais. Tudo isso é passado. Hoje, a parte do ocidente na qual China e Rússia ainda estão interessadas é uma possível Alemanha futura, não mais dominada pelo poder dos EUA e pelos desejos de Washington.

Moscou, de fato, mantém nada menos que meio século de diálogo estratégico com Berlim, que incluiu cooperação industrial e crescente interdependência no campo da energia. Em vários contextos do Sul Global já se sabe disso, e a Alemanha começa a ser vista como "a sexta potência BRICS" (com Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

No tumulto das crises globais que vão da Síria à Ucrânia, os interesses geoestratégicos de Berlim parecem estar lentamente começando a divergir dos de Washington. Os industriais alemães, em particular, parecem ansiosos por começar a construir contatos comerciais ilimitados de negócios com Rússia e China. Esses contatos podem pôr a Alemanha numa trilha que a converterá em potência global não limitada nas fronteiras da União Europeia e, no longo prazo, sinalizam o fim da era em que a Alemanha, embora tratada com muita polidez, foi, na essência, satélite dos EUA.

Será estrada longa e sinuosa. O Bundestag, Parlamento alemão, ainda é viciado numa agenda fortemente atlanticista e em subserviência preventiva a Washington. Ainda há dezenas de milhares de soldados norte-americanos em solo alemão. Mesmo assim, pela primeira vez, a chanceler alemã Angela Merkel hesitou quando se tratou de impor sanções cada vez mais violentas contra a Rússia, por causa da situação na Ucrânia, porque nada menos que 300 mil empregos alemães depende de relações com a Rússia. Lideranças empresariais, industriais e o establishment financeiro já soaram o alarme, temendo que aquelas sanções sejam totalmente contraproducentes.

O banquete chinês na Rota da Seda

O novo jogo de poder geopolítico da China na Eurásia tem raros paralelos na história moderna. Já longe vão os dias em que o "Pequeno Timoneiro" Deng Xiaoping insistia que o país mantivesse "perfil discreto" no cenário global. Claro, há discordâncias e estratégias conflitantes na administração de pontos quentes do país: Taiwan, Hong Kong, Tibet, Xinjiang, o Mar do Sul da China, os competidores Índia e Japão, e aliados problemáticos como Coreia do Norte e Paquistão. E agitação popular em algumas "periferias" dominadas por Pequim já começa a atingir níveis incendiários.

A prioridade número 1 do país ainda é doméstica e focada em levar adiante as reformas econômicas do presidente Xi, ao mesmo tempo em que aumenta a "transparência" e combate a corrupção dentro do Partido Comunista governante. Num distante segundo lugar aparece a questão de como progressivamente fazer frente aos planos do "pivô" do Pentágono para a região - mediante a construção de uma Marinha para águas profundas, submarinos nucleares e força aérea tecnologicamente avançada - sem ser tão assertiva a ponto de fazer enlouquecer com alguma "ameaça chinesa" o establishment  de Washington obcecado com a China.

Enquanto isso, com a Marinha dos EUA controlando todos os mares globais por todo o futuro previsível, o planejamento daquelas Rotas da Seda pela Eurásia avança lentamente. O resultado final deverá comprovar o triunfo de uma infraestrutura integrada - estradas, ferrovias de alta velocidade, óleo-gasodutos, portos - que conectará a China à Europa Ocidental e ao Mar Mediterrâneo, o velho Mare Nostrum romano imperial, por todas as vias imagináveis.

Em jornada de estilo Marco Polo invertida, remixada para o mundo Google, um ramo chave da Rota da Seda irá da antiga capital imperial Xian até Urumqi na Província Xinjiang; dali, pela Ásia Central, Irã, Iraque e a Anatolia na Turquia, até Veneza. Outro ramo será uma Rota da Seda marítima, que começará na província Fujian, passará pelo Estreito de Malaca, Oceano Índico, Nairobi no Quênia, e finalmente direto pela o Mediterrâneo pelo canal de Suez. Considerado o conjunto, é o que Pequim chama de Cinturão Econômico Rota da Seda.

A estratégia da China é criar uma rede de interconexões entre nada menos que cinco regiões chaves: Rússia (a ponte chave entre Ásia e Europa), os '-stões' da Ásia Central, o Sudoeste Asiático (com papeis importantes para Irã, Iraque, Síria, Arábia Saudita e Turquia), o Cáucaso, e a Europa Oriental (incluindo Bielorrússia, Moldávia e, dependendo da estabilidade por ali, a Ucrânia). E sem esquecer Afeganistão, Paquistão e Índia, que podem ser pensados como uma Rota da Seda extra.

Essa Rota da Seda extra envolveria conectar o corredor econômico de Bangladesh-China-Índia-Myanmar ao corredor econômico de China-Paquistão, e pode oferecer a Pequim acesso privilegiado ao Oceano Índico. Também nesse caso, um pacote total - rodovias, ferrovias de alta velocidade e redes de fibras óticas - conectarão a região à China.

O próprio Xi expôs a conexão Índia-China num único pacote de imagens em coluna que publicou no Hindu pouco antes de sua recente visita a New Delhi. "A combinação da "fábrica do mundo" com o "escritório do mundo", escreveu ele, produzirá a base produtiva mais competitiva e o mais atraente mercado consumidor."

O nodo central do elaborado planejamento chinês para o futuro eurasiano é Urumqi, capital da província Xinjiang e local da maior feira comercial da Ásia Central, a China-Eurasia Fair. Desde 2000, uma das principais prioridades de Pequim tem sido urbanizar aquela província em boa parte ainda deserta, mas rica em petróleo, e industrializá-la, custe o que custar. E o que custa, como Pequim vê a coisa, é a sinicização linha-dura da região - que tem como corolário a supressão de qualquer possibilidade de dissidência pela etnia uigur. O general do Exército de Libertação do Povo, Li Yazhou, nesses termos, descreveu a Ásia Central como "a mais sutil fatia de bolo que os céus deram à China moderna."

Grande parte da visão chinesa de uma nova Eurásia conectada a Pequim por todas as formas de transporte e comunicações está vivamente detalhada em "Marching Westwards: The Rebalancing of China's Geostrategy," ensaio e divisor de águas, de 2012, publicado pelo professor Wang Jisi do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos na Universidade de Pequim. Como resposta a esse futuro conjunto de conexões eurasianas, o melhor que o governo Obama conseguiu é uma versão da contenção naval, do Oceano Índico ao Mar do Sul da China, ao mesmo tempo em que vai operando para tornar mais agudos os conflitos e afiando alianças estratégicas em torno da China, do Japão à Índia. (E à OTAN, claro, coube a tarefa de conter a Rússia na Europa Oriental.)

Uma Cortina de Ferro vs. as Rotas da Seda

O "negócio do século, de gás" de $400 bilhões, assinado por Putin e pelo presidente da China em maio passado, lançou a pedra fundamental para a construção do óleogasoduto Poder da Sibéria, que já está sendo construído em Yakutsk. Levará cataratas de gás natural russo para o mercado chinês. Representa claramente só o começo de uma aliança estratégica superturbinada, baseada em energia, entre os dois países. Enquanto isso, empresários e industriais alemães observam o surgimento de outra realidade: assim como o mercado final para os produtos made-in-China que viajarão pelas futuras Rotas da Seda será a Europa, o contrário também se aplica. Num possível futuro comercial, a China está destinada a tornar-se a principal parceira comercial da Alemanha, já em 2018, aparecendo à frente de EUA e França.

Uma barreira potencial ante tais desenvolvimentos, considerada bem-vinda em Washington, é a Guerra Fria 2.0, que já está fazendo rachar, não a OTAN, mas a União Europeia. Na União Europeia desse momento, o campo anti-Rússia inclui Grã-Bretanha, Suécia, Polônia, Romênia e países bálticos. Itália e Hungria, por outro lado, podem ser contadas no campo pró-Rússia; e uma ainda imprevisível Alemanha é a chave para o que o futuro ainda esconde: ou uma nova Cortina de Ferro ou uma concepção geral de "Marcha para o Leste". Para tudo isso, a Ucrânia ainda é a chave. Se for satisfatoriamente finlandizada (com autonomia significativa para suas regiões), como Moscou vem propondo - e sugestão que é anátema em Washington - a via para a Marcha para o Leste permanecerá aberta. Se não, uma futura parceria Pequim-Moscou-Berlim será uma melhor proposta.

Deve-se observar que há também no horizonte uma outra visão do futuro econômico da Eurásia. Washington está tentando impor à Europa uma Parceria Trans-Atlântica de Comércio e Investimento [orig. Transatlantic Trade and Investment Partnership (TTIP)], e Parceria Trans-Pacífico [Trans-Pacific Partnership (TPP)] à Ásia. Ambas favorecem a globalização de corporações norte-americanas, e o objetivo delas é, visivelmente, impedir a ascensão das economias dos países BRICS e o surgimento de outros mercados emergentes, ao mesmo tempo em que solidificam a hegemonia econômica global dos EUA.

Dois fatos notáveis, cuidadosamente anotados em Moscou, Pequim e Berlin, sugerem a existência de uma geopolítica linha duríssima por trás desses dois pactos 'comerciais': a  PTP exclui a China; e a TTIP exclui a Rússia. Aí estão os alicerces, apenas superficialmente disfarçados, de uma futura guerra comercial/monetária. Em minhas viagens recentes, tenho ouvido produtores de produtos agrícolas de alta qualidade na Espanha, Itália e França sempre a repetir que a TTIP nada é além de uma versão econômica da OTAN, a aliança militar que Xi Jinping da China chama, talvez com mais desejo que objetividade, de "uma estrutura obsoleta".

Há resistência significativa contra a TTIP entre muitas nações europeias (especialmente nos países 'Club Med' do sul da Europa), assim como há resistência também contra a PTP entre nações asiáticas (especialmente Japão e Malásia). Isso dá a chineses e russos esperanças para as suas Rotas da Seda e um novo estilo de comerciar através do coração da Eurásia, com o respaldo de uma União Eurasiana apoiada pela Rússia. Figuras chaves dos círculos empresariais e industriais alemães, para os quais as relações com a Rússia permanecem essenciais, prestam hoje atenção máxima a esses movimentos.

Afinal de contas, Berlin não tem mostrado muita preocupação pelo que resta da União Europeia acicatada por crises sem fim (três recessões em cinco anos). Por artes de uma troika muito desmoralizada - o Banco Central Europeu, o Fundo Monetário Internacional e a Comissão Europeia -, Berlin já está, para todas as finalidades práticas, no timão da Europa, de olhos postos no leste e querendo mais.

Há três meses, a chanceler alemã Angela Merkel visitou Pequim. A visita, praticamente ausente do noticiário, foi a acelerada política para projeto monumental: uma conexão de trem de alta velocidade sem interrupção que ligará Pequim e Berlin. Quando estiver pronta, será como um ímã para transporte e negócios para dúzias de nações ao longo do percurso da Ásia à Europa. Passando por Moscou, pode vir a ser o mais perfeito elo de integração da Rota da Seda com a Europa e, talvez, o mais perfeito pesadelo para Washington.

"Perder" a Rússia

Objeto de intensa atenção midiática, a recente cúpula da OTAN em Gales gerou apenas uma modesta "força de reação rápida" a ser deslocada para futura situações semelhantes à da Ucrânia. Ao mesmo tempo, a sempre crescente Organização de Cooperação de Xangai [ing. Shanghai Cooperation Organization (SCO), possível contraparte asiática da OTAN, reunia-se em Dushanbe, Tadjiquistão. Em Washington e na Europa Ocidental a reunião passou quase totalmente sem qualquer notícia. Bem faria a mídia ocidental se desse melhor atenção àquela reunião. Ali, China, Rússia e quatro '-stões' da Ásia Central concordaram com a incorporação à SCO de um conjunto impressionante de novos membros: Índia, Paquistão e Irã. O fato pode ter implicações de longo alcance. Afinal, a Índia, no governo do primeiro-ministro Narendra Modi, está à beira de uma versão indiana da mania da Rota da Seda. Por trás de tudo isso está a possibilidade de uma reaproximação econômica, uma "Chíndia", que pode alterar o mapa geopolítico da Eurásia. Ao mesmo tempo, o Irã também está sendo integrado, como continuação dessa "Chíndia".

Vê-se assim que a Organização de Cooperação de Xangai vai lenta mas firmemente sendo modelada como a mais importante organização internacional na Ásia. Já é claro que um de seus objetivos de longo prazo será pôr fim ao comércio em dólares norte-americanos, e fazer avançar o uso dos petroyuan e petrorrublos no comércio de energia. Os EUA, claro, jamais serão bem-vindos à OCX.

Mas tudo isso é para o futuro. No presente, o Kremlin continua a sinalizar que mais uma vez deseja iniciar conversações com Washington; e Pequim jamais desejou suspendê-las. Mas o governo Obama permanece míope, fechado em sua própria versão de jogo de soma-zero, confiando no próprio poder tecnológico e militar, para manter uma posição vantajosa na Eurásia. Mas Pequim tem acesso aos mercados e a grandes quantidades de dinheiro; e Moscou tem grandes quantidades de energia. Uma cooperação triangular entre Washington, Pequim e Moscou seria, sem dúvida, como diriam os chineses, jogo de ganha-ganha-ganha. Mas que ninguém conte com isso.

Em vez disso o que se deve esperar é que China e Rússia aprofundem sua parceria estratégica, ao mesmo tempo em que estimulam outras potências regionais eurasianas. Pequim tem apostado tudo em que a confrontação EUA-OTAN contra a Rússia, por causa da Ucrânia fará com que Vladimir Putin vire-se para o leste. Ao mesmo tempo, Moscou vai calibrando muito cuidadosamente o significado da atual reorientação na direção de uma usina econômica de tal porte. Algum dia, quem sabe, vozes de sanidade em Washington pôr-se-ão a conjecturar em voz alta sobre como os EUA "perderam" a Rússia para a China.

Enquanto isso, pensem na China como um ímã para uma nova ordem mundial num futuro século eurasiano. O mesmo processo de integração pelo qual passa a Rússia hoje, por exemplo, parece cada vez mais se aplicar também à Índia e a outras nações eurasianas, e possivelmente, mais cedo ou mais tarde, também a uma Alemanha neutra. No final desse processo, os EUA podem bem facilmente se ver progressivamente alijados da Eurásia, com essa aliança Pequim-Moscou-Berlim revelada como o fator que virou o jogo. Façam suas apostas. Lá por 2015 conheceremos o cavalo vencedor. *****

 

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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